Assustado com as sondagens, Trump aponta baterias a RFK Jr.

Segundo as sondagens recentes, o candidato independente pode tirar mais votos a Donald Trump do que a Joe Biden na eleição. Trump diz agora que Kennedy é “um agente ao serviço do Partido Democrata”.

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Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do antigo Presidente dos EUA, é conhecido pelo seu activismo anti-vacinas ADAM DAVIS / EPA
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A candidatura de um membro da família Kennedy à próxima eleição para a Casa Branca já era vista com algum receio na campanha de reeleição do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e agora passou a fazer parte das preocupações do candidato do Partido Republicano, Donald Trump.

Numa série de mensagens publicadas este fim-de-semana na rede social Truth Social, Trump lançou um duro ataque contra Robert F. Kennedy Jr. (RFK Jr.), um filho do antigo procurador-geral dos EUA Robert F. Kennedy — e sobrinho de John F. Kennedy — que desistiu das eleições primárias do Partido Democrata para se manter na corrida como candidato independente à eleição presidencial de Novembro.

"RFK Jr. é um agente ao serviço do Partido Democrata, um radical de esquerda que foi accionado para ajudar Joe Biden, o pior Presidente na História dos Estados Unidos, a ser reeleito", disse Trump. "Um voto no Júnior seria essencialmente um voto de protesto desperdiçado", afirmou o ex-presidente dos EUA.

Anti-vacinas

Kennedy, de 70 anos, um membro da mais famosa família política dos EUA — mas cujo envolvimento em várias teorias da conspiração o afastam do legado que ficou na memória do eleitorado do Partido Democrata — começou por ser visto como uma ameaça à reeleição de Biden.

Há menos de duas semanas, vários membros da família Kennedy — incluindo seis irmãos de RFK Jr. — declararam o seu apoio a Biden na eleição presidencial deste ano, numa cerimónia em que surgiram ao lado do Presidente dos EUA.

Na ocasião, uma das irmãs de RFK Jr., Kerry Kennedy, disse que um voto em Biden "é um voto para salvar a democracia e a decência", e apontou o Presidente dos EUA como o verdadeiro herdeiro político de John e Robert Kennedy.

"O Presidente Biden tem defendido todos os direitos e liberdades que o meu pai e o meu tio promoveram", disse a irmã do candidato independente.

Segundo as sondagens, o papel de destaque de RFK Jr. no activismo anti-vacinas e na oposição aos confinamentos durante a pandemia, em 2020 e 2021, indicava que a sua candidatura poderia tirar mais votos a Biden do que a Trump.

Essa ideia foi posta em causa nas últimas semanas, após a publicação de sondagens que pintam um cenário diferente, em que o candidato mais prejudicado pela presença de Kennedy na campanha é Trump. Seja qual for o resultado, é certo que o apoio recolhido por Kennedy nas sondagens, a rondar os 10%, é suficiente para influenciar o duelo entre Trump e Biden em alguns estados — como o Michigan — que vão ser decisivos para a escolha do próximo Presidente dos EUA.

Numa sondagem da Universidade Quinnipiac, publicada a meio da semana passada, Kennedy surge com 16% das intenções de voto numa corrida a cinco, atrás de Trump e de Biden (ambos com 37%) e à frente da candidata dos Verdes, Jill Stein (3%), e de um outro candidato independente e apoiado pela esquerda progressista, Cornel West (3%).

Na mesma sondagem, 44% dos eleitores do Partido Republicano disseram que têm uma opinião positiva de Kennedy, contra apenas 11% de eleitores do Partido Democrata que dizem o mesmo. Numa corrida entre os dois principais candidatos, 47% dos apoiantes de Kennedy disseram que votariam em Trump e 29% em Biden.

Num comunicado em que reagiu aos ataques de Trump, Kennedy referiu-se ao ex-Presidente dos EUA como "um homem assustado que aparenta estar desequilibrado", e desafiou-o para um debate a dois.

"Trump, que já demonstrou ser o melhor debatedor na história da política moderna nos Estados Unidos, não devia estar em pânico para debater comigo", disse Kennedy na rede social X. "Em vez de lançar bombas de veneno a partir da segurança do seu bunker, Trump devia vir defender as suas promessas de forma respeitosa."

Decisão no Michigan

No estado do Michigan, onde as eleições presidenciais de 2016 e de 2020 foram decididas por margens muito curtas, há indicações de que a candidatura de Kennedy pode tirar mais votos a Trump do que a Biden — o que pode, por sua vez, ajudar o Presidente dos EUA a amparar o impacto de um possível boicote eleitoral de parte da comunidade árabo-americana e muçulmana, descontente com o apoio da Casa Branca ao Governo de Israel.

O Michigan — onde Biden venceu em 2020 com mais 150 mil votos do que Trump, em 5,5 milhões de votantes — esteve na linha da frente nos protestos contra os confinamentos impostos durante a pandemia, que foram protagonizados, em grande medida, por eleitores que vão ter este ano a possibilidade de votar numa das figuras que mais se destacaram a nível nacional nas críticas à vacina contra a covid-19.

Foi também no Michigan que o FBI travou um plano de um grupo de extremistas anti-governo para sequestrar a governador do estado, Gretchen Whitmer, do Partido Democrata, uma das maiores defensoras dos confinamentos durante a pandemia. Nove dos 14 acusados da tentativa de sequestro foram condenados a penas de entre um ano e 20 anos de prisão.

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