Aquilo que Saylor Class pensava ser um monstro barulhento no seu quarto era, na verdade, uma colmeia de 60 mil abelhas. Foi na cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, que a criança de três anos se começou a intrigar com os zumbidos que pareciam vir do armário.
Para os pais, estas queixas nada mais pareciam do que a criação de uma imaginação fértil característica da idade. Tinham até em conta que Saylor teria visto recentemente o filme Monstros e Companhia, da Pixar. “Até lhe demos uma garrafa de água e dissemos que era um spray antimonstros para que ela pudesse afastar qualquer monstro de noite”, conta Ashley Class, mãe de Saylor, citada pela BBC.
Mas as queixas contínuas da menina, aliadas ao facto de os pais terem avistado grupos de abelhas a sobrevoar o sótão e a chaminé da casa de campo, um edifício centenário, levaram Ashley a contactar o controlo de pragas. Os “monstros” acabaram por se revelar abelhas, entre 55 e 65 mil, que afinal estavam no interior da parede do quarto de Saylor, como se pode observar nas imagens partilhadas pela mãe no TikTok.
Apesar de não ser comum, não é inédito encontrar abelhas que façam a sua colmeia no interior de paredes. Há múltiplos relatos disto, como, por exemplo, o de uma senhora de Edmonton, no Canadá, que descobriu uma colónia de 50 mil abelhas dentro das paredes da sua garagem. Uma colónia pode ter até 100 mil.
Isto pode acontecer sobretudo nos meses de Maio e Junho, quando as abelhas formam novos enxames, lê-se numa página da Universidade Clemson, na Carolina do Sul. Se descobrirem um orifício num edifício, podem acabar por entrar e alojar-se numa estrutura edificada. Uma casa centenária, provavelmente de madeira, como seria a desta família, parece um local convidativo.
As abelhas são insectos polinizadores, ou seja, têm um papel essencial na fertilização de muitas plantas e na agricultura. Se se extinguissem, seria um enorme problema para o ecossistema - e para a nossa própria sobrevivência, porque precisamos delas para polinizar plantas que usamos na alimentação.
Mas, desde meados do século, as populações de abelhas estão em recuo acelerado, devido ao uso de pesticidas, alterações climáticas, e outros factores. Isto que significa que em muitos locais são espécies ameaçadas. Por isso, a maneira de lidar com este tipo de invasão é conservadora, ou seja, tenta-se evitar matar as abelhas, e arranjar formas de as transferir para um abrigo onde possam conviver em paz com os seres humanos.
A família da Carolina do Norte começou por chamar uma empresa para lidar com pragas, mas disseram-lhes que o que tinham em casa eram abelhas e isso não era com eles. Pediram por isso ajuda a apicultores, mas não foi fácil descobrir o que se passava. Investigaram o sótão, e as abelhas não estavam lá. As abelhas pareciam não ter ainda entrado na casa.
Até que um dos apicultores observou que as abelhas pareciam entrar por entre as tábuas do chão do sótão, num local que era mesmo por cima do quarto da menina. Usou uma câmara térmica e finalmente descobriu a colónia de abelhas no interior da parede, conta a revista People. A seguir, iniciou o procedimento para remover a colmeia. Os favos de mel, construídos ao longo de oito meses, pesavam 45 quilos.
Foram necessárias três extracções, levadas a cabo com um aspirador próprio para remover a totalidade de abelhas. Após a remoção, os insectos foram recolocados num refúgio dedicado à espécie.
Não é uma questão de pôr insecticida para dentro da parede e esperar que as abelhas morram. Além de não querermos matar espécies úteis e em risco, se os cadáveres das abelhas ficassem dentro da parede, com o mel e a cera, atrairiam outros insectos. E tudo liquefeito, poderia começar a escorrer pela parede, descreve o site da Universidade Clemson.
Para a família, no entanto, todo o episódio foi assustador. “As abelhas simplesmente saíram, como num filme de terror”, conta a mãe de Saylor. Segundo Ashley Class, o prejuízo causado pelas abelhas ascende a mais de 20 mil dólares em prejuízo, devido à danificação da instalação eléctrica. O valor não será coberto pelo seguro, por ser considerado um “dano evitável”.
Texto editado por Ana Maria Henriques e Clara Barata