Irão diz que responderá ao “nível máximo”, mas desvaloriza ataque de sexta-feira
Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão deixa aviso a responsáveis israelitas, mas não deixa antever possibilidade de retaliação por ataque da passada sexta-feira.
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amirabdollahian, afirmou na sexta-feira que o Irão responderá de imediato e ao "nível máximo" se Israel agir contra os seus interesses. Ainda assim, o governante, repetindo algumas das declarações feitas no dia anterior, insistiu que as armas usadas no ataque não eram "realmente drones", mas "pareciam mais brinquedos de crianças". Amirabdollahian disse ainda não ter provas concretas de que o ataque tenha sido levado a cabo por Israel.
"Se Israel quiser fazer outro aventureirismo e agir contra os interesses do Irão, a nossa próxima resposta será imediata e ao nível máximo", disse Amirabdollahian, falando através de um tradutor, numa entrevista à NBC News, citada pela agência Reuters. "Mas se isso não acontecer, então isto acaba aqui. Estamos concluídos."
"Não nos foi provado que exista uma ligação entre estes [ataques] e Israel", disse, acrescentando que o Irão estava a investigar o assunto, mas que os relatos dos meios de comunicação social não eram exactos, de acordo com as informações de Teerão. Segundo o mesmo responsável, os drones terão mesmo sido lançados dentro de território iraniano, voando depois alguns metros, acabando por ser, depois, abatidos.
Trata-se de drones quadricópteros, segundo explica o correspondente do diário El País em Jerusalém, citando o porta-voz do centro Espacial Nacional do Irão, Hossein Dalirian. São aparelhos que podem ser carregados com explosivos e foram utilizados anteriormente por Israel em território iraniano. O registo mais recente aconteceu em Janeiro de 2023, contra um centro militar, também em Isfahan, onde aconteceu o ataque desta sexta-feira. Em 2019, o mesmo tipo de drones foi usado numa investida em Beirute, no Líbano, contra alvos do Hezbollah, cuja responsabildade os EUA atribuem à Mossad.
Tal como noutras situações, as autoridades israelitas mantiveram o silêncio nas horas que se seguiram ao incidente. Mas, segundo escreve o jornal The Washington Post, Tally Gotliv, um político próximo da extrema-direita do partido Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, publicou uma aparente referência ao ataque nas redes sociais: "Esta é uma manhã em que a cabeça está erguida com orgulho. Israel é um país forte e poderoso. Que possamos recuperar o poder de dissuasão."
Caixa de Pandora ou guerra por procuração
Neste sábado, o analista político Tame Qarmout, do Instituto para Estudos de Pós-Graduação em Políticas Públicas, em Doha, disse, em declarações à Al Jazeera, que "esta ronda de confrontos directos terminou, sendo que agora estamos de volta à realidade anterior de uma guerra de proxys [por procuração]". De acordo com o especialista, nos próximos dias podem voltar a registar-se confrontos na fronteira entre o Líbano e Israel, a envolver o Hezbollah, ataques dos rebeldes houthis no mar Vermelho e ataques de grupos armados apoiados pelo Irão no Iraque e na Síria.
Por outro lado, Simon Tisdall, especialista em assuntos externos, no jornal The Guardian, explica que é "insensato pensar que o assunto está encerrado". "A hostilidade visceral, política e ideológica continua a separar os dois inimigos. Ambos os governos são afectados por divisões internas que alimentam a imprevisibilidade e a provocação. E foi aberto um precedente sombrio. Abriu-se uma caixa de Pandora de confrontos directos", justifica o analista.
Na sexta-feira, uma base militar no centro do Iraque, com tropas do Exército e antigos militares do grupo paramilitar pró-iraniano Hashed al-Shaabi – actualmente integrado no exército regular –, foi alvo de bombardeamentos que provocaram pelo menos um morto. O Ministério do Interior do Iraque não conseguiu identificar os responsáveis pelo ataque aéreo, que teve como alvo a base de Kalso.
Duas fontes de segurança garantiram à Reuters que um ataque aéreo tinha causado a explosão, que matou um membro das Forças de Mobilização Popular do Iraque (PMF) e feriu outros oito na base militar a cerca de 50 quilómetros a sul de Bagdade. Algumas das facções das PMF próximas do Irão participaram em ataques com rockets e drones contra forças norte-americanas no Iraque e na Síria depois de Israel ter atacado Gaza, mas deixaram de o fazer em Fevereiro, quando um ataque com recurso a drone matou três soldados norte-americanos na Jordânia, o que levou os EUA a efectuarem pesados ataques aéreos no Iraque e na Síria.
Entretanto, os Estados Unidos negaram ter efectuado "ataques aéreos" no Iraque na sexta-feira, anunciou o Comando Militar dos Estados Unidos para o Médio Oriente (Centcom). "Estamos cientes de relatos de que os Estados Unidos realizaram ataques aéreos no Iraque [na sexta-feira]. Esta informação é falsa", escreveu o Centcom na rede social X (antigo Twitter), referindo-se ao bombardeamento da base militar iraquiana.