Passos via na troika “um bem virtuoso, eu achava um mal necessário”, diz Portas

Paulo Portas afirma que “quem não se sente não é filho de boa gente”, considerando que os comentários do ex-primeiro-ministro “não foram apropriados, nem justos”.

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Paulo Portas e Pedro Passos Coelho em 2015 Daniel Rocha
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O antigo líder do CDS-PP Paulo Portas disse neste domingo que Passos Coelho via na troika "um bem virtuoso", enquanto ele a considerava "um mal necessário" e apontou a TSU dos reformados como um dos momento difíceis da coligação.

"Às vezes, Passos Coelho achava ou dava a entender que achava a troika um bem virtuoso, eu achava a troika um mal necessário", afirmou Paulo Portas no seu espaço de comentário televisivo na TVI, respondendo às declarações do então primeiro-ministro e parceiro de coligação governamental durante o período em que Portugal esteve sob intervenção da União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

Na semana passada, em entrevista ao podcast "Eu estive lá", da rádio Observador, o antigo presidente do PSD, em conversa com a jornalista Maria João Avillez, revelou que, durante o seu governo com o CDS-PP, a troika sinalizou "a partir de certa altura" que havia um problema de confiança em relação ao parceiro de coligação e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e "passou a exigir cartas assinadas" por ele.

"Julgo que ele não sabe isto: para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, obriguei o ministro das Finanças a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. A troika exigia uma carta só dele. Porque não confiava nele", contou Passos Coelho.

Questionado sobre se sabia desta exigência para que assinasse cartas, Paulo Portas disse que assinou várias cartas para a troika e assinalou que "em democracia, quem dá mandatos de confiança são os portugueses".

Afirmando que "quem não se sente não é filho de boa gente", Paulo Portas considerou que os comentários do ex-primeiro-ministro "não foram apropriados, nem justos", mas recusou "usar conversas privadas entre líderes políticos" e entrar "em polémica pessoal" com Passos Coelho. "Estamos em 2024, acabou de chegar um Governo de centro-direita, não vejo qual seria a utilidade de contribuir para essa polémica", comentou.

Paulo Portas lembrou que coincidia com Passos Coelho na necessidade de resolver o problema da insolvência de Portugal, em cumprir um memorando da troika que não tinham negociado e em procurar encontrar uma saída limpa de Portugal do programa de emergência, mas apontou a TSU dos reformados como uma das principais divergências e um "momento difícil" na coligação.

"Não raramente, Passos Coelho usava a expressão do 'ir além da troika'. Sempre fui mais céptico sobre essa ideia. Para mim, para aguentar aquele programa que resolvesse a falência de Portugal e nos permitisse recuperar a nossa normalidade era preciso coesão social na sociedade portuguesa, que as pessoas sentissem que os sacrifícios eram equitativos, as restrições eram distribuídas e não passavam um certo limite", disse.

"A TSU das pensões foi um dos momentos difíceis. A medida vinha como medida vinha como estrutural, portanto obrigatória de cumprimento e condição de financiamento. Depois dessa tensão, essa medida passou a opcional e deixou de ser condição de financiamento. Eu achava que era uma penalização dupla sobre os pensionistas, que passava os limites e ia criar a ideia nos idosos de que estavam a ser escolhidos como alvo num programa. Acho que o tempo me deu razão", afirmou, adiantando que seis meses depois a medida se revelou desnecessária.

Para Paulo Portas, se a medida não era necessária, "provavelmente era exagerada" e, para o agora comentador, com "um bocadinho mais de flexibilidade e um bocadinho menos de rigidez", o programa poderia ter-se feito "sem desequilibrar em excesso socialmente a coesão do país". "Não havia necessidade", rematou.