Helsínquia: na capital do país mais feliz, dá-se muitas voltas à História

Naquele que voltou a ser este ano eleito o país mais feliz do mundo, palmilhamos as ruas a tentar ler os rostos de quem connosco se cruza, em busca da tal centelha de felicidade.

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Do ar, apenas se destaca a cúpula plana da Temppeliaukio kirkko, que poisa sobre cortes de vidro que formam uma clarabóia, a garantir a luz natural durante o período diurno Danny Lehman/Getty
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Quando se avista o porto de Helsínquia, a sensação é de que alguém carregou no botão da pausa e interrompeu o filme a meio, com as águas que banham a cidade do golfo da Finlândia, um braço do mar Báltico, congeladas, mas a exibirem relevo, à medida que as embarcações que cortam o gelo criam uma pequena ondulação, que num ápice se transforma em estado sólido.

Não é apenas no porto que Helsínquia parece imobilizada. Ou, melhor, em suspenso, ainda a lutar contra uma herança que deu a independência ao país há pouco mais de cem anos: declarou a independência do Império Russo em 1917, que foi reconhecida no ano seguinte. Antes, o território esteve sob domínio sueco, entre os séculos XII e XIX, e, agora, volta a ver-se entre duas forças opostas. Mas não tem dúvidas de que lado se posicionar, como parece querer sinalizar a bandeira ucraniana hasteada no exterior da imponente Estação Central de Helsínquia.

A estação ferroviária, projectada pelo arquitecto finlandês-americano Eliel Saarinen, a partir de 1904, só por si, já constituiu no início do século XX uma afirmação nacionalista, mesmo sendo a Finlândia ainda um Grão-Ducado russo, a par da consolidação do finlandês como língua oficial ensinado nas escolas (o sueco continua a ser língua oficial) ou a criação de uma moeda nacional.

Naquele que voltou a ser este ano eleito o país mais feliz do mundo, palmilhamos as ruas a tentar ler os rostos de quem connosco se cruza, em busca da tal centelha de felicidade. Mas, em 24 horas, não houve tempo suficiente para compreender o mistério (ainda que o valor atribuído ao trabalho ou a rede de apoio social possam certamente ser determinantes). Certo é que, mesmo com frio, os raios de sol que anunciam a Primavera enchem de gente as praças, desenhadas precisamente para promoverem a tertúlia: à volta da estação, temos o Teatro Nacional Finlandês, o Museu de Arte Ateneum, o Museu de Arte Contemporânea Kiasma ou os Correios. E, não muito longe, a Universidade ou o Parlamento.

Mas, aprendemos à medida que vamos seguindo o roteiro turístico, que são as igrejas, onde nunca faltam turistas, que contam grande parte da história da capital e do país, conforme os habitantes deste território foram abandonando o politeísmo para, a partir do século XIII, com a anexação da Suécia, adoptarem o cristianismo.

A grande maioria da população pertence, hoje, à Igreja Evangélica Luterana da Finlândia, sendo que o seu expoente máximo visível está na Catedral de Helsínquia, construída entre 1830 e 1852, em estilo neoclássico e projectada pelo alemão Carl Ludvig Engel, a quem sucedeu, após a sua morte, o alemão-finlandês Ernst Lohrmann na orientação dos trabalhos. A planta da catedral é em cruz grega e a imponência do exterior contrasta com um interior onde impera uma certa austeridade. A estrutura encontra-se na Praça do Senado, onde se impõe a estátua central de Alexandre II da Rússia, conhecido por estas paragens como “O Bom Czar”, por ter sido o impulsionador das reformas que aumentaram a autonomia finlandesa, que viria a determinar a independência.

Outro espaço de culto de visita obrigatória é a Catedral de Uspenski, tida como a maior igreja ortodoxa da Europa do Norte e Ocidental, com uma cúpula que sobe aos 33 metros e cuja imponência é ainda realçada pela sua localização, na colina mais alta do distrito de Katajanokka. Ou seja, mesmo para quem dispense entrar, as vistas sobre a capital são indispensáveis.

Dos lugares mais altaneiros para as profundezas da terra, chegamos à Temppeliaukio kirkko, uma igreja luterana situada em Töölö, um bairro residencial, que se distingue por, em parte, ter sido esculpida num maciço de granito. Projectada pelos arquitectos e irmãos Timo e Tuomo Suomalaine, na década de 60 do século passado, a sua presença exterior, ao contrário das catedrais de Helsínquia e de Uspenski pode passar quase despercebidas aos mais incautos. Do ar, apenas se destaca a cúpula plana que poisa sobre cortes de vidro que formam uma clarabóia, a garantir a luz natural durante o período diurno. E, da rua, muitos olharão sem perceberem, ao primeiro olhar, tratar-se de uma igreja. E nem estão assim tão errados: além do culto, o espaço recebe muitos concertos devido à excelente acústica do espaço. Talvez seja mais um bom exemplo da racionalidade finlandesa, que, com mais ou menos sorrisos, se aplica em aproveitar o que a natureza lhe oferece.

A Fugas viajou a convite da Mitsubishi

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