Demissão de Fernando Araújo: “Vamos perceber rapidamente a falta que ele faz ao país e ao SNS”, diz Pizarro

Ex–ministro da Saúde elogia “verticalidade e independência” do ainda director-executivo do SNS, lamentando que estas qualidades nem sempre sejam “apreciadas pelo poder político”.

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Manuel Pizarro foi, enquanto ministro da Saúde, o impulsionador da Direcção-Executiva do SNS Matilde Fieschi (arquivo)
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O médico Fernando Araújo e toda a equipa da Direcção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) vão fazer muita falta ao país, garantiu o ex-ministro da Saúde e agora deputado pelo PS Manuel Pizarro.

“Fernando Araújo é um médico excepcional, um professor universitário de mérito, um gestor público com provas dadas, um cidadão a quem os portugueses muito devem”, escreve Manuel Pizarro, num post publicado na sua página do Facebook.

Recusando comentar as circunstâncias que diz terem forçado Araújo a apresentar um pedido de demissão extensível a toda a sua equipa, o ex-titular da Saúde considera que aquele responsável “até no momento em que se demite mostra a sua elegância e o seu desprendimento”.

“Dou público testemunho do meu apreço e admiração por ele, pela sua verticalidade e pela sua independência. Qualidades que nem sempre são muito apreciadas pelo poder político nas pessoas que ocupam lugares de chefia na administração pública”, elogia Pizarro, antes de concluir: “Vamos perceber rapidamente a falta que ele faz ao país e ao SNS”.

Fernando Araújo disse esta terça-feira ter optado por se demitir do cargo que ocupava desde o dia 2 de Novembro de 2022 para não correr o risco de se tornar um “obstáculo”, isto é, para que o Ministério da Saúde “possa executar as políticas e as medidas que considere necessárias, com a celeridade exigida, evitando que a actual DE-SNS “possa ser considerada um obstáculo à sua concretização”.

Em Bruxelas, a ministra Ana Paula Martins disse-se "surpreendida" por este pedido de demissão entre cujas razões está o desconforto criado pelo facto de Fernando Araújo ter sabido ao mesmo tempo que a comunicação social do prazo dado pelo ministério para que apresente em 60 dias um relatório de actividade. O objectivo da tutela é avaliar o resultado das mudanças organizacionais efectuadas no último ano e meio no SNS e que vão da generalização das Unidades Locais de Saúde (ULS) a todo o país à reorganização das urgências hospitalares e à universalização das Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo B​.

"Queremos mapear as atribuições de cada uma das entidades", justificou então a ministra, que nunca escondeu a sua discordância face à decisão de incluir os hospitais universitários nas ULS, o que a levou a abandonar o cargo de presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), a que pertencem os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, no final do ano passado.

O alargamento da validade das receitas para 12 meses, a vacinação nas farmácias comunitárias e a simplificação das baixas médicas são exemplos de outras alterações recentes com impacto na vida dos cidadãos desde que a DE-SNS começou a funcionar, em Janeiro de 2023.

Na reacção, a líder da bancada parlamentar do PS, Alexandra Leitão, considerou que "é importante esclarecer o país, através do Parlamento, das razões desta saída e também perceber o que o Ministério da Saúde pretende fazer".

"Podemos estar a assistir a uma lógica de reversão de uma reforma que estava em curso e que ainda não foi avaliada", acrescentou Leitão aos jornalistas, justificando assume a decisão de chamar Ana Paula Martins e Fernando Araújo à comissão parlamentar de Saúde.

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