Associação questiona escolha de Diogo Ramada Curto para dirigir Biblioteca Nacional

Grupo de bibliotecários e arquivistas levanta reservas à nomeação pelo facto de o currículo do historiador não mencionar “formação especializada na área da Ciência da Informação”.

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A nomeação de Diogo Ramada Curto para a Biblioteca Nacional de Portugal foi uma das primeiras decisões públicas da nova ministra da Cultura, Dalila Rodrigues Nuno Ferreira Santos
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A Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação (Bad) manifestou esta segunda-feira, em comunicado, "estranheza e preocupação" pela nomeação do historiador e professor catedrático Diogo Ramada Curto para director-geral da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).

A nomeação foi anunciada a 22 de Abril pelo gabinete da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, na sequência do lugar deixado vago pela anterior directora-geral, Maria Inês Cordeiro, "pelo termo da comissão de serviço, seguida da sua aposentação em Março deste ano".

"Estando esta decisão fundamentada no percurso académico e profissional do nomeado, na informação divulgada publicamente, a Bad não identifica formação especializada na área da Ciência da Informação", indicou a associação, numa tomada de posição sobre a nomeação.

Nomeado em regime de substituição, Diogo Ramada Curto, nascido em Lisboa, em 1959, é professor catedrático no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-Nova), onde se licenciou em História, se doutorou em Sociologia Histórica e leccionou nos departamentos de Sociologia e História, conforme a nota biográfica divulgada na altura pelo Ministério da Cultura.

A Bad ressalva que a tomada de posição agora divulgada não se move "por qualquer questão de ordem pessoal" e manifesta "toda a disponibilidade para trabalho conjunto e cooperação institucional", mas "não pode deixar de questionar a decisão da Ministra da Cultura ao nomear para director-geral da Biblioteca Nacional de Portugal um académico sem formação especializada na área da Ciência da Informação, denotando-se um retrocesso relativamente ao percurso que estava a ser traçado com a nomeação anterior".

"Portugal é um dos países onde existe, há décadas, formação superior no domínio da biblioteconomia e da arquivística, áreas que têm vindo a ser actualizadas a novas necessidades e realidades, nomeadamente na criação de oferta formativa em Ciências Documentais e Ciência da Informação, nos três ciclos de estudos: licenciatura, mestrado e doutoramento", detalhou a Bad.

No comunicado, o conselho nacional da associação considera ainda que, "actualmente, o vasto e consolidado desenvolvimento desta área profissional e científica, a tecnicidade e amplitude de conhecimento que exige e a importante função social, económica, administrativa, educativa e cultural que as Bibliotecas e os Arquivos desempenham - fatores cruciais para a construção de uma sociedade da informação e do conhecimento caracterizada por elevados níveis de desenvolvimento económico e de coesão social - só pode ser cumprida com recurso a profissionais altamente qualificados".

Diogo Ramada Curto foi professor visitante em diferentes instituições de ensino superior, como a École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, França, a Universitat Autònoma de Barcelona, em Espanha, a Brown University e a Yale University, nos Estados Unidos, e a Universidade de São Paulo, no Brasil.

Entre 2000 e 2008, ocupou a Cátedra Vasco da Gama em História da Expansão Europeia do Instituto Universitário Europeu, em Florença.

Em 2014, foi distinguido com o Prémio PEN Clube na categoria de Ensaio com o livro "Para que serve a história?" (Tinta da China, 2013) e, em 2015, com o Prémio Jabuti (colectivo) atribuído à obra O Brasil Colonial (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2014).

A anterior directora-geral da BNP, Maria Inês Cordeiro, tinha sido reconduzida no cargo em 2019, e esteve à frente da instituição desde Setembro de 2012.

Maria Inês Cordeiro é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fez uma pós-graduação de Bibliotecário Arquivista pela Universidade de Coimbra, e é doutorada em Ciências da Informação, pela Universidade de Londres.

Antes de assumir o cargo de subdirectora da BNP, em 2006, Maria Inês Cordeiro foi bibliotecária assessora da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, responsável pelo sector de Gestão de Sistemas de Informação e Projectos de Inovação entre 1997 e 2006.

Anteriormente, tinha desempenhado funções de chefe de Divisão e directora de Serviços na BNP, onde prestou serviço entre 1986 e 1997.