Cartas ao director

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História “à la carte

O debate sobre reparações históricas tem sido frequente na Europa, com vários países ex-colonizadores (França, Alemanha, Bélgica e Holanda) a adoptar medidas que incluem o reconhecimento oficial de danos, a restituição de obras de arte, a facilitação de vistos e o apoio ao desenvolvimento. No caso português, importa saber se tais reparações são devidas e realizáveis e, se sim, se já estão em curso.

Não sei responder à questão, mas não me faz sentido condicionar a nossa responsabilidade à que outros povos tenham perante nós, como os franceses pelas suas invasões no século XIX, ou os celtas, romanos, suevos, visigodos e mouros por terem habitado este território séculos antes de Portugal existir (e quem os representaria actualmente?). Também não é justificável negar o dever de Portugal reparar possíveis danos a outros, alegando que não foram causados no século XXI. Não podemos orgulhosamente celebrar feitos, heróis e relíquias do passado, relegando injustiças e atrocidades para o "contexto da época". A História não é um menu à la carte.

Tomás Júdice, Lisboa

As prisões de Nuno Melo

Que os quartéis foram uma “prisão”, sabemo-lo nós, os que cumpriram serviço militar antes de Abril de 74… Passados 50 anos da “Data de Liberdade”, julgaríamos que ser militar seria, sobretudo, cumprir o dever de manutenção da paz, a integridade territorial e assegurar as missões internacionais a que o país está obrigado pelos convénios internacionais efectuados.

Ficamos, pois, estupefactos com a afirmação do ministro da Defesa, Nuno Melo, ao defender a integração nas Forças Armadas de jovens condenados a pena de prisão por pequenos delitos comuns. Não pode ser verdade que um ministro do Portugal democrático deseje ver aprisionados jovens em quartéis. O bom senso diz-nos que a dignificação das Forças Armadas passa pelo apreço que os Governos dão à seriedade das suas funções, e que depois de Abril incluiria a promoção de acções de cidadania no próprio país – uma pecha na organização actual…

Será este o modelo de “prisão” regenerativa que o ministro da Defesa pretende para esses jovens que “tombaram no combate” da vida, sabe-se lá por responsabilidade de quem?

Mário Pereira, Esposende

Dar tempo ao tempo?

Li no PÚBLICO um artigo de Ana Catarina Mendes intitulado "AIMA. Dar tempo ao tempo". É uma tentativa de justificação da extinção do SEF, decisão do Governo socialista que gerou o descalabro, nos últimos anos, no processo de regularização dos imigrantes em Portugal. "Dar tempo ao tempo", diz a autora. Que desfaçatez! Parece que ignora que milhares de imigrantes aguardam há demasiado tempo a normalização da sua situação em Portugal. Na perspectiva do que escreve, terão ainda de esperar mais tempo até que "a instalação da AIMA se complete" e se testem "convenientemente" as soluções que tem para dar. Acha a ex-ministra que o que diz conforta aqueles que, segundo as últimas notícias, mostram desespero por ver os dias passar e não conseguem ter acesso aos serviços?

Fernando Lima, Lisboa

A internacionalização da SCML

O que diria a rainha D. Leonor sobre a situação económica e financeira da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML)? Fundada como instituição laica pela monarca em 1498, a SCML destinava-se a dar a mão a deserdados, doentes, cadastrados e até a artistas. A SCML faz lembrar os clubes de futebol de topo. Com tantas receitas, o que faz ao dinheiro? Vai haver responsáveis sobre os investimentos referentes à internacionalização da SCML? Não ser obrigada a comunicar à tutela os investimentos internacionais não quer dizer que a tutela não se informe. “O planeamento de estratégias de vendas e o acompanhamento de resultados obtidos” não podem significar a ameaça de retirada da licença para jogos sociais se o agente não atingir certos objectivos. Os agentes vão obrigar os clientes a jogar?

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

PÚBLICO Errou

Na coluna de opinião “No grau zero da política”, publicada na edição de ontem, referia-se que o custo da abolição do pagamento de portagens nas antigas Scut proposta pelo PS ascenderia a 1000 milhões de euros. Ora, essa é a previsão do Chega para um horizonte plurianual. O PS estima que a sua proposta tenha um custo anual de 150 milhões de euros. Pela imprecisão, as nossas desculpas aos leitores.

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