Crianças pedalam pelo Porto no sábado por melhores condições para andar de bicicleta
A Kidical Mass, movimento com foco nas crianças e jovens, pede a criação de espaços seguros para que os mais novos possam anda de bicicleta pelo Porto.
A Kidical Mass, uma massa crítica de crianças que reivindica melhores condições cicloviárias, atravessará, este sábado, o Porto e Matosinhos para "mostrar a bicicleta como alternativa" de mobilidade e por melhores infra-estruturas, incluindo na Avenida da Boavista.
"A Kidical Mass tem um foco principal nas crianças e jovens. No entanto, a iniciativa é inspirada noutro movimento mais alargado, que é a Massa Crítica, a Critical Mass [em inglês], que já é um movimento mais antigo e que passa por um trajecto em bicicleta, em grupo, com o objectivo de dar visibilidade a quem utiliza a bicicleta, mostrar este meio de transporte como alternativa, e reivindicar direitos para quem se quer deslocar dessa forma", explica à Lusa Vera Diogo, uma das organizadoras.
Segundo a também presidente da associação MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, "as crianças são residentes das cidades e não têm o mínimo de possibilidades de ter usufruto da cidade da forma que merecem e que precisam".
"Não têm condições de segurança, não têm espaços verdes suficientes, não têm possibilidade de se deslocar de bicicleta ou a pé sem acompanhamento porque temos as velocidades que temos nas nossas ruas e não temos infra-estrutura suficiente, até para andar a pé, e ainda menos para andar de bicicleta", descreve. Vera Diogo vinca que as crianças "já são pessoas hoje", e apesar de estarem "a ser preparadas continuamente para o futuro, já têm necessidades e direitos", um dos quais à circulação na via pública.
"Tendo em conta a fase da vida em que estão, uma fase muito importante de desenvolvimento, o facto de não terem um mínimo de actividade física tem grandes consequências", pelo que a "actividade física e mesmo o contacto com o ambiente exterior, com os elementos naturais, faz muita diferença a nível de desenvolvimento e de estabilidade emocional dos miúdos", diz.
As principais reivindicações, semelhantes às dos adultos que tentam andar de bicicleta no Porto, "passam por haver infra-estrutura segura, rotas seguras para as escolas, redução das velocidades nas localidades a 30 quilómetros por hora", no fundo "medidas que permitam proteger e promover formas de deslocações mais activas, particularmente nestas faixas etárias e nos contextos à volta das escolas".
No sábado, pelas 15h00, os comboios ciclistas partem do Porto (Praça da República) e de Matosinhos (Escola Fernando Pinto de Oliveira), e terminam no Parque da Cidade, onde haverá "um piquenique, um convívio, umas brincadeiras para os miúdos". Para quem começa no Porto, o percurso será feito através da Avenida da Boavista, cujas obras para receber o metrobus são alvo de críticas por parte dos utilizadores de bicicleta e consideradas anacrónicas.
"É um retrocesso em toda a medida, porque não só não se vai completar a ciclovia que estava planeada estar em toda a avenida, como se vai cortar um troço daquela que existe, e vai-se colocar um novo meio de transporte que (...) não vai retirar nenhum espaço ao automóvel", afirma Vera Diogo à Lusa.
Em causa está o facto de na parte nascente da Avenida da Boavista não existir qualquer ciclovia e continuarem duas faixas para automóvel em cada sentido — além do canal do metrobus — fazendo com que o ambiente para os automobilistas possa ficar "mais convidativo à velocidade". "O que está a ser feito, nesta altura do campeonato, em 2024... não passa pela cabeça de ninguém que uma cidade esteja a fazer isto, a retroceder em vez de avançar em condições para a mobilidade activa. Não faz sentido nenhum", contesta Vera Diogo, admitindo que "o facto da Massa Crítica de crianças passar ali é simbólico".
A responsável lembra que naquela zona "há bastantes comunidades educativas que poderiam usufruir muito da ciclovia, já para não falar de todas as deslocações até à praia, que é uma ligação importante entre o Porto e Matosinhos". "É mesmo um "tiro no pé". Não se percebe como é que estas decisões são tomadas", assinala.