Doença rara: identificadas células-chave para prevenir a aterosclerose na progéria

É uma doença genética extremamente rara, estimando-se que actualmente vivam cerca de 400 crianças em todo o mundo. Em Portugal, são conhecidos apenas dois casos de pessoas com progéria.

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Sequência de ADN NHGRI/NIH
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Uma equipa internacional de investigadores identificou células-chave para prevenir a aterosclerose em pessoas que sofrem da síndrome de progéria, uma doença muito rara que causa envelhecimento prematuro e acelerado de quem a sofre.

A síndrome de progéria é uma doença genética extremamente rara que afecta uma pessoa em 20 milhões, estimando-se que actualmente vivam cerca de 400 crianças em todo o mundo. Em Portugal, são conhecidos apenas os casos de duas pessoas com progéria, que já morreram. Cláudia Amaral, de Viseu, morreu aos 23 anos em 2023, tendo sido uma das poucas pessoas com progéria a atingir essa idade em todo o mundo.

A doença é caracterizada por induzir envelhecimento acelerado, aterosclerose grave e morte prematura em idade média de aproximadamente 15 anos. Em Portugal, tem sido estudada pelas equipas de Cláudia Cavadas e Célia Aveleira, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra.

Os resultados da nova investigação foram publicados esta segunda-feira, na revista The Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), por uma equipa de cientistas liderada pelo Centro Nacional de Investigação Cardiovascular Carlos III (CNIC), em Madrid, Espanha.

As doenças raras representam um grande problema social e de saúde, uma vez que se estima que existam perto de 7000 e que afectem 7% da população mundial, recordou o CNIC em comunicado, citado pela agência noticiosa Efe.

Embora os pacientes com progéria (ou síndrome de Hutchinson-Gilford, como também é o seu nome) normalmente não apresentem os factores de risco cardiovasculares típicos (hipercolesterolemia, obesidade ou tabagismo), a sua principal causa de morte são as complicações da aterosclerose, como enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca.

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A equipa de cientistas espanhola que publicou novos resultados sobre a progéria DR

Actualmente não há cura para a progéria, pelo que o CNIC enfatizou a urgência do desenvolvimento de novas terapias que previnam a aterosclerose e outras alterações vasculares associadas à doença para aumentar a expectativa de vida dos pacientes.

A causa genética da doença é uma mutação num gene (o LMNA) que provoca a produção da progerina, uma versão mutante de uma proteína chamada “lamina A”, que induz numerosos efeitos nocivos a nível celular e do organismo, explicou o CNIC.

Estudos recentes desta síndrome realizados em modelos animais mostraram que será possível corrigir esta mutação através da edição genética, e que a consequente eliminação da progerina e recuperação da produção da proteína lâmina A melhora as alterações características de doenças e prolonga a expectativa de vida.

Para optimizar a terapia genética para um potencial tratamento de pacientes com progéria, é importante identificar os tipos de células nos quais a deleção da progerina produz mais benefícios.

Para responder a esta questão, o laboratório de Vicente Andrés, do Centro Nacional de Investigação Cardiovascular Carlos III, utilizou ratinhos com esta síndrome, tendo os cientistas apontado as células musculares lisas vasculares como um possível alvo terapêutico para combater a aterosclerose prematura na progéria.

No novo trabalho publicado pela revista PNAS, e utilizando os mesmos tipos de ratinhos, os cientistas estudaram se a aterosclerose associada a esta síndrome pode ser evitada suprimindo a progerina e restaurando a lâmina A nas células endoteliais ou em células musculares lisas vasculares.

Os cientistas descobriram assim que a eliminação da progerina nas células endoteliais não trazia nenhum benefício, mas trazia quando era eliminada nas células musculares lisas vasculares.