Partido de Le Pen apresenta lista envolta em polémicas às Europeias

O presidente do partido, Jordan Bardella, encabeça lista às eleições europeias de Junho com vários candidatos envolvidos em polémicas.

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Presidente do partido encabeça a lista polémica com apenas 28 anos Manon Cruz / REUTERS
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A União Nacional (UN), partido francês de direita radical que tem como principal figura Marine Le Pen (apesar de ter deixado a presidência do partido em 2022), lançou as listas às eleições europeias nesta quarta-feira, no congresso do partido realizado em Perpignan, no Sul da França.

A candidatura europeia da UN é liderada pelo seu actual presidente, Jordan Bardella, um candidato relativamente jovem, de 28 anos, que tem tido como uma das suas bandeiras principais a de integrar o partido no mainstream da política francesa, no que diz ser a “normalização” da União Nacional, através da apresentação do partido como “a voz da razão”.

“Hoje somos a voz da razão numa paisagem política onde os nossos adversários, tanto na esquerda como no Governo, parecem fanáticos ou ideólogos”, afirmou Bardella no passado dia 21 de Abril ao jornal francês Le Journal du Dimanche. Um indicador recente desta estratégia atenuante foi a retirada das listas às Europeias de Saidali Boina Hamis, nome anteriormente lançado por Marine Le Pen como candidato proveniente do departamento ultramarino de Mayotte, no oceano Índico, e que terá chamado "vermes" e "baratas" a migrantes das vizinhas Comores na ilha e defendido a "submissão da mulher", revelou o jornal francês Liberátion no passado dia 22.

Apesar das tentativas de "normalizar" o partido na política francesa, as listas apresentadas esta quarta-feira compõem, segundo a edição francesa do Huffington Post, "um elenco que tem tudo para acabar" com a ideia de normalização proposta por Bardella, devido às posições assumidamente xenófobas e conspiratórias adoptadas por alguns dos candidatos.

Guerra ao "multiculturalismo" e fãs de Putin

Malika Sorel-Sutter, escritora, ex-membro do Conselho Superior para a Integração de Sarkozy e número dois na lista do partido, afirmou numa entrevista à televisão francesa CNews estar “em guerra” contra os “cosmopolitas” e o “multiculturalismo”, e defendeu, numa publicação do seu blogue publicado a 26 de Janeiro deste ano, a teoria da “Grande Substituição” por parte das “elites”.

Outro sinal do afastamento de uma atenuação da linha do partido é a manutenção nas listas do actual eurodeputado Thierry Mariani, o número nove da lista e presidente da Associação Diálogo Franco-Russo desde 2012. Numa investigação do jornal norte-americano Washington Post citando informações obtidas por serviços secretos de um país europeu, o eurodeputado era apontado como sendo “bastante próximo ideológica e politicamente” do regime de Putin.

Para além de Mariani, o sétimo candidato do UN, Matthieu Valet, afirmou, numa entrevista realizada à televisão francesa BFMTV citada pelo Huffington Post, que “um ditador é alguém que toma o poder pela força das armas” e que “Putin foi eleito pelos russos”, acrescentando que a sua eleição não era “contestada”.

O partido acena ainda a outras facções ligadas a sectores da direita, segundo o Le Monde, como os conspiracionistas antivacinas através da eurodeputada Virginie Joron, candidata em 16.º lugar, tendo Joron tentado promover uma exposição no Parlamento Europeu sobre as “vítimas dos efeitos secundários das vacinas” em Janeiro deste ano.

Bem posicionado para ser eleito encontra-se também Fabrice Leggeri, ex-director do Frontex, a agência europeia responsável pela vigilância e protecção de fronteiras. O antigo líder juntou-se ao partido de Le Pen em Fevereiro deste ano, após a demissão da liderança da agência em 2022 no âmbito das conclusões apresentadas pelo gabinete europeu antifraude (conhecida pela sigla inglesa OLAF) que afirmavam que a Frontex teria efectuado práticas ilegais de retorno de candidatos de asilo, proibidas pelo direito internacional de refugiados. Em Abril, Leggeri foi alvo ainda de um processo civil na justiça francesa apresentado pela Liga dos Direitos do Homem e Utopia 56, duas associações francesas de direitos humanos, por “cumplicidade em crimes contra a Humanidade” e “tortura”.

“A UN tem um plano concreto e a capacidade de o executar. Estamos determinados a combater o fluxo de migrantes, que a Comissão Europeia e os eurocratas não vêem como um problema, mas como um projecto: posso testemunhá-lo”, referiu Leggeri ao Le Journal du Dimanche.

Nas últimas sondagens publicadas a 30 de Abril pelo jornal francês Le Figaro para os lugares franceses no Parlamento Europeu, a União Nacional de Bardella encontra-se firmemente em primeiro lugar, com 31,5% dos votos. Segue-se o Renascimento, partido de Macron, com 16%, e a coligação ascendente liderada pelo popular Raphaël Glucksmann do Partido Socialista com o Place Publique, com 12%.

Texto revisto por Ivo Neto

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