BE, IL e PCP atacam PS e PSD por recusarem debates. Pedro Nuno diz que são “um excesso”

Os dois maiores partidos recusaram participar em debates televisivos entre os cabeças de lista às eleições de 9 de Junho alegando que seriam demasiados e afectariam a campanha.

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A ex-líder do Bloco é agora candidata a um lugar no Parlamento Europeu. Em 2019, o partido elegeu dois eurodeputados. Nuno Ferreira Santos
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A cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, Catarina Martins, e o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, atacaram neste sábado o PS e a AD - Aliança Democrática por recusarem o modelo de debates televisivos proposto para a campanha eleitoral das europeias com todos os partidos concorrentes com assento parlamentar. Seriam, no total, 28 duelos frente-a-frente. De esferas políticas opostas, os dois políticos convergiram na acusação de que os dois maiores partidos estão a querer "esconder" os seus candidatos.

No final da reunião da comissão nacional do PS que decorreu ao fim da manhã em Lisboa, o líder socialista defendeu-se alegando que o partido quer fazer a campanha "com as pessoas, na rua, e não passar o tempo em comentários e debates". "Temos menos tempo nesta campanha [do que nas legislativas], queremos correr o país todo." Argumentando que os duelos televisivos já foram "um excesso" nas legislativas, que "não são momentos de esclarecimento" e que os partidos não devem "fechar as campanhas nas televisões", Pedro Nuno Santos garantiu que o PS está "disponível para fazer debates com todos" - mas não os duelos.

"Soubemos ontem [sexta-feira] que o PSD e o PS estão a tentar impedir que se façam debates para as eleições europeias com a participação de todos os partidos. Eu diria que é um ataque à democracia", afirmou Rui Rocha aos jornalistas à margem de uma visita à feira agro-pecuária Ovibeja. Os dois partidos "não querem que os portugueses tenham o conhecimento necessário" sobre os candidatos e as propostas das restantes forças políticas, apontou.

"Ninguém acredita que não se fazem os debates porque isso prejudica a campanha de rua", salientou Rui Rocha, contrapondo que "os debates são muito importantes, chegam a muitas centenas de milhares de pessoas e esclarecem os portugueses". O presidente da IL afirmou ainda que o Chega "certamente reclamará sobre esta questão, mas tem interesse em que o seu candidato fique escondido, porque tem simpatia pelo regime de Putin e pelo regime da Rússia".

Em Lisboa, Catarina Martins iniciou a sua intervenção no encontro "Segurança Social e pensões" abordando este tema, indicando que alterou a sua agenda para conseguir estar nos frente-a-frente televisivos. "Soubemos ontem [sexta-feira] à noite que PSD e PS afinal não querem fazer debates entre cabeças de lista às europeias. Não deixo de registar que quem diz tantas vezes que é preciso combater a abstenção, quem diz tantas vezes que a política europeia é muito importante, quando chega ao momento de debater, acha melhor não debater", afirmou.

Sete debates por cada cabeça de lista

A antiga líder do BE acusou estes dois partidos de terem apresentado "argumentos ridículos" como o número de debates, defendendo que participar em "sete debates em 30 dias está seguramente à altura de qualquer pessoa que leva as eleições e a democracia a sério".

Já em declarações à Lusa e à RTP depois da abertura do encontro, a cabeça de lista do BE considerou que não haver debates "é absolutamente inaceitável" e que este formato permite "que as várias propostas estejam em confronto". "O Bloco Esquerda já aceitou a proposta de haver debates entre todos os cabeças de lista. Achamos é que tem mesmo de haver debates entre todos os cabeças de lista, porque frente a frente é que se trocam ideias", defendeu Catarina Martins.

Apontando que "não é a primeira vez que há frente-a-frente entre os vários cabeças de lista, porque quando não houve acordo entre todas as televisões, a RTP já fazia isso", a candidata considerou que "a novidade será se não houver desta vez" esses debates a dois. "Seria absolutamente inaceitável. Espero uma nova proposta, mas parece-me que a que existia é a possível e é a que cumpre com a democracia", salientou.

"Percebo que Sebastião Bugalho esteja mais habituado a dar notas aos debates dos outros do que a debater e a ter de mostrar as suas próprias ideias; que Marta Temido lhe faça o frete, acho absolutamente inaceitável", criticou, sugerindo que talvez PS e PSD "prefiram até que não haja campanha para as europeias".

Catarina Martins afirmou que "a direita foi buscar um candidato que é comentador, mas que, na verdade, nunca teve que estar a defender ideias com contraditório" e indicou que "defender ideias com contraditório é difícil, mas é assim mesmo que é a democracia".

Fugir ao escrutínio

De acordo com o jornal Expresso, o PS e a Aliança Democrática (AD) recusaram o modelo de debates proposto pela RTP, TVI e SIC para as eleições europeias de 9 de Junho, no qual estavam previstos 28 frente-a-frente entre os cabeças de lista dos partidos com representação na Assembleia da República. Estas forças políticas alegaram tratar-se de um número elevado de duelos, que afectaria a campanha eleitoral, e admitiram aceitar um calendário mais leve.

O cabeça de lista do PCP, João Oliveira, acusou também o PS e a AD de não quererem “confrontar-se com o escrutínio” nos debates televisivos, defendendo que a recusa prejudica a mobilização do eleitorado às urnas. O ex-líder parlamentar comunista afirmou ter visto “com alguma surpresa, mas com pouca estranheza” a recusa do PS e da AD em participarem no modelo proposto pelas televisões.

“Julgo que esta tentativa de recusar debates e o confronto com os seus adversários políticos tem verdadeiramente por trás a dificuldade ou incapacidade de se confrontarem com as responsabilidades que têm assumido no Parlamento Europeu ao longo dos anos”, considerou. Por isso, não querem “deixar às claras” as suas posições para que “as pessoas não censurem os prejuízos que resultarão para as suas vidas e para o futuro do país”.

Ainda assim, o cabeça de lista do PCP espera que os dois partidos mudem de posição e que permitam o “confronto de posições, propostas e visões sobre o futuro do país, que está em causa nestas eleições ao Parlamento Europeu”.

Defendendo que o contacto directo com o eleitorado e a mobilização nas ruas têm “um papel preponderante” para as forças políticas, João Oliveira disse, no entanto, não poder ignorar “o contributo” dos debates televisivos para a clarificação de posições de cada partido. “Não absolutizando a forma de fazer campanha apenas nos debates televisivos, não menosprezamos o contributo que esses debates podem dar para o esclarecimento e clarificação”, referiu.