Grupo que queria derrubar Governo alemão estava preparado para violência
Começou o julgamento dos membros de uma organização golpista desmantelada no final de 2022 que queria impor um regime autoritário na Alemanha.
Um tribunal alemão começou a julgar nesta segunda-feira os suspeitos de pertencerem a uma organização terrorista que planeava ataques contra instituições públicas com o objectivo de derrubar o Governo e implantar um regime autoritário.
Nove pessoas começaram a ser julgadas por um tribunal de Estugarda, acusadas de crimes como alta traição, tentativa de homicídio e pertença a grupo terrorista. Outras 17 serão julgadas em grupos separados num dos maiores processos de terrorismo interno na Alemanha nas últimas décadas.
No final de 2022, as autoridades alemãs desmantelaram uma rede terrorista que planeava há vários meses um atentado contra o Bundestag, a sede do Parlamento nacional em Berlim, como ponto de partida para um plano que culminava no derrube do Governo. Na altura foram detidas 27 pessoas acusadas de terrorismo e outros crimes, pelos quais vão agora responder em tribunal – um dos suspeitos morreu desde então.
Os acusados permanecem detidos há mais de um ano em prisões espalhadas pela Alemanha sem qualquer possibilidade de comunicação entre si, diz a Reuters. Os nove suspeitos que começaram a ser julgados estavam encarregados de criar células paramilitares responsáveis por reprimir os actos de resistência ao futuro golpe de Estado.
O grupo terrorista é descrito como uma amálgama de seguidores de várias correntes, que junta apoiantes do antigo Império Alemão, neonazis, crentes em teorias da conspiração como o “QAnon” e até negacionistas da pandemia de covid-19.
Segundo os procuradores, os membros desta organização acreditavam que a Alemanha era governada por um “Estado profundo” responsável, entre outros crimes, pelo rapto e tortura de crianças, ecoando crenças identificadas nos EUA através do movimento QAnon. No centro da conspiração está Henrique XIII, líder do Reichsbürger (cidadãos do império), um grupo já conhecido das autoridades que rejeita a ordem política alemã posterior à queda do império no final da I Guerra Mundial.
Henrique XIII é descendente de uma família da nobreza alemã que governou sobre partes de um território que corresponde ao actual estado da Turíngia.
“Eles tinham consciência de que os seus planos iriam envolver violência”, disseram os procuradores na sessão desta segunda-feira.
Entre os acusados do primeiro grupo estão antigos e actuais elementos das forças armadas, incluindo das forças de elite, e um agente policial. Um deles, identificado como Markus L., é acusado de ter baleado dois polícias, ferindo um deles com gravidade, durante a operação que levou à sua detenção. Se for condenado, poderá ficar em prisão perpétua.
As autoridades alemãs dizem que o grupo estava bem organizado e empenhado em cometer vários actos violentos, incluindo assassínios de políticos e outras personalidades, para alcançar os seus objectivos. “Não estamos a falar apenas de um grupo de figuras simpáticas que tinham algumas ideias bizarras”, disse o presidente do tribunal de Estugarda, Andreas Singer, antes do início do julgamento.
O grupo queria criar um sistema nacional de 286 unidades militares que entrariam em acção no chamado “Dia X”, para o qual estava planeado o golpe de Estado. Depois de cortes de electricidade, os membros das unidades paramilitares iriam tomar o edifício do Parlamento e sequestrar os membros do governo e dos principais partidos. Entre as personalidades numa lista de alvos a abater estavam o chanceler Olaf Scholz e o líder da oposição, Friedrich Merz.