UNRWA tem alguns “problemas de neutralidade política”, mas é “insubstituível”

Relatório independente diz que Israel não fundamentou as acusações sobre o envolvimento de funcionários da agência da ONU para os refugiados palestinianos com o Hamas.

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"Estou confiante que estas medidas ajudarão a UNRWA a cumprir o seu mandato", disse Colonna sobre as suas recomendações Sarah Meyssonnier/Reuters
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Apesar da crise humanitária sem precedentes que se vive na Faixa de Gaza, 16 países, incluindo os Estados Unidos, suspenderam as suas contribuições financeiras à agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) quando Israel afirmou que pelo menos 12 dos seus funcionários estiveram envolvidos no ataque do Hamas de 7 de Outubro e que 10% do pessoal da agência têm laços com grupos armados. Mas segundo uma investigação independente pedida pelas Nações Unidas e liderada pela antiga ministra dos Negócios Estrangeiros francesa Catherine Colonna, Israel “não apresentou provas que sustentem” essas acusações.

Para além do chamado relatório Colonna, redigido pela diplomata, os três institutos de investigação nórdicos que colaboram com a ex-ministra elaboraram uma avaliação mais pormenorizada e técnica à neutralidade da UNRWA. “Até à data, as autoridades israelitas não forneceram quaisquer provas de apoio nem responderam às cartas enviadas pela UNRWA em Março e novamente em Abril, solicitando os nomes e as provas de apoio que permitiriam à UNRWA abrir uma investigação", lê-se no segundo de dois relatórios recebidos esta segunda-feira pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

A investigação “revelou que a UNRWA estabeleceu um número significativo de mecanismos e procedimentos para garantir o cumprimento dos princípios humanitários, com ênfase na neutralidade", e nota que é mais rigorosa nesse esforço do que a maioria das instituições comparáveis (ONG e outras agências da ONU). Apesar disso, “os problemas relacionados com a neutralidade persistem", incluindo "casos em que o pessoal exprime publicamente as suas opiniões políticas”, “livros escolares com conteúdos problemáticos” ou “ameaças” à direcção da agência por parte de “sindicalistas politizados”.

Mas mesmo em relação à crítica mais frequente, segundo a qual as escolas da UNRWA em Gaza, na Cisjordânia, Líbano, Síria e Jordânia usam manuais escolares da Autoridade Palestiniana com conteúdo anti-semita, os três institutos encontraram provas muito limitadas, nomeando apenas dois manuais, um que já foi alterado e outro que foi retirado.

O estudo sugere várias formas de melhorar as garantias de neutralidade, incluindo mais formação presencial ou aumento da capacidade de supervisão interna. "O que precisa de ser melhorado será melhorado. Estou confiante que estas medidas ajudarão a UNRWA a cumprir o seu mandato", disse Colonna, encorajando "a comunidade internacional a apoiar a agência para que esta possa cumprir a sua missão e enfrentar os desafios que se avizinham". Sem uma solução política entre Israel e os palestinianos, “a UNRWA “é insubstituível e indispensável para o desenvolvimento humano e económico dos palestinianos” e é vista por muitos “como uma tábua de salvação humanitária".

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