Quem é Fernando Araújo, o médico e gestor que se demitiu da direcção do SNS?
Foi secretário de Estado adjunto e da Saúde, quando Adalberto Campos Fernandes assumiu a pasta e presidiu ao conselho de administração do Hospital de São João no período mais intenso da pandemia.
Foi o primeiro CEO (ou director executivo) do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e em 15 meses pôs em andamento e lançou medidas que “eram reivindicadas há décadas”, como sustentou na sua carta de despedida, enviada às redacções nesta terça-feira. Com uma carreira ligada ao serviço público de saúde, antes de assumir o cargo de director executivo do SNS Fernando Araújo presidia, desde 2019, ao conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto.
Durante vários meses assinou um artigo de opinião semanal no Jornal de Notícias. Na missiva de despedida que então escreveu no jornal, salientou os esforços dos profissionais de saúde do SNS, dando como exemplo os do hospital ao qual presidia à data. Recorde-se que o São João foi um dos primeiros hospitais a sentir o impacto da pandemia de covid-19 e um dos que melhor resistiu, tornando-se, aliás, numa instituição “farol” nesse período.
No referido artigo de opinião, Fernando Araújo deixou também expressa aquela que considera ser uma “pedra angular na futura política da saúde”: a prevenção da doença, “incidindo nos seus principais determinantes”.
Antes de assumir a direcção do São João, tinha já desempenhado funções governativas, como secretário de Estado adjunto e da Saúde entre 2015 e 2018, quando Adalberto Campos Fernandes assumiu o cargo de ministro.
E foi nessa altura que assinou, juntamente com outros autores, um estudo sobre o impacto do imposto sobre as bebidas açucaradas na redução do açúcar consumido, um ponto fundamental no combate à obesidade.
Como secretário de Estado adjunto e da Saúde, tomou muitas medidas no âmbito da organização dos cuidados primários e hospitalares. Contribuiu também em grande medida para o aumento progressivo de médicos dentistas, nutricionistas e psicólogos, um trabalho que realizou em íntima colaboração com a Coordenação Nacional para a Reforma dos Cuidados de Saúde Primários que trabalhava junto do seu gabinete.
Na Administração Regional de Saúde do Norte ocupou posições de destaque, primeiro como vice-presidente e mais tarde, em 2009, como presidente deste organismo responsável pela gestão da saúde no Norte do país. Mas viria a extinguir estes organismos, já enquanto director executivo do SNS com a promoção, em Janeiro deste ano, das unidades locais de saúde (ULS), um modelo de organização que integra os centros hospitalares, os hospitais e os agrupamentos de centros de saúde de uma determinada área geográfica.
Especialista em Imuno-hemoterapia, foi director do serviço de Imuno-hemoterapia do Centro Hospitalar de São João. Foi ainda um dos responsáveis pelo lançamento do programa de cirurgia de ambulatório e passou pela Comissão Nacional de Luta contra a Sida. Araújo desempenhou também funções no Conselho Nacional para o Serviço Nacional de Saúde da Ordem dos Médicos, onde presidiu à direcção do Colégio da Especialidade de Imuno-hemoterapia. Além de ser doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, do seu currículo consta também uma pós-graduação em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa.
O mandato de Fernando Araújo teria a duração prevista de três anos e poderia ser renovado até três vezes consecutivas. Não foi além dos 15 meses.
Quando terminar a sua passagem pela Direcção Executiva do SNS, ou seja, assim que entregar o relatório de actividade solicitado pelo Governo dentro de 60 dias, Fernando Araújo, diz que vai “de forma tranquila”, voltar à actividade assistencial, de docente e de investigação, como médico do SNS e professor universitário.