Mesmo impopular, Khan deve ser reeleito presidente da Câmara de Londres
Sondagens apontam para vitória confortável, mas exibem impopularidade crescente do trabalhista. Expansão da zona de “ar limpo” e alteração das regras eleitorais podem dar resultado mais renhido.
“Preocupa-me que possamos estar a assistir a uma repetição do referendo do ‘Brexit’ e da vitória de Trump em 2016, quando os jovens acordaram em choque porque não tinham dado a sua opinião nas urnas”, afirmou na semana passada Sadiq Khan, presidente da Câmara de Londres, num evento de campanha para a eleição autárquica desta quinta-feira na capital do Reino Unido.
Olhando para as sondagens, as palavras do mayor e membro do Partido Trabalhista parecem soar a dramatização. Um inquérito publicado na terça-feira pela YouGov atribuía-lhe 47% das intenções de voto e apenas 25% para a candidata do Partido Conservador, Susan Hall – Zoe Garbett (7%, Partido Verde), Rob Blackie (6%, Liberais-Democratas) e Howard Cox (6%, Reform UK) ocupam as posições seguintes, numa eleição com 13 candidatos.
No cargo desde 2016, Khan acredita, ainda assim, que uma conjugação infeliz de diferentes factores pode tornar a corrida londrina bastante mais renhida do que as sondagens sugerem e, por isso, insistiu no apelo: “Nas eleições de 2020 nos EUA, a participação dos jovens ajudou os democratas a derrotarem Donald Trump. Estou a pedir aos jovens londrinos que façam o mesmo em Londres e que garantam que não deixamos que a candidata conservadora vença na nossa cidade.”
Um desses factores é a sua impopularidade crescente. Segundo a sondagem da YouGov, 46% dos inquiridos dizem ter uma opinião “desfavorável” do autarca, contra 38% que dizem ter uma opinião “favorável”. A par disso, 45% dizem que Khan está a fazer um “mau trabalho” e 41% dizem que está a fazer um “bom trabalho”.
Parte desta impopularidade explica-se com o aumento do custo de vida na capital, nomeadamente na habitação, mas também com os níveis elevados de crimes com arma branca – ainda na terça-feira um rapaz de 14 anos foi morto e quatro pessoas ficaram feridas após um ataque protagonizado por um homem armado com uma espada.
Um estudo recente da Universidade Queen Mary mostra ainda um número mais elevado de habitantes descontentes com Khan nos subúrbios de Londres (49%), em comparação com os do centro da cidade (37%), fenómeno que os analistas atribuem à decisão do presidente da câmara de expandir a Zona de Emissões Ultrabaixas (ULEZ, na sigla em inglês), medida destinada a reduzir as emissões dos transportes através da imposição de uma taxa diária aos veículos mais poluentes.
Apesar de zona de “ar limpo” até ter sido concebida e implementada, em 2019, pelo então mayor londrino conservador (e antigo primeiro-ministro) Boris Johnson, o partido tory tem lutado contra a medida e Hall promete reverter a sua expansão se vencer Khan nestas eleições, cujo resultado só deve ser conhecido no sábado.
Os tories também têm criticado Sadiq Khan por ter permitido uma série de manifestações pró-Palestina e protestos contra a operação militar de Israel na Faixa de Gaza – chegou a ser acusado por Lee Anderson, ex-vice-presidente do Partido Conservador, de ser “controlado por islamistas” – na cidade, mas, nesse tema, também tem merecido denúncias da ala mais à esquerda do seu partido, que o cola à posição oficial da direcção de Keir Starmer sobre o conflito, defensora de uma “trégua humanitária” no enclave, em vez de um “cessar-fogo imediato e definitivo”.
O principal receio do presidente da Câmara de Londres está, ainda assim, relacionado com as alterações de 2022 à legislação eleitoral.
Khan acredita que a obrigatoriedade de apresentação de documento de identificação com fotografia e o fim do sistema de voto suplementar – em que o eleitor definia um candidato como primeira preferência e outro como segunda preferência, ampliando, dessa forma, as probabilidades de vitória do candidato favorito –, aliadas a uma participação mais reduzida, lhe podem trazer dissabores.