Feira do Livro de Buenos Aires opõe-se à participação de Milei no evento
Alejandro Vaccaro, presidente da Fundación el Libro, que organiza o evento em que Lisboa é a cidade convidada criticou o presidente argentino pelo corte orçamental na cultura.
A cerimónia de abertura da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, na quinta-feira à noite, ficou marcada por fortes críticas da organização ao presidente argentino, Javier Milei, e pela oposição à sua participação no certame, prevista para dia 12.
Num discurso que começou por enaltecer "o livro, a cultura e a democracia", Alejandro Vaccaro, presidente da Fundación el Libro, que organiza o evento, dirigiu duras críticas a Javier Milei e aos seus cortes no financiamento público, nomeadamente na Cultura - que o público apoiou ruidosamente com aplausos, gritos e apupos -, e considerou que na actual conjuntura a feira reapresenta "a resistência".
Alejandro Vaccaro afirmou que não há memória de uma feira em que o Governo nacional tenha estado ausente, sem um stand, e considerou que "a desculpa de que a participação do Estado Nacional na feira implicava um gasto de 300 milhões de pesos não passa de uma mentira descarada".
"Depois de uma árdua negociação, na qual concordámos com todas as suas exigências, o Banco Nacional decidiu retirar, depois de muitos anos, o seu patrocínio à Feira, fazendo saber que a ordem vinha 'de cima'", revelou.
Acresce a isto que o presidente argentino, "depois de desprezar" a feira, não se coibiu de pedir para participar, para lançar o seu ensaio Capitalismo, socialismo y la trampa neoclássica, evento agendado para o próximo domingo, dia 12 de Maio, na zona central de La Rural, onde decorre a feira do livro.
No entanto, Alejandro Vaccaro foi claro ao afirmar que a presença do chefe de Estado da Argentina na feira "implica uma série de despesas extraordinárias que a Fundación el Libro não pode suportar".
"Não há dinheiro, portanto, tudo o que se relacione com a sua segurança e a das pessoas que assistam ao seu evento será por sua conta e risco", alertou.
Assinalando a "perda abrupta do poder de compra que se sente no país", o responsável lamentou que numa altura em que o mercado livreiro começava a dar sinais de recuperação após a pandemia, encontra novamente um travão. Alejandro Vaccaro indicou que em 2015 foram produzidos 129 milhões de livros, valor que desceu para 48 milhões em 2023. "Este ano, o valor final não se escreve com números, mas com palavras: será paupérrima", afirmou.
Para o organizador, trata-se de "um ataque desapiedado a todas as expressões culturais", que representa um "ataque a coração da cultura."
"Participar na feira este ano representa um acto de rebeldia e resistência. Como nunca antes, este espaço plural e activo será o eixo central em torno do qual girará o repúdio de todas as forças culturais contra as políticas devastadoras propostas por este governo", disse.
A cerimónia contou também com a intervenção do embaixador de Portugal, José Ludovice, como representante de Lisboa, cidade convidada de honra da feira, na ausência do presidente da autarquia, Carlos Moedas, que ficou em Lisboa para participar das cerimónias do 25 de Abril.
Foi precisamente a evocação desse acontecimento histórico que serviu de ponto de partida para a intervenção do diplomata português.
"É uma honra estar aqui no dia em que celebramos 50 anos da Revolução dos Cravos, que permitiu ao povo conquistar a liberdade, a democracia e a dignidade. Se não tivesse ocorrido, não estaríamos hoje aqui convosco. É um dia memorável para nós", declarou.
A Lusa viajou até Buenos Aires a convite da Câmara Municipal de Lisboa