Museu de Chicago adquire novo exemplar do famoso Archaeopteryx

Conhecem-se só 13 exemplares do Archaeopteryx, ave que viveu há 150 milhões de anos. O Museu Field, em Chicago, comprou um dos exemplares deste fóssil que ajuda a contar a história evolutiva das aves.

aves,museus,ciencia,paleontologia-,geologia,biologia,
Fotogaleria
Pormenor das garras do Archaeopteryx visto através de radiação ultravioleta Museu Field
aves,museus,ciencia,paleontologia-,geologia,biologia,
Fotogaleria
O fóssil de Archaeopteryx comprado pelo museu de Chicago Museu Field
Ouça este artigo
00:00
04:19

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Um fóssil primorosamente preservado da ave mais antiga conhecida, o Archaeopteryx, um espécime do tamanho de um pombo que revela novos detalhes anatómicos de uma criatura cuja descoberta no século XIX deu apoio às ideias de Charles Darwin sobre a evolução, foi adquirido pelo Museu Field em Chicago e será exposto ao público.

O Museu Field anunciou esta segunda-feira a aquisição do fóssil, que tinha estado nas mãos de uma série de coleccionadores privados desde que foi desenterrado no Sul da Alemanha, antes de 1990. O crânio, a coluna vertebral e os tecidos moles são os mais bem conservados dos 13 espécimes de Archaeopteryx conhecidos, afirmou o museu.

“A maioria dos espécimes anteriores estão incompletos, preparados de forma grosseira e/ou esmagados, o que limita os dados que podem fornecer”, disse Jingmai O’Connor, paleontóloga do museu​​. “O espécime de Chicago preserva tecidos moles nunca antes vistos em qualquer outro espécime, bem como novas informações sobre o esqueleto que nos ajudam a compreender melhor como esta ave viveu e a sua relação exacta com os dinossauros não-aviários.”

Foto
Pormenor da asa do fóssil do Archaeopteryx comprado pelo museu norte-americano Museu Field

O Archaeopteryx viveu há cerca de 150 milhões de anos, durante o período Jurássico. As aves evoluíram a partir de pequenos dinossauros com penas, e fazem parte da linhagem dos dinossauros –​ na verdade, são os únicos sobreviventes dessa linhagem a uma extinção em massa há 66 milhões de anos, causada por um asteróide que atingiu a Terra. O Archaeopteryx ostentava características de réptil, como dentes, uma cauda longa e óssea e garras nas mãos, ao lado de características de ave, como asas formadas por penas grandes e assimétricas.

O fóssil está quase completo, faltando apenas a ponta de um dedo, disse Jingmai O’Connor. As impressões fossilizadas das penas são extensas, revelando características nas penas das asas que não ficaram preservadas nos outros exemplares, acrescentou.

O fóssil possui a única coluna vertebral completa do Archaeopteryx –​ incluindo duas pequenas vértebras na ponta da cauda, mostrando que ele tinha 24 vértebras, uma a mais do que se pensava anteriormente, disse ainda a paleontóloga. Outra característica única que apresenta são as escamas na parte inferior das patas do Archaeopteryx, acrescentou.

Permanece numa laje de calcário devido à fragilidade dos ossos e de outras características. Depois de ter sido entregue em Chicago, em Agosto de 2022, as preparadoras de fósseis do museu, Akiko Shinya e Connie van Beek, passaram mais de 1400 horas a utilizar minúsculas brocas para remover a rocha e expor os ossos e outras características.

O maior exemplar de Archaeopteryx é do tamanho de um corvo. O exemplar do Museu Field está empatado com o mais pequeno, em termos de tamanho.

Alemanha proibe venda de Archaeopteryx desde 2015

“O Archaeopteryx viveu num arquipélago árido, com pouca vegetação e atingido por tempestades sazonais. Parece ter-se adaptado para a vida no solo, como muitas aves actuais, e nós pomos a hipótese de que era capaz apenas de pequenos voos de rompante e talvez de planar a partir das árvores”, disse ainda a paleontóloga.

Em 1859, Charles Darwin publicou a sua teoria da evolução por selecção natural. Partindo da noção de que os organismos podem mudar ao longo do tempo, o naturalista britânico propôs que as novas espécies surgiam a partir de espécies anteriores e que as espécies mais bem adaptadas ao seu ambiente tinham mais probabilidades de sobreviver e de transmitir os genes que estão na base do seu sucesso.

A “​objecção mais grave” à sua teoria, observou Darwin, era a falta, na altura, de fósseis de formas de transição. A descoberta, em 1861, na Baviera, do Archaeopteryx, que combinava características de répteis e de aves, veio corroborar a teoria de Darwin.

“O fóssil deste táxon mostrou-nos que as aves são dinossauros, ajudou a provar a selecção natural como um mecanismo para a evolução e continua a ser, após mais de 160 anos, uma das espécies fósseis mais investigadas e importantes de todos os tempos”, realçou Jingmai O’Connor.

O museu que já abriga o esqueleto de Sue, talvez o maior e mais bem preservado Tyrannosaurus rex – não revelou o preço pago pelo fóssil de Archaeopteryx. A partir desta terça-feira, ficará em exposição durante cerca de um mês, regressando mais tarde numa exposição permanente.

Uma lei alemã de 2015 exige que os fósseis de Archaeopteryx recém-descobertos fiquem na Alemanha. Este espécime foi vendido fora da Alemanha em 1990, o que significa que já estava fora do país antes da aprovação da lei, esclareceu o Museu Field.

Sugerir correcção
Comentar