PS na Câmara de Lisboa rejeita responsabilidades pelo resultado negativo em 2023
Socialistas negam ter bloqueado vendas de imobiliário por parte da autarquia, como acusara, na véspera, Carlos Moedas. “São desculpas de mau pagador”, diz a vereadora Inês Drummond.
O PS na Câmara de Lisboa rejeitou hoje responsabilidades pelo resultado líquido negativo do município em 2023 e defendeu que o presidente do executivo municipal, Carlos Moedas (PSD), não pode vender terrenos para "maquilhar as contas".
"Carlos Moedas já não é um agente imobiliário, é presidente da câmara e, como presidente da câmara, deve mobilizar todos os recursos que tem disponíveis para construir habitação a custos acessíveis, sobretudo numa altura em que tem 560 milhões de euros a fundo perdido do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] e do Orçamento do Estado", declarou a vereadora do PS Inês Drummond.
Em declarações à agência Lusa, a autarca socialista recusou que o PS seja o responsável pelo resultado líquido negativo das contas do município de 2023 por bloquear a compra e venda de património, como acusou Carlos Moedas.
"Àqueles que dizem que houve resultado líquido inferior, deve-se perguntar por que aconteceu. Acontece porque o PS, desde o início, bloqueia um instrumento essencial para o presidente da câmara, que é fazer compras e vendas de património", afirmou Carlos Moedas, na quarta-feira, à margem de uma visita à Feira do Livro de Buenos Aires, onde Lisboa é a cidade convidada.
A Câmara de Lisboa terminou 2023 com um resultado líquido negativo, no valor de 18,59 milhões de euros, devido a um acréscimo de gastos, nomeadamente com a Jornada Mundial da Juventude, segundo o relatório de contas aprovado na segunda-feira.
Em resposta à acusação de Carlos Moedas, a vereadora socialista considerou que "são desculpas de mau pagador", rejeitando a ideia de que o PS tenha inviabilizado propostas para a compra e venda de património.
"Dizer que as contas foram negativas porque não consegue vender terrenos é claramente uma forma de maquilhar as contas", disse Inês Drummond, criticando ainda o "facto de [a autarquia] não estar a usar as verbas do PRR para construir casas".
A socialista lembrou que a execução de habitação pública em 2023 por parte da câmara "foi medíocre", em que, "dos 117 milhões de euros previstos para a construção de habitação e para a execução do PRR, apenas concretizou 20 milhões, uma taxa de execução de 19%".
Inês Drummond reforçou ainda que o PS "sempre demonstrou disponibilidade" para a possibilidade de alienação de património, desde que não seja património que possa ter fins habitacionais, defendendo que o presidente da câmara "não deve estar a vender terrenos para maquilhar os resultados negativos e a sua gestão que tem sido desastrosa".
"Carlos Moedas não se pode queixar de não haver colaboração para a alienação de terrenos que não tenham fins habitacionais. O que é facto é que em 2022 e em 2023 alienou quase 12 milhões de euros de terrenos, o que é um valor até superior aos anos de 2020 e de 2021", expôs a vereadora do PS.
Sobre a compra de património, a socialista indicou que Carlos Moedas propôs em 2023 uma consulta ao mercado para aquisição de casas, em que o PS votou a favor e "não só votou a favor como fez uma proposta de se fazer um protocolo com agências imobiliárias para também essas ajudarem e apoiarem a câmara na procura ativa de prédios e de habitação na cidade", mas o município "apenas adquiriu um prédio" e "desbaratou verbas do PRR" que estavam disponíveis para este fim.
Inês Drummond manifestou preocupação com o resultado das contas de 2023, em que se vê "uma corrida vertiginosa para o vermelho", com as despesas correntes a "aproximarem-se perigosamente" das receitas correntes, num ano em que houve "a maior receita de sempre", inclusive com a taxa turística e "o IMT [Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis] em níveis estratosféricos".
"Se tivermos um ano [2024] em que o sector imobiliário sofra algumas perdas, que é o que é expectável, a câmara fica com sérios problemas e sem capacidade de investimento", alertou, criticando o recente "empréstimo ruinoso, em cima do joelho, de 50 milhões de euros", em que a câmara vai pagar 15 milhões de taxas de juro.
Segundo o PS, Carlos Moedas tem sido "exímio na sua promoção e na propaganda", mas a sua gestão tem deixado a cidade "ao abandono, cheia de lixo, sem obras no espaço público ou na manutenção dos passeios ou dos pavimentos".
O executivo da Câmara de Lisboa, que é composto por 17 membros, integra sete eleitos da coligação "Novos Tempos" (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) -- que são os únicos com pelouros atribuídos e que governam sem maioria absoluta --, três do PS, dois do PCP, três do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), um do Livre e um do BE.