Questões de identidade e memória unem obras dos finalistas do Prémio Turner

Pio Abad, Claudette Johnson, Jasleen Kaur e Delaine Le Bas são os artistas nomeados ao mais importante prémio de arte contemporânea britânico. O vencedor é conhecido a 3 de Dezembro na Tate Britain.

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A artista escocesa Jasleen Kaur, 32 anos. O júri do Turner elogiou "a combinação evocativa do som e da escultura” no trabalho da artista Kate Green/Getty Images
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A artista Claudette Johnson é conhecida pelos seus “retratos figurativos de mulheres e homens negros" ALISHIA ABODUNDE/getty images
O anúncio do vencedor do Prémio Turner vai acontecer na Tate Britain a 3 de Dezembro
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O anúncio do vencedor do Prémio Turner vai acontecer na Tate Britain a 3 de Dezembro Cortesia Tate Britain/Rikard Osterlund
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O artista filipino que trabalha em Inglaterra Pio Abad e as artistas britânicas Claudette Johnson, Jasleen Kaur e Delaine Le Bas são os quatro finalistas nomeados ao Prémio Turner, que nesta edição comemora o seu 40.º aniversário. Por isso, a exposição que habitualmente dá a conhecer ao público as obras dos seleccionados regressa à Tate Britain, em Londres, onde não se realizou nos últimos seis anos.

Colonialismo, migração, nacionalismo e políticas de identidade são, segundo o jornal britânico The Guardian, os temas desta edição daquele que é o mais importante prémio de arte contemporânea britânico e que pode ser atribuído a um artista que tenha nascido no Reino Unido ou que lá trabalhe. A selecção é feita com base em trabalhos ou exposições realizadas no ano anterior.

"No 40.º aniversário do Prémio Turner, esta lista prova que o talento artístico britânico está tão rico e vibrante como sempre”, considerou o presidente do júri, Alex Farquharson. "Todos estes artistas exploram questões de identidade, de comunidade, a autobiografia e também a relação do eu com a memória, ou ainda a história e o mito", considerou aquele que é também director da Tate Britain na conferência de imprensa em que foi feito o anúncio dos quatro seleccionados. O júri desta edição de 2024 é ainda constituído por Rosie Cooper, directora do Wysing Arts Centre; pelo escritor e curador Ekow Eshun; por Sam Thorne, o director executivo da Japan House London e pela curadora e historiadora de arte Lydia Yee.

Foi a “precisão e a elegância” com que Pio Abad, 41 anos, combina “investigação com novos trabalhos artísticos” para questionar os museus, bem como a “sensibilidade e a clareza” com que o artista traz “a história para o presente” que cativou o júri. Segundo o comunicado divulgado pela organização do Prémio Turner, foi a exposição To Those Sitting in Darkness realizada no Museu Ashmolean, em Oxford, no ano passado, que contou para a selecção do artista que nasceu em Manila. Os seus desenhos, gravuras e esculturas “retratam, justapõem e transformam artefactos dos museus de Oxford”, referem, colocando em destaque “histórias negligenciadas” e traçando paralelos com utensílios familiares e domésticos. O trabalho de Pio Abad dá conta da “perda cultural e da história colonial”, acrescenta o comunicado, “muitas vezes reflectindo sobre a educação que teve no país onde nasceu, as Filipinas.”

Claudette Johnson, 65 anos, que é conhecida pelos seus “retratos figurativos de mulheres e homens negros numa combinação de tons pastéis, guache e aguarela”, foi indicada para este prémio por causa das exposições Presence na The Courtauld Gallery, Londres, e por Drawn Out na Ortuzar Projects, de Nova Iorque. O ano passado foi, na visão do júri do Prémio Turner, “um marco na sua carreira”. Ficaram impressionados com a maneira “sensível e dramática” como a artista usa o seu “traço, as cores, o espaço e a escala” para expressar “empatia e intimidade” com os seus temas. “Contrariando a marginalização dos negros na história da arte ocidental, Johnson mudou a perspectiva e dá aos retratos que faz da sua família e amigos um sentido palpável de presença”, refere ainda o comunicado.

Explorando “a herança cultural, a solidariedade e a autobiografia”, a artista escocesa Jasleen Kaur, 32 anos, que foi criada numa comunidade sikh de Glasgow, tem criado esculturas a partir de objectos do quotidiano e a que junta um ambiente sonoro que lhes dá “uma estranha ilusão de vida”. Podem ser instalações feitas a partir de fotografias de família, de um tapete Axminster, ou ainda de um Ford Escort vintage coberto por um guardanapo gigante. O júri elogiou "a combinação evocativa do som e da escultura” no trabalho da artista que assim "aborda especificidades da memória familiar e da luta comunitária".

Por fim, Delaine Le Bas, 58 anos, na exposição Incipit Vita Nova. Here Begins The New Life/A New Life Is Beginning, que apresentou no ano passado na galeria Secession, em Viena, aproveitou “a rica história cultural do povo cigano" e "o seu interesse pelas mitologias" para, depois do falecimento da sua avó, abordar temas como “a morte, a perda e a renovação.” A galeria foi transformada com tecidos pintados, trajes teatrais e esculturas. O júri, revela ainda o comunicado, ficou “impressionado” com “a energia e o imediatismo” mostrados na exposição bem como com a sua “poderosa capacidade de fazer arte num tempo de caos.”

Vencedor a 3 de Dezembro

"Todas as obras destes artistas abordam o mundo de maneiras muito diferentes, obrigando-nos a olhar para ele a partir dos seus pontos de vista muito particulares", considerou por sua vez o crítico de arte britânico Adrien Searle, na sua coluna publicada esta quarta-feira no The Guardian. Estes são "artistas de origens muito diferentes, cujo trabalho reflecte as comunidades de onde provêm e o lugar da arte na sociedade em geral", explica Searle para quem as exposições das várias edições da Bienal de Veneza e da Documenta, nas últimas décadas, têm feito um esforço para serem mais inclusivas. "Os trabalhos de grupos indígenas e de comunidades e diásporas que eram antigamente ignoradas estão agora mais em evidência do que nunca. Isto não é apenas uma moda”, defende o crítico no The Guardian. “O progresso, mesmo no contexto do crescente nacionalismo populista, é irreversível. O foco mudou."

Uma exposição que mostrará trabalhos dos seleccionados para o Turner será inaugurada 23 de Setembro na Tate Britain, em Londres, e o anúncio do vencedor acontecerá numa cerimónia marcada para 3 de Dezembro. O valor monetário deste prestigiado prémio é de 25 mil libras (29 mil euros) para o primeiro classificado e de dez mil libras (cerca de 12 mil euros) para os outros finalistas. A exposição na Tate poderá ser visitada até 16 de Fevereiro de 2025.

Anish Kapoor, Antony Gormley, Rachel Whiteread, Damien Hirst ou Steve McQueen são alguns dos premiados nas últimas décadas. No ano passado, o prémio foi atribuído ao artista Jesse Darling.

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