Antigo patrão do National Enquirer chamado a depor no julgamento de Trump
David Pecker admitiu que o tablóide nova-iorquino faz “jornalismo com cheques”, pagando milhares de dólares para publicar ou para silenciar informações.
Limitado no tempo pelo arranque da Páscoa judaica e por uma consulta no dentista a que um dos 12 jurados não podia faltar, o primeiro dia "a sério" do julgamento de Donald Trump em Nova Iorque — após uma semana reservada para a selecção do júri — ficou marcado pela apresentação dos principais argumentos da acusação e da defesa, e pelo início da audição da primeira testemunha.
Chamado a testemunhar pelos procuradores do Ministério Público de Manhattan, David Pecker, o antigo patrão do grupo American Media — detentor do tablóide nova-iorquino National Enquirer —, admitiu, sob juramento, que o jornal fazia "jornalismo com cheques", ou seja, pagava milhares de dólares às mais variadas fontes para obter informações.
Segundo Pecker, a sua aprovação para este tipo de negócio só era necessária se o pagamento fosse superior a dez mil dólares (nove mil euros).
O testemunho de Pecker, que vai prosseguir na terça-feira, a partir das 16h (hora em Portugal continental), é importante por se tratar de uma peça-chave no principal argumento da acusação — a de que Pecker e Trump tinham um acordo, em 2015 e 2016, mediante o qual o primeiro se comprometia a detectar e a silenciar, com dinheiro, notícias que seriam prejudiciais para o segundo.
Foi no âmbito desse acordo, segundo a acusação, que Trump instruiu o seu advogado da altura, Michael Cohen, a pagar 130 mil dólares (122 mil euros) a Stormy Daniels, uma antiga actriz de filmes pornográficos.
A decisão de pagar a Daniels foi tomada poucos dias antes da eleição presidencial de 2016, quando Pecker teve conhecimento de que a actriz pretendia dizer em público que tinha mantido uma relação amorosa com Trump uma década antes, numa altura em que o ex-Presidente dos EUA já estava casado com a sua actual mulher, Melania Trump.
Para obter a condenação de Trump por falsificação de registos comercias da Trump Organization, os procuradores vão ter de demonstrar que essa falsificação (o registo do pagamento a Daniels como honorários pagos ao advogado) teve como objectivo esconder um outro crime (o de interferência na eleição de 2016, através do silenciamento de uma informação potencialmente prejudicial para um candidato).
A velocidade a que decorreu o primeiro dia do julgamento após a selecção dos jurados, depois de o juiz responsável pelo processo, Juan Merchan, ter anunciado que a sessão ia durar menos tempo do que o normal — devido ao início da Páscoa judaica e a uma consulta de medicina dentária de um jurado —, indica que o prazo inicialmente previsto deverá ser cumprido. Se isso acontecer, o veredicto do primeiro julgamento criminal de um antigo Presidente dos EUA deverá ser anunciado em finais de Maio.