Morreu Dickey Betts, lendário guitarrista e fundador dos Allman Brothers

Representação perfeita do músico rock’n’roll dos anos 1970, nas suas glórias e excessos, ajudou a construir aquele que se tornaria um som clássico americano, o southern rock. Tinha 80 anos.

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Dickey Betts com os Allman Brothers Band em New Haven, Connecticut, Estados Unidos, em Setembro de 1975 Fin Costello/Redferns
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O lendário guitarrista e co-fundador dos Allman Brothers Dickey Betts morreu aos 80 anos, anunciou na quinta-feira o seu empresário, David Spero. O autor de Ramblin' man, o maior êxito da banda, morreu na sua casa em Osprey, na Florida.

Dickey Betts lutava há mais de um ano contra um cancro e sofria de doença pulmonar obstrutiva crónica, acrescentou Spero. "Estava rodeado por toda a sua família e morreu pacificamente", disse ainda à agência AP.

Com o bigode a emoldurar os lábios, o chapéu de cowboy na cabeça e os colares nativo-americanos sobre o peito, Betts era a representação perfeita da estrela rock americana da década de 1970. O que criou com os Allman Brothers Band, hoje um som clássico, tinha, porém, uma natureza peculiar há cinco décadas, pela fusão de rock'n'roll, rhythm'n'blues, soul e country, pelo facto de ser uma formação multirracial no Sul dos Estados Unidos ainda marcado pela segregação.

Nascido em West Palm Beach, na Florida, a 12 de Dezembro de 1943, descendente de canadianos dados à música e, em particular, ao violino, Betts cresceu rodeado dos sons dos idiomas tradicionais da sua região, o country, western swing e bluegrass. Entretanto, chegaria Chuck Berry a anunciar o rock'n'roll e Betts descobria um novo mundo.

Trocou o banjo pela guitarra, provou pela primeira vez a liberdade da estrada, como cantaria na sua canção mais célebre, Ramblin' man, ao partir na adolescência em digressão, integrado na banda de um circo itinerante. No final dos anos 1960, encontrávamo-lo nos Second Coming, que tinha por baixista Berry Oakley. O momento decisivo para ambos dá-se quando, num concerto, o guitarrista Duane Allman se junta à banda para uma sessão de improviso. Pouco depois, Dickey Betts e Berry Oakley juntavam-se a Duane Allman e ao seu irmão, Greg, teclista, nos Allman Brothers Band.

Partilhando o gosto pelas raízes tradicionais do rock'n'roll, apaixonados pela soul, pelo blues, pelo rhythm'n'blues e pelo jazz (Duane era um músico de sessão respeitado e havia gravado com gigantes da soul como Aretha Franklin), os Allman Brothers Band criaram um som onde tudo isso se conjugava num mesmo espaço: chamaram-lhe southern rock – na sua peugada surgiram Lynyrd Skynyrd ou ZZ Top, ainda no início dos anos 1970, Tom Petty & The Heartbreakers, os Black Crowes, nos anos 1980, os Kings of Leon, nos anos 2000.

O entendimento perfeito com Duane Allman, diálogo entre guitarras documentado num dos grandes álbuns ao vivo da década de 1970, Live At Fillmore East (1971), momento decisivo na criação da lenda da banda, seria tão intenso e profícuo quanto fugaz. Duane morreria pouco após a edição daquele álbum duplo, num acidente de mota, deixando Betts, também vocalista, como guitarrista principal – o baixista Berry Oakley morreria em 1972, não muito longe do local da morte de Duane Allman, também num acidente de mota. Ramblin' man surge em 1973, em Brothers And Sisters, o quarto álbum do grupo.

Nessa altura, já a banda vivia em pleno a vida na estrada, as turbulências, picos criativos e fossas impensáveis que lhes marcou o atribulado percurso. Representação perfeita do circo rock'n'roll dos anos 1970 (sex, drugs & rock'n'roll, não era?), a banda termina pela primeira vez em 1976, um ano depois do casamento de Gregg Allman com Cher e de um caso de tribunal, relacionado com consumo e tráfico de droga, envolvendo membros da banda e sua equipa.

Dickey Betts prosseguiu carreira a solo, tocou com outras bandas, regressou aos Allman Brothers Band quando da reunião nos anos 1990 e saiu em conflito em 2000, para não mais voltar. A partir daí tocou a solo e com a sua própria banda, Great Southern, que incluía o seu filho, o guitarrista Duane Betts, e ocupava o tempo no ar livre da propriedade em que vivia em Bradenton, na mesma Florida em que nascera.

Para trás, ficava o contributo para a criação de um som que se tornou indiscutível e muito influente no rock criado nos Estados Unidos, ficavam canções como a referida Ramblin' man, Blue Sky, In memory of Elizabeth Reed ou o instrumental Jessica. com Lusa

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