Tita Maravilha vence Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II

A actriz, encenadora e programadora brasileira, radicada em Portugal desde 2018, assinou obras como Trypas Corassão: Espectáculo em Dois Actos ou As Três Irmãs .

Foto
A actriz, performer e encenadora Tita Maravilha Filipe ferreira
Ouça este artigo
00:00
03:55

A artista multidisciplinar brasileira Tita Maravilha, "que tem agitado águas no panorama performativo português", venceu o Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II. O anúncio foi feito no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, antes do espectáculo Quis Saber Quem Sou - Um Concerto Teatral, de Pedro Penim.

“Recebo este Prémio de coração aberto. Hoje é um grande dia. Celebro a minha existência, a minha trajectória, mas não só. Celebro todas as que vieram antes de mim”, referiu no seu agradecimento, citada no comunicado de imprensa, Tita Maravilha, que se define como “inventora de universos” que traz para os seus processos artísticos “as dores e delícias de ser um corpo dissidente”.

Com um valor de 5000 euros, o Prémio Revelação é atribuído a uma pessoa ligada ao teatro português, que tenha até 30 anos e cujo trabalho artístico se tenha destacado no ano anterior, neste caso, 2023.

A actriz, cantora, encenadora, performer e programadora nasceu no interior do estado de Goiás e está radicada em Portugal desde 2018. Desde então, assinou obras como Trypas Corassão: Espectáculo em Dois Actos (2020), Tita no País das Maravilhas (2021), Exercício para Performers Medíocres (2021), Exercício para um Teatro Pobre ou Carta a Grotowski (2022) e As Três Irmãs (2022).

O presidente do conselho de administração do D. Maria II, Rui Catarino, afirmou que Tita Maravilha "tem agitado águas no panorama performativo português e simboliza a qualidade, diversidade e efervescência do teatro que se faz em Portugal".

Em 2022, a artista, que estudou artes cénicas na Universidade de Brasília, já tinha conquistado também a Bolsa Amélia Rey Colaço, da qual o D. Maria II é um dos promotores, para o projecto As Três Irmãs, a sua primeira obra em nome individual. Nesta, recria a peça do dramaturgo russo Anton Tchékhov, em que Diogo, Macha e Irina vivem numa cidade no interior da Rússia e desejam mais que tudo voltar a Moscovo, a sua terra natal. “Nesta versão de As Três Irmãs criarei uma deliciosa trama sobre irmãs de sangue que se descobrem pessoas trans e não binárias no mesmo percurso em que se tentam inserir na sociedade. Quero sobrepor a trama original a um tema que grita por atenção e que pouco tem sido discutido com sabedoria e lugar de fala”, explicava na altura Tita Maravilha.

A actriz foi parte integrante do grupo de teatro Trazeiros de Teatro Caseiro e do projecto musical Rainhas do Babado, que lançou o álbum Sintomas de Destruição, em 2018. Juntamente com Ágatha Barbosa (a.k.a. Cigarra), Tita Maravilha desenvolveu o projecto de música electrónica e performance Trypas Corassão, que já passou por São Paulo, Brasília, Paris, Estocolmo, Berlim e Lärz. O álbum de estreia, Beleza Como Vingança, foi considerado em 2022 pelo crítico Vítor Belanciano "um objecto fascinante, sonoramente rico e luxuriante".

Como intérprete, trabalhou com artistas como Sónia Baptista, Carlota Lagido, Odete, Xana Novais, Keli Freitas e Raquel André. É também curadora do Precárias: Festival de Performance que aconteceu em 2022, em Lisboa, e se vai realizar também durante este ano. “Antes de eu entender que era uma pessoa trans e que era artista, a minha família já me dizia que eu era pobre, que eu não ia poder ter o que queria. Então é um festival quase autobiográfico, juntando artistas parceiras que contam as suas histórias também”, explicava ao PÚBLICO na primeira edição.

O júri deste ano do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II foi constituído por Álvaro Correia, António Durães, Catarina Barros, Cucha Carvalheiro, Cristina Carvalhal, Isabel Zuaá, John Romão, Mário Coelho, Marta Carreiras, Patrícia Portela, Pedro Barreiro, Pedro Mendes, Rui Pina Coelho, Sara Barros Leitão e Tónan Quito.

O prémio tem sido atribuído anualmente desde 2020, tendo já reconhecido o trabalho de Sara Barros Leitão, Mário Coelho, Cárin Geada e Pedro Azevedo.