Marjane Satrapi distinguida com o Prémio Princesa das Astúrias

Fundação espanhola premeia na artista e cineasta franco-iraniana, autora de Persépolis, o seu “papel essencial na defesa dos direitos do homem e da liberdade”.

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Marjane Satrapi fotografada em 2023; Prémio Princesa das Astúrias em 2024 CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA
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A artista, cineasta e escritora franco-iraniana Marjane Satrapi (Rasht, Irão, 1969), autora da BD e do filme Persépolis, foi distinguida esta terça-feira com o Prémio Princesa das Astúrias de Comunicação e Humanidades. Com uma das distinções mais prestigiadas do mundo hispânico, a fundação com sede em Oviedo quis celebrar “o papel essencial [de Marjane Satrapi] na defesa dos direitos do homem e da liberdade”.

No comunicado em que anuncia o prémio, citado pelo diário espanhol El Mundo, a Fundação Princesa das Astúrias diz que Satrapi “é um símbolo do compromisso cívico liderado pelas mulheres”. E acrescenta: “Graças à sua audácia e à sua produção artística, é considerada uma das personalidades mais influentes no diálogo entre culturas e entre gerações”; e o prémio pretende “pôr em relevo o talento de Marjane Satrapi para reinventar as relações entre arte e comunicação, como na sua novela gráfica Persépolis, na qual plasma de forma exemplar a procura de um mundo mais justo e integrador”.

A ilustradora e realizadora agradeceu a distinção, considerando que com ela “são homenageados todos os jovens que perderam a vida e aqueles que continuam a lutar pela liberdade no Irão”, diz, citada pelo diário espanhol. Afirmando, “sem falsa modéstia”, não saber se o que fez pela humanidade será “assim tão notável”, Satrapi dedicou o Prémio Princesa das Astúrias ao rapper seu compatriota Toomaj Salehi, que há poucos dias “foi condenado à morte por cantar sobre a liberdade”, realçou.

Autobiografia desenhada

Persépolis é, na verdade, o título mais conhecido da obra já vasta desta autora. No início do milénio, foi o título da sua autobiografia, publicada França em 4 volumes de banda desenhada, entre 2000 e 2003 (prémio autor revelação no Festival de BD de Angoulême). Em 2003, começou a ser editada também em Portugal, com o dois primeiros volumes traduzidos por Miguel Fezas Vital para a edição Polvo; os dois volumes seguintes sairiam em 2012 e 2015, respectivamente com as chancelas Contraponto e Bertrand, e tradução de Duarte Sousa Tavares).

Em 2007, Persépolis transformou-se num filme de animação, desenhado a quatro mãos com Vincent Paronnaud, valendo nesse ano aos autores o Prémio do Júri do Festival de Cannes e, em 2008, um César para melhor argumento adaptado, além de uma nomeação para o Óscar, tornando-se então Satrapi na primeira mulher a ser citada pela Academia de Hollywood na categoria de melhor longa-metragem de animação.

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Persépoli (2007), realização de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud DR

Sobre Persépolis, um relato autobiográfico da infância e da adolescência da autora vividas em Teerão, por altura da Revolução Islâmica promovida pelo ayatollah Khomeini em 1979, a Fundação Princesa das Astúrias diz que “poucas obras tiveram tal capacidade para penetrar na cultura pop e, ao mesmo tempo, ser um dos melhores relatos históricos do nosso tempo”.

Na época em que se lançou nessa aventura, na viragem do século, a jovem Marjane estava já a viver no seu exílio na Europa, para onde os pais a tinham enviado para se libertar da censura e dos condicionamentos da vida na sua terra natal.

Em 1983, tinha-se fixado em Viena, onde estudou no Liceu Francês. Ainda regressou a Teerão para estudar na Escola de Belas Artes, mas, em 1994, saiu definitivamente do Irão e radicou-se em França: primeiro, a frequentar a Escola de Artes Decorativas de Estrasburgo; a seguir em Paris, cidade onde ficou a viver e trabalhar.

Na sua obra como autora de BD, destacam-se os álbuns Broderies (2003; Bordados, na edição portuguesa, da Levoir/PÚBLICO,) e Poulet aux Prunes (2004; Frango com Ameixas, na edição portuguesa Levoir/PÚBLICO, 2019, tradução de Pedro Cleto). Em 2011, Satrapi adaptou também este álbum ao cinema, de novo com Vincent Paronnaud. Mais recentemente, na sequência da morte, em Setembro de 2022, da jovem Mahsa Amini, às mãos da “polícia dos costumes” do Irão, coordenou a publicação do livro Femme, Vie, Liberté (2023), um trabalho colectivo de uma espécie de “brigada internacional da BD”, entre o qual estão os seus compatriotas Farid Vahi e Abbas Milani.

No cinema, assinou, entre outros, The Voices (2014) e Radioactive (2019), tendo actualmente em pós-produção a longa-metragem Paris Paradis, anunciada como uma comédia de humor negro sobre o tema da morte, e que no elenco conta com actores como Monica Bellucci, Rossy de Palma ou André Dussolier.

O Prémio Princesa das Astúrias será entregue em Outubro; em cada uma das suas categorias, o vencedor recebe uma escultura de Joan Miró, um diploma e 50 mil euros.

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