Brasil enfrenta pior branqueamento de corais de sempre: “Estamos a ver a extinção à frente dos nossos olhos”

“Estamos a ver a extinção à frente dos nossos olhos”, diz coordenador de um projecto de conservação de corais. Vastas faixas de corais no Brasil estão completamente brancas.

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Branqueamento na Costa dos Corais no estado de Alagoas, no Brasil Jorge Silva/REUTERS
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Branqueamento na Costa dos Corais no estado de Alagoas, no Brasil Jorge Silva / REUTERS
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Branqueamento na Costa dos Corais no estado de Alagoas, no Brasil Jorge Silva / REUTERS
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O Brasil está a preparar-se para o que poderá ser o pior evento de branqueamento de corais de sempre: as águas extremamente quentes estão a danificar os recifes da maior reserva marinha do país — ameaçando também as receitas do turismo e da pesca na região.

Como os corais no mundo estão a sofrer o quarto evento de branqueamento em massa em três décadas, alguns esperavam que os recifes do Brasil fossem poupados, como aconteceu durante os anteriores episódios de branqueamento global de corais. Mas não.

O branqueamento é desencadeado pelas altas temperaturas da água, que levam a que os corais expulsem as algas coloridas que vivem nos seus tecidos. Sem as algas que fornecem nutrientes, os corais começam a morrer à fome.

“Nunca ninguém me ligou por causa do branqueamento no Brasil”, disse Greg Asner, director do programa Allen Coral Atlas, que monitoriza os recifes a nível mundial por satélite.

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Branqueamento na Costa dos Corais no estado de Alagoas, no Brasil JORGE SILVA/REUTERS

Mas, no Brasil, enormes faixas de corais ficaram brancas como ossos ao longo da vasta costa atlântica brasileira, dos estados nordestinos de Alagoas ao Rio Grande do Norte, incluindo o parque marinho de 120 quilómetros de extensão chamado Costa dos Corais.

Quatro cientistas que monitorizam estes corais disseram à Reuters que este ano está a caminho de ter o pior branqueamento de que há registo na Costa dos Corais e possivelmente em todo o país.

As temperaturas do mar bateram recordes no ano passado, à medida que as alterações climáticas exacerbaram os efeitos do fenómeno cíclico El Niño, que normalmente aquece o globo a cada seis ou sete anos. O El Niño é um fenómeno climático natural em que as águas superficiais do Pacífico equatorial se tornam mais quentes que o normal, o que causa alterações nos padrões meteorológicos, podendo afectar o clima a nível global.

Os recifes brasileiros estão um pouco isolados dos recifes mais conhecidos das Caraíbas e têm a maior percentagem de corais que não se encontram em mais nenhum lugar do planeta, incluindo pelo menos sete espécies ameaçadas de extinção, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

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Branqueamento na Costa dos Corais no estado de Alagoas, no Brasil JORGE SILVA/REUTERS

Quase 100% dos corais em algumas partes do parque marinho foram afectados, e alguns começaram a morrer, disse Miguel Mies, director de investigação do Instituto Coral Vivo. Um recife menos famoso na ponta do Brasil, perto da cidade de Natal, está a ser ainda mais afectado, disse.

Alguns mergulhadores na Costa dos Corais mediram temperaturas da água que rondavam os 33 graus Celsius, acima da temperatura a que os corais se sentem mais confortáveis, que ronda os 27 graus Celsius.

“O branqueamento é intenso”, disse à Reuters Pedro Pereira, coordenador do Projecto de Conservação dos Recifes, uma organização sem fins lucrativos, entre mergulhos para inspeccionar o recife. “Estamos a ver a extinção, à frente dos nossos olhos, de um ecossistema tão bonito e maravilhoso”, disse.

Os danos

Para a cidade litoral de Maragogi, os recifes de cores garridas e as águas azuis cristalinas da Costa dos Corais ajudaram a construir uma indústria de turismo próspera. O turismo de recifes gera cerca de 908 milhões de reais por ano (cerca de 164 milhões de euros) para Maragogi e para os municípios vizinhos de Ipojuca e São Miguel dos Milagres, de acordo com a Fundação Grupo Boticário.

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Branqueamento de corais na Costa dos Corais no Brasil JORGE SILVA/REUTERS

Milhares de pessoas na região também trabalham na pesca artesanal, praticamente a única alternativa económica ao turismo, disse Cláudio Sampaio, professor de engenharia de pesca na Universidade Federal de Alagoas.

Este ano, as capturas de polvo, peixe e camarão diminuíram com o branqueamento e as altas temperaturas, somando-se aos problemas já existentes de poluição e sobrepesca, disse Johnny Antonio da Silva Lima, um pescador de 40 anos que vive na Costa dos Corais. “Por vezes é um calor insuportável”, disse Silva Lima.

“Sentimos isso porque estamos sempre a caminhar sobre as rochas, à procura de polvos, principalmente, e também a pescar com linhas de vara na borda dos corais. A gente sente isso na pele.”

A maioria dos corais do Brasil vive em águas mais turvas, o que ajuda a protegê-los do sol, e cresce em formações maciças, que também os tornam mais resistentes, de acordo com um estudo de 2020.

Anteriormente, estes recifes só haviam sido atingidos por um evento mortal de branqueamento em 2019-2020, que matou até 50% das espécies distintas de corais-cérebro da região e 90% do coral Millepora alcicornis. O actual branqueamento está a atingir novamente estas mesmas espécies no parque da Costa dos Corais, disse Miguel Mies.

Os corais são animais que têm uma relação simbiótica com microalgas que vivem nos seus tecidos, dando-lhes as suas cores brilhantes, que se perdem num evento de branqueamento.

“Um coral branqueado seria algo como se nós, seres humanos, de repente tivéssemos pele e órgãos transparentes. Assim, poderíamos ver os nossos ossos por baixo da nossa pele", disse Mies. Os corais podem recuperar se as águas arrefecerem a tempo de serem repovoadas por microalgas.

Se o actual branqueamento se tornará o mais grave de que há registo a nível nacional, isso dependerá de o recife de Abrolhos, mais a sul, estar também tão danificado como em 2020, disse Mies.

Até agora, o recife de Abrolhos tem sofrido um impacto limitado. Mas, com a previsão de que as águas permaneçam quentes ao longo de Abril, Mies diz que isso pode mudar.

O que quer que sobreviva deve ser estudado para determinar que características ajudaram a torná-lo mais resistente, uma vez que os cientistas estão a tentar saber que espécies podem resistir às alterações climáticas, disse Asner, do programa Allen Coral Atlas. “Esses serão os indivíduos genéticos que se propagarão e florescerão num mundo futuro”, afirmou.