Com o aumento das mortes relacionadas com o calor, o asfalto das estradas a derreter e as pessoas desesperadas a juntarem-se nas mesquitas para rezarem pelo fim da mortífera onda de calor que assola o Bangladesh, o apelo foi lançado do ciberespaço: plantem mais árvores.
A pior vaga de calor das últimas sete décadas é particularmente insuportável na capital, Daca, com temperaturas que atingem os 43 graus Celsius numa cidade sobrelotada que tem vindo a ser progressivamente despojada das árvores, lagos e lagoas que outrora ofereciam alívio e abrigo aos seus habitantes.
Agora, os influenciadores das redes sociais estão a exortar os seus seguidores a plantar árvores, numa tentativa de tornar a cidade e o país mais habitáveis durante as ondas de calor, que, segundo os cientistas, estão a tornar-se mais frequentes, mais graves e mais longas devido às alterações climáticas.
No final de Abril, Peya Jannatul, modelo, actriz e advogada, pediu aos seus 1,6 milhões de seguidores no Facebook que plantassem dez árvores cada um. Em 21 de Abril, um grupo de estudantes ligado ao partido no poder, a Liga Awami, lançou uma campanha para plantar 500.000 árvores em apenas dez dias, enquanto um clérigo popular instou os seus 4,3 milhões de seguidores no Facebook a doarem dinheiro para plantar 300.000 árvores.
A Green Savers, que permite que as pessoas patrocinem a plantação de árvores em 22 distritos, está a ajudar a traduzir os apelos à plantação de árvores em acções. "Estamos a assistir a um aumento do interesse pelo nosso programa de apadrinhamento de árvores", afirmou Ahsan Rony, director executivo da Green Savers, que também dá formação a jardineiros.
Um patrocinador doa menos de dois dólares para plantar uma árvore em casa de uma família pobre e pode depois acompanhar digitalmente a árvore e ver como a família anfitriã está a beneficiar. Desde 2012, foram plantadas em todo o país 66.000 árvores no âmbito desse programa, disse Rony.
O fotógrafo Mahmud Rahman aproveitou as redes sociais para encorajar outras pessoas a ajudá-lo a transformar um espaço cheio de lixo perto da sua casa, junto ao lago Gulshan, em Daca, num oásis verdejante com flores coloridas. Através da sua página no Facebook, Rahman incentiva outros residentes e visitantes a oferecerem-se como voluntários para ajudar a plantar 50 a 60 variedades de plantas e ervas ao longo do quilómetro de extensão do lago Gulshan-2.
Treena Bishop, uma cidadã americana que vive no bairro, foi uma das voluntárias. "Este é um excelente exemplo de como a comunidade está a contribuir para a plantação de árvores em Daca... e espero que todos saibam como funciona para que o possam seguir", afirmou.
A árvore certa na altura certa
A vaga de calor que assola o Bangladesh está a ter consequências graves em toda a região: dezenas de pessoas morreram em vários países, as escolas foram encerradas e as autoridades alertam para os incêndios florestais, a insolação e a desidratação.
A Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas afirmou este mês que a Ásia está a aquecer mais rapidamente do que a média global e que, no ano passado, foi a região mais atingida por catástrofes relacionadas com o clima.
As árvores podem ajudar a atenuar as ondas de calor, arrefecendo as cidades, mas Daca está mal preparada. O crescimento rápido e não planeado dos migrantes que afluíram à cidade, por vezes para escapar aos efeitos das alterações climáticas ao longo da costa e dos rios, levou ao abate de árvores para dar lugar a edifícios de betão e outros empreendimentos. E os activistas ambientais avisam que plantar novas árvores, especialmente no calor abrasador do Verão, nem sempre é a melhor resposta nesta megacidade de 23 milhões de pessoas.
"Não tem sentido plantar novos pés todos os anos se não pudermos proteger as árvores maduras com grandes copas que dão sombra e abrigo não só às pessoas atingidas pelo calor, mas também aos pássaros, animais e insectos da cidade", disse Amirul Rajiv, um fotógrafo e activista que organizou um movimento no ano passado para proteger centenas de árvores no bairro de Dhanmondi.
É também importante escolher as árvores correctas, disse Mohammad Zashim Uddin, professor de Botânica na Universidade de Daca, referindo que as árvores não-nativas, como o eucalipto ou a acácia, podem prejudicar a biodiversidade local.
As autoridades municipais apresentaram planos que regem a utilização dos solos até 2035, incluindo propostas para 55 novos parques em torno de massas de água e 14 parques ecológicos para proteger a biodiversidade.
Os peritos em matéria de ambiente consideram que as autoridades deveriam recorrer aos conhecimentos de especialistas para elaborar uma abordagem coordenada. "Precisamos de ter objectivos anuais claros (dizendo) em que percentagem podemos aumentar o espaço verde em Daca e com que árvores", disse o professor Uddin.
Imran Hosen, investigador de pós-doutoramento na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, disse que o Governo deveria utilizar a gestão da água para arrefecer a cidade, enquanto as pessoas também poderiam desempenhar o seu papel criando jardins nos telhados ou instalando jardins verticais em edifícios altos. "Plantar árvores para arrefecer as cidades é senso comum, mas é preciso combiná-lo com muitos outros factores – e precisamos de estudos mais aprofundados para planear as melhores acções", disse.