Luís Lopes: se compra da Nowo falhar “não muda de todo o plano estratégico” da Vodafone

CEO da Vodafone Portugal faz balanço de um ano: “Atingimos um milhão de clientes fixos, somos o operador que mais cresceu quota de receitas neste período”

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Luís Lopes diz que a construção da rede 5G tem sido o "principal investimento nos últimos dois anos" JOSé SENA GOULão/lusa
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O presidente executivo (CEO) da Vodafone Portugal diz, em entrevista à Lusa, que se compra da Nowo falhar, isso "não muda, de todo, o plano estratégico" que a operadora tem. Luís Lopes afirma que o melhor é "aguardar a decisão definitiva, após a consulta às partes interessadas todas", depois de o projecto de decisão da Autoridade da Concorrência (AdC) ter sido negativo.

"Sou um optimista por natureza e, portanto, acredito que até à decisão ser definitiva é sempre possível mudar uma decisão", admite o CEO da Vodafone, que assumiu estas funções em Abril do ano passado.

"Faço um balanço muito positivo deste primeiro ano e do ponto de vista profissional a Vodafone fez um percurso que eu considero bastante positivo", sublinha, referindo que a empresa tem uma estratégia de crescimento, de enfoque no cliente e na simplificação de processos com os seus clientes. Nestas três vertentes "considero que fizemos um progresso bastante positivo".

"Atingimos um milhão de clientes fixos, somos o operador que mais cresceu quota de receitas neste período, alargámos o 5G a mais de 95% da população, continuámos a investir e desenvolver as nossas infraestruturas, melhorámos o serviço ao cliente, reduzimos as reclamações, portanto, genericamente, considero um ano bastante positivo para a Vodafone", sintetiza Luís Lopes.

A liderança da Vodafone Portugal traduz-se também no regresso do gestor, que já trabalhou nas operadoras concorrentes, a Portugal depois de "uma década" a residir no estrangeiro.

"É um país que tem obviamente um peso muito importante para mim, pessoalmente", pelo que também "foi um marco que considero francamente positivo" o de poder "regressar" a Portugal, assume.

E é ao assumir o mandato que também acompanha o processo de compra do quarto operador de telecomunicações, a Nowo. "Quando cheguei já estava a iniciar-se" uma investigação aprofundada, recorda. "Iniciámos o processo de pedido de parecer à Autoridade [da Concorrência] em Novembro de 2022, a Autoridade em Abril de 2023 emitiu um parecer a dizer que tinha que ir para investigação aprofundada e, portanto, iniciou-se esse período no mesmo momento em que eu cheguei aqui à Vodafone Portugal" e neste período de um ano "andámos em discussões, conversas e debates com Autoridade relativamente à interpretação" que a AdC "faz do impacto desta operação de concentração na concorrência em Portugal", recorda.

Neste âmbito, há um "desacordo relativamente ao impacto que achamos que essa operação tem, a Nowo é uma operação com uma quota de mercado muito pouco significativa em Portugal", aponta, referindo que a concentração "resultaria num operador de telecomunicações que teria a mesma posição relativa, teria uma quota de mercado ligeiramente superior à que tem hoje a Vodafone".

Ou seja, "estamos a falar de menos de dois pontos percentuais, não consideramos" que seja "uma operação que traga preocupações de natureza concorrencial", mas pelo contrário, "consideramos uma operação que poderia trazer vantagens para os clientes (...)", até porque a Nowo opera uma rede que precisa de investimentos e que está desatualizada, diz.

Aliás, "tínhamos como plano poder migrar os clientes todos para redes de última geração, nomeadamente a rede de fibra da Vodafone e, por isso, nesse sentido, achávamos que esta operação teria era mérito para o país e não [seria] prejudicial do ponto de vista concorrencial".

E qual é o plano B se a operação falhar? "Aqui não há um plano A nem um plano B, nós achávamos que esta operação tinha estas vantagens (...), se a operação não se concretizar, não muda de todo o plano estratégico que a Vodafone tem", assevera o CEO.

"Vamos manter o mesmo plano que tínhamos (...), a operação não é uma operação transformacional para a Vodafone Portugal, estamos a falar de uma operação relativamente pequena, comparativamente com a operação da Vodafone Portugal", reforça o gestor.

"Vamos continuar a investir" no 5G

Questionado sobre o 5G, Luís Lopes diz não conseguir "precisar "o número" de quanto é que a Vodafone Portugal investiu nesta tecnologia, mas uma coisa é certa, a construção da rede tem sido o "principal investimento nos últimos dois anos" da empresa, chegando a pouco mais de 95% da população.

"E isso é uma coisa importante porque nós, fruto de termos tido um leilão bastante extenso em tempo, ou seja, deve ter sido dos leilões de espectro mais extensos, marcou um período em que havia alguma maior animosidade com o regulador sectorial, e começámos já tarde a fazer desenvolvimento de 5G." Contudo, "a resposta da indústria foi muito positiva, fizemos fortíssimos investimentos nestes dois anos logo a seguir" à atribuição do espectro "e, com isso, conseguimos recuperar muito terreno perdido em termos de infraestrutura, comparativamente com outros países europeus".

E o que falta? "Os últimos 5%" de cobertura de 5G, remata. "Vamos continuar a investir" na expansão do 5G, que é "uma grande oportunidade" para o sector empresarial "poder continuar na senda da digitalização, da alteração de muitos dos seus processos com maiores automatismos e, portanto, acreditamos que um primeiro passo é ter a cobertura do 5G".

O segundo passo, acrescenta, "é conseguir ter maior utilização de 5G, em particular como processo transformacional da própria indústria, da própria produtividade da economia". "Continuaremos a trabalhar nesse sentido", salienta. "Temos vários exemplos em que conjugamos tecnologias 5G, inteligência artificial para trazer algumas dessas melhorias para junto de algumas indústrias em concreto e achamos que esse é o caminho para continuarmos a garantir que o que nós trazemos é valor para os clientes."

Sobre se teme a entrada do quinto operador, Luís Lopes diz que já há muitos serviços e ofertas no mercado português e que a operadora está preparada.

"Não vejo que que a Digi vá trazer nada de novo relativamente a isso e, portanto, nesse aspecto, estamos bem preparados para receber novos operadores", conclui.