Antigo patrão do National Enquirer confirma acordo para ajudar Trump em 2016
David Pecker admitiu, sob juramento, que o seu jornal “retocava” informações fornecidas pelo advogado de Donald Trump por forma a prejudicar adversários políticos.
O empresário norte-americano David Pecker, antigo patrão do jornal sensacionalista nova-iorquino National Enquirer, confirmou esta terça-feira, sob juramento, que pagou para manter em segredo informações que podiam ter prejudicado Donald Trump na campanha eleitoral de 2016, e que publicou "notícias retocadas" com o objectivo de atacar os adversários políticos do ex-Presidente dos EUA.
O testemunho de Pecker, de 72 anos, é uma peça central na acusação do Ministério Público de Manhattan contra Trump, que está a ser julgado num caso relacionado com o pagamento pelo silêncio de uma antiga actriz de filmes pornográficos na campanha de 2016.
Segundo a acusação, Trump violou as leis antifraude de Nova Iorque em 2017, quando inscreveu nas contas da sua empresa, a Trump Organization, uma despesa de 130 mil dólares (122 mil euros) que foi registada como honorários pagos ao seu advogado da altura, Michael Cohen.
A acusação afirma que o montante foi usado por Cohen em 2016 — a poucos dias da eleição — para pagar pelo silêncio de uma antiga actriz de filmes pornográficos, Stormy Daniels, que ameaçava dizer em público que tinha mantido uma relação amorosa com Trump em 2006, numa altura em que Melania Trump, a actual mulher do ex-Presidente dos EUA, estava grávida.
Para obter a condenação de Trump por fraude, o Ministério Público de Manhattan terá de demonstrar que a falsificação foi feita de forma intencional e com o objectivo de esconder o pagamento a Daniels — um pagamento que, segundo a acusação, violou as leis de Nova Iorque ao silenciar uma informação que podia ser importante para a decisão de voto.
Com a bênção de Cohen
É neste contexto que o testemunho de Pecker — e o de Cohen, que será ouvido mais tarde — é essencial para convencer os jurados de que Trump estava ao corrente de tudo o que se passou entre a sua campanha e o National Enquirer.
Esta terça-feira, no segundo dia de testemunho, Pecker não desiludiu a acusação. Segundo o antigo patrão do tablóide nova-iorquino, Trump e Cohen abordaram-no em Agosto de 2015 — poucas semanas depois de Trump ter anunciado a sua candidatura à Casa Branca — para lhe perguntar o que poderia ele fazer para promover a candidatura presidencial.
"Cohen telefonava-me e dizia-me que queria que eu publicasse uma história negativa sobre uma determinada pessoa — Ted Cruz, por exemplo", disse Pecker, referindo-se ao senador do Texas que concorreu contra Trump nas primárias do Partido Republicano em 2016. "Ele enviava-nos informações sobre Ted Cruz, ou Ben Carson, ou Marco Rubio, e nós retocávamos a história."
Em 2016, o National Enquirer fez vários títulos de primeira página direccionados aos adversários de Trump que se iam destacando nas sondagens durante as primárias, como Cruz e Carson.
Esta terça-feira, os procuradores de Manhattan exibiram na sala do julgamento cópias de alguns desses títulos, incluindo "O desastrado cirurgião Ben Carson esqueceu-se de uma esponja no cérebro de um paciente!" e "Ted Cruz envergonhado por uma estrela porno"; segundo Pecker, estes e outros títulos só eram publicados após a aprovação de Cohen.
Segundo o juiz, o julgamento de Trump deverá terminar em finais de Maio.
Se vier a ser considerado culpado, o ex-Presidente dos EUA — o primeiro a ser julgado por uma acusação criminal — pode ser condenado a um máximo de quatro anos de prisão. Devido à sua idade (77 anos) e ao facto de não ter antecedentes criminais, é provável que não seja obrigado a cumprir uma pena de prisão efectiva se vier a ser condenado.