Médicos sem Fronteiras denuncia “mortes silenciosas” devido a quebra dos cuidados médicos em Gaza
Organização alerta para os efeitos da “destruição” dos cuidados de saúde em Gaza e pede um “cessar-fogo imediato, constante e duradouro”.
A organização dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou, esta segunda-feira, um relatório em que denuncia as mortes que afirma serem "evitáveis" devido à "destruição do sistema de saúde" em Gaza através dos bombardeamentos de forças israelitas a hospitais na região, levando a que, segundo dados da ONU citados no relatório, “dos 36 hospitais de Gaza, apenas 10 estão ‘de alguma forma funcionais”” e que “dos centros de saúde primários, apenas 20 dos 80 estão ainda operacionais”, sendo que as unidades existentes estão a ser "levadas ao limite”.
A MSF sublinha que o sistema de saúde em Gaza foi “dizimado” pelos ataques aos hospitais levando a um excesso de mortes para além das cerca de 35 mil vítimas mortais da guerra na região, segundo dados deste domingo do Ministério da Saúde de Gaza.
Focando na cidade de Rafah, para onde é estimado que 1,7 milhões de pessoas tenham sido deslocadas forçosamente devido à ameaça de bombardeamentos aéreos, a organização aponta uma “forte degradação” nas condições sanitárias e de vida da cidade, como a fome e subnutrição devido ao bloqueio de bens essenciais, a falta de água potável e acumulação de lixo e esgoto nas ruas. A combinação destes factores, segundo a Médicos sem Fronteiras, está a dar origem a um “desastre para a população de Gaza”.
“Mais de 40 por cento dos doentes têm infecções do trato respiratório superior relacionadas com as más condições de vida. As taxas de diarreia em crianças são alegadamente 25 vezes mais elevadas do que antes do conflito e a hepatite A está a aumentar”, afirmou a organização.
O acompanhamento de gravidezes e de doenças crónicas como diabetes, hipertensão e cancros está também posto em risco com a degradação dos cuidados médicos. “Se o seu estado se agravar e necessitarem de medicamentos ou equipamentos especializados, que são cada vez mais difíceis de obter em Gaza, pouco pode ser feito. Actualmente, muitas consultas médicas em Gaza são adiadas ou simplesmente não são possíveis”, afirmou, em comunicado, a Médicos Sem Fronteiras.
Para além destas consequências, a MSF acrescenta os efeitos nos tratamentos relacionados com a saúde mental, numa guerra onde a necessidade de cuidados é “impressionante” devido aos efeitos psicológicos da falta de sensação de segurança devido aos bombardeamentos e à impossibilidade de poderem enterrar e realizar o luto dos seus entes queridos, sendo que se estima que cerca de 8000 pessoas estejam ainda enterradas nos escombros, segundo a organização.
A Médicos sem Fronteiras conclui o relatório pedindo que se “entenda o custo humano de se destruir um sistema de saúde inteiro”, que se mudem as condições de vida em Rafah e que se evite a invasão militar da zona, o que “seria uma catástrofe para a população e uma nódoa na nossa humanidade colectiva”.
“Sem acesso a cuidados médicos, milhares de vidas serão ainda perdidas, para além dos que morreram nos bombardeamentos israelitas vistos nas notícias – estas são as mortes silenciosas de Gaza”, afirma ainda a Médicos sem Fronteiras, que finaliza o relatório apelando a um “cessar-fogo imediato, constante e duradouro”.
Texto editado por Ivo Neto