Objecto romano encontrado em Inglaterra intriga arqueólogos
O dodecaedro descoberto no ano passado em Inglaterra é, como os outros 130 que já se conheciam em todo o mundo romano, um mistério. Os arqueólogos não conseguiram ainda determinar para que serviam.
É um objecto oco de 12 lados, do tamanho de um punho humano e feito de uma liga metálica. Em cada uma das suas faces pentagonais há um buraco circular, cujo tamanho pode variar de lado para lado. É esta a descrição que o Portable Antiquities Scheme, projecto associado ao Museu Britânico que regista achados pequenos de interesse arqueológico no Reino Unido, faz dos dodecaedros romanos. E por que razão falamos agora de sólidos milenares com uma aparência algo insólita?
O exemplar que foi descoberto no Verão do ano passado em Norton Disney, uma pequena vila na Inglaterra, é um dos maiores dos cerca de 130 que se conhecem em todo o mundo romano e está exposto no Museu de Lincoln, em Lincolnshire, até Setembro. Com cerca de oito centímetros de altura e 254 gramas, faz parte de um leque de 33 encontrados só na Grã-Bretanha.
Tal como este descoberto em 2023 pelo Grupo de História e Arqueologia de Norton Disney, composto por amadores, os restantes dodecaedros continuam a constituir um dos enigmas da arqueologia.
Segundo uma declaração divulgada no site do grupo, o aspecto diferenciador do dodecaedro de Norton Disney relativamente aos exemplares anteriormente encontrados reside no seu estado de conversação: “O dodecaedro de Norton Disney é o único exemplar encontrado nas Midlands [Inglaterra central] e é particularmente bom. Está bem fundido, completo e em excelentes condições. É um exemplo de trabalho artesanal muito sofisticado, com um acabamento de alto nível.”
Este grupo de entusiastas da arqueologia sublinha ainda o interesse da descoberta com o facto de o objecto ter sido identificado sem que tivesse perdido o seu contexto: “É um achado importante porque foi encontrado in situ.” Estes voluntários acreditam que o dodecaedro foi deliberadamente colocado junto a um conjunto de cerâmicas romanas numa pequena cova de uma pedreira há cerca de 1700 anos, mas esta é, para já, apenas uma suposição. O que já é certa é a composição da liga metálica de que é feito, com estanho, chumbo e mais de 60% de cobre.
Geralmente, os dodecaedros romanos são encontrados por amadores com recurso a detectores de metais e mais tarde entregues a especialistas e instituições, já longe da área onde foram localizados, o que dificulta o seu estudo.
Em declarações à BBC, Richard Parker, secretário do Grupo de História e Arqueologia de Norton Disney, confessou que, “apesar de toda a pesquisa”, não estão perto de descobrir exactamente o que é e para o que poderia ter sido utilizado.
Para o grupo de voluntários, o mais plausível é o dodecaedro ter fins rituais e religiosos: “Não têm um tamanho-padrão, por isso não são objectos de medição. Não mostram sinais de desgaste, por isso não são uma ferramenta. Também não são objectos para tricotar. Foi necessária uma enorme quantidade de tempo, energia e habilidade para criar o dodecaedro, por isso não foi usado para fins mundanos, especialmente quando há materiais alternativos disponíveis que serviriam para os mesmos propósitos. O uso mais provável é para fins rituais e religiosos”, escrevem no seu site.
Ainda assim, o enigma persiste. Não estão, de todo, afastadas as possibilidades de os dodecaedros serem castiçais, instrumentos de topografia ou até dados poligonais.
O regresso à escavação no próximo Verão já foi autorizado. O objectivo passa agora por encontrar mais informações que permitam esclarecer as circunstâncias em que o objecto foi deixado.
Texto editado por Lucinda Canelas