Europa esgotou esta sexta-feira o seu “orçamento planetário”

Se o planeta consumisse ao ritmo da União Europeia, os recursos para um ano já estariam esgotados neste 3 de Maio. Portugal chega ao seu “Dia da Sobrecarga do Planeta” a 28 de Maio.

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Fábrica em Skelleftea, na Suécia Nuno Ferreira Santos
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Se todas as pessoas no mundo seguissem os padrões de consumo da União Europeia (UE), a humanidade esgotaria esta sexta-feira, 3 de Maio, os recursos naturais do planeta disponíveis para o ano.

A UE chega assim ao chamado “Dia da Sobrecarga do Planeta”, no qual várias organizações ambientalistas chamam a atenção para um padrão de consumo “insustentável e irresponsável” e propõem um conjunto de medidas para “desbloquear os benefícios sociais e industriais de uma transição ecológica justa bem executada”.

Numa carta aberta assinada por 317 organizações da sociedade civil — incluindo as portuguesas Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação Natureza Portugal/Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF) e Zero —, os líderes europeus são aconselhados a “enfrentar as crises da natureza, do clima e da poluição após as próximas eleições europeias”, assumindo o “compromisso político de trabalhar no sentido de uma economia com impacto neutro no clima, com poluição zero e positiva para natureza”.

Os cálculos do “Dia da Sobrecarga do Planeta” (Earth Overshoot Day) são feitos pelo think tank Global Footprint Network, numa parceria com a Universidade de York, no Reino Unido, que avalia ainda os dados sobre a “biocapacidade” do planeta, ou seja, a capacidade de os ecossistemas se regenerarem e absorverem os resíduos produzidos pelos humanos.

De acordo com a mesma fonte, Portugal é um dos países relativamente bem colocados dentro da UE, ultrapassando o seu “orçamento planetário” de recursos apenas a 28 de Maio, ao lado de Malta e da Croácia (ao ritmo da Bulgária, o planeta ainda chegaria a 2 de Junho).

Recuos “sem precedentes”

No que toca à União Europeia, este alerta surge no contexto de “um recuo sem precedentes e preocupante” nas políticas ecológicas, com uma instrumentalização das mesmas “para ganhos eleitorais a curto prazo”. É preciso que a União Europeia faça desta “tripla crise planetária” alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição “uma prioridade política de topo”, garantindo a sobrevivência da vida no planeta.

As organizações da sociedade civil apelam a que o Pacto Ecológico Europeu seja não apenas aprofundado mas também acelerado, pondo em prática os objectivos já acordados e “colmatando as lacunas de ambição em matéria de natureza, clima e poluição”.

Na carta, apela-se ainda a um “aumento radical” dos investimentos públicos em clima, ambiente e justiça social, acompanhado de um reforço da democracia e da participação efectiva da sociedade civil nos processos que lhes dizem respeito.

Impacto já visível

“A União Europeia tem menos de 6% da população mundial, mas usa entre 70% e 97% do ‘espaço de funcionamento seguro’ do mundo inteiro”, lê-se na carta. “Precisaríamos de três planetas para satisfazer a nossa procura, caso todas as pessoas na Terra vivessem como os europeus. Isto não é apenas insustentável, é irresponsável.”

Esta sobrecarga, alertam as associações, vê-se já nos níveis de “desflorestação, a perda de biodiversidade, o colapso dos stocks de peixes, a escassez e a poluição da água, a erosão dos solos, a poluição atmosférica e as alterações climáticas”. As consequências destes desequilíbrios também são cada vez mais claras, com fenómenos meteorológicos extremos mais frequentes, como secas, inundações e incêndios florestais, e uma Europa a caminhar para “aumentos de temperatura duas vezes superiores aos de outros continentes”.

“Isto diz-nos respeito a todos”, lê-se na carta, já que existem também impactos políticos e sociais: “Os riscos ligados à exploração dos recursos, como a violência, a pobreza e a má governação põem em risco a paz e a segurança mundiais.”