Comissão: renováveis podem melhorar balança comercial, mas rede eléctrica é um “desafio”

Bruxelas considera que a possibilidade de reduzir as importações energéticas graças ao aumento de produção renovável pode reforçar a posição externa de Portugal.

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“A médio e longo prazo, prevê-se que Portugal continue a reduzir o défice comercial de energia", refere o relatório da Comissão Europeia Daniel Rocha
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O crescimento da produção de energia renovável e a menor utilização de gás natural para produção eléctrica é um dos factores que podem ajudar Portugal a melhorar o equilíbrio da balança comercial e os seus indicadores de sustentabilidade externa, destacou a Comissão Europeia no relatório de análise aprofundada às políticas dos Estados-membros relacionado com o Semestre Europeu (o exercício de coordenação de políticas a nível da União Europeia), divulgado na terça-feira.

Neste documento, a Comissão elogiou o desenvolvimento das renováveis e a implementação de medidas eficiência energética, embora reconheça que a falta de capacidade da rede eléctrica para acolher mais energia limpa é um dos desafios no caminho português.

“A médio e longo prazo, prevê-se que Portugal continue a reduzir o défice comercial de energia. Os projectos em curso nos domínios da eficiência energética, das energias renováveis e da descarbonização industrial, incluindo iniciativas financiadas pelo plano de recuperação e resiliência (PRR) e pelos programas da política de coesão, deverão reforçar ainda mais a posição externa do país”, lê-se no relatório relativo à economia portuguesa.

No entanto, Bruxelas salienta que, entre a expectativa e a realidade, há detalhes que fazem a diferença. Segundo o relatório, existem “alguns desafios relacionados com a capacidade da rede eléctrica para acolher novos projectos de renováveis”, há também que aprofundar as interconexões energéticas com Espanha e desenvolver no país “novas competências laborais necessárias para a transição ecológica”, nomeadamente os chamados “empregos verdes” especializados nas novas tecnologias.

Mas, assumindo que os constrangimentos vão sendo ultrapassados, e uma vez que a factura energética “foi uma importante fonte de vulnerabilidade para o saldo global da balança corrente no passado, particularmente durante os aumentos acentuados dos preços da energia em 2022, a descarbonização em curso da economia deverá reduzir os riscos para a sustentabilidade da dívida externa do país”, refere ainda a Comissão.

Em 2022, segundo os dados divulgados pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o saldo importador de produtos energéticos foi de 11,831 mil milhões de euros, representando um aumento de 124,2% em euros e 93,4% em dólares.

O agravamento da factura energética deveu-se “ao aumento generalizado dos preços dos produtos energéticos, em grande parte motivado pela pandemia covid-19 e a instabilidade dos preços ao nível internacional, também resultado do conflito ente a Rússia e a Ucrânia”.

Em 2022, “verificou-se uma subida generalizada das quantidades [de produtos energéticos] importadas” (incluindo electricidade, através das interligações com Espanha, e de gás natural, visto que foi um ano de baixa produção nas centrais hidroeléctricas) e dos preços médios de importação.

Daí que as renováveis, nomeadamente o reforço da capacidade instalada de produção solar e de produção hídrica com bombagem (o projecto da Iberdrola no Tâmega) sejam vistas por Bruxelas como progressos significativos em termos de indicadores da sustentabilidade externa do país.

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