Cientistas criam teste para diagnosticar múltiplos cancros com base em sangue seco

Ferramenta de diagnóstico pode ser utilizada em vários tipos de cancro, incluindo os cancros pancreático, gástrico e colorrectal.

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Estima-se que 70% das mortes relacionadas com o cancro em todo o mundo ocorrem em países de baixo e médio rendimento Daniel Rocha
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Mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo são afectadas por uma taxa elevada de diagnósticos falhados, e estima-se que 70% das mortes relacionadas com o cancro em todo o mundo ocorrem em países de baixo e médio rendimento, onde o acesso às melhores técnicas de diagnóstico pode ser escasso. Justifica-se assim a necessidade de desenvolver testes de diagnóstico do cancro com precisão e acessíveis.

É aqui que entra o trabalho de uma equipa de investigadores da China, que desenvolveu uma ferramenta de diagnóstico “com precisão, acessível, ecológica e de fácil utilização para vários tipos de cancro, incluindo os cancros pancreático, gástrico e colorrectal”, destaca um resumo da Nature Sustainability, revista na qual a descoberta foi publicada na edição desta semana.

Este instrumento, acrescenta o resumo, “é capaz de diagnosticar cancros em poucos minutos e poderá ajudar a resolver a necessidade de ferramentas de diagnóstico acessíveis, especialmente em áreas remotas” – sejam elas “regiões ecologicamente sensíveis ou com limitações energéticas”.

O método de diagnóstico de cancro de que aqui falamos tem por base a detecção de metabolitos (substâncias resultantes do metabolismo) e utiliza amostras de sangue seco, em particular, amostras de soro seco, em vez do tradicional armazenamento de sangue líquido.

“Esta ferramenta proporciona uma solução ecológica e estável em termos de metabolitos para a recolha e o armazenamento de amostras biológicas”, acrescenta o resumo da Nature Sustainability.

Os investigadores combinaram este método com a espectrometria de massa melhorada por nanopartículas, aumentando “a sensibilidade e a velocidade de detecção”, destaca o resumo.

Os autores do estudo acreditam que esta abordagem permite o diagnóstico de cancros pancreáticos, gástricos e colorrectais em poucos minutos, permitindo uma maior acessibilidade, sustentabilidade e precisão. Com a colaboração de programas de rastreio do cancro de base populacional, os cientistas sugerem que a implementação desta ferramenta em regiões menos desenvolvidas poderia reduzir em entre 20,35 e 55,10% os diagnósticos falhados de cancro colorrectal, gástrico e pancreático.

No artigo científico, os autores escrevem que “o diagnóstico metabólico é prometedor, mas enfrenta desafios devido à aplicabilidade dos espécimes biológicos e à robustez limitada das ferramentas analíticas”. E salientam que a sua abordagem “poderia reduzir a proporção estimada de casos não diagnosticados de cancro colorrectal de 84,30% para 29,20%, do cancro gástrico de 77,57% para 57,22% e do cancro do pâncreas de 34,56% para 9,30% – uma redução global na ordem dos 20,35 a 55,10%”.

Os cientistas referem ainda que, “por oposição aos testes in vivo efectuados em instalações especializadas, os testes in vitro, especialmente utilizando soro [plasma sanguíneo], podem ser efectuados através de uma rede integrada de laboratórios centrais em ambientes de cuidados primários”.

As amostras de sangue seco “utilizam substratos transportáveis para centralizar os testes em laboratórios regionais ou centrais”, exigindo condições de armazenamento “simples”.

A equipa refere ainda que, actualmente, estes testes in vitro demonstraram “sucesso em larga escala num estudo metabólico, abrangendo mais de 95% de todos os recém-nascidos em países desenvolvidos no rastreio de doenças metabólicas congénitas”.

“Um diagnóstico metabólico acessível pode ajudar os sistemas de saúde a identificar indivíduos com um metabolismo anormal do cancro. Por conseguinte, a monitorização das alterações metabólicas induzidas pelo cancro utilizando sangue seco é importante para a sustentabilidade da hierarquia médica [estrutura organizacional que define a ordem de autoridade e responsabilidade dentro da área da medicina], especialmente nas regiões menos desenvolvidas”, concluem.

Testes em desenvolvimento

Apesar de ainda não ser uma prática clínica com provas científicas dadas, muitos utentes norte-americanos já começam a usar testes ao sangue como se de um rastreio oncológico se tratasse.

Estes novos testes sanguíneos de detecção do cancro –​ cerca de 20 testes estão em diferentes fases de desenvolvimento – medem os “sinais” do cancro, ou seja, identificam as substâncias biológicas libertadas pelas células cancerosas, como fragmentos de ADN tumoral. Alguns poderão mesmo identificar o órgão ou o tecido afectado.

Embora estas descobertas sejam prometedoras, os especialistas alertam para os inconvenientes. Até ao momento, não há provas de que a detecção do cancro através de uma análise ao sangue se traduza numa maior sobrevivência e num menor número de mortes, ou mesmo numa cura.

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