Tarantino já não irá fazer The Movie Critic, o filme que seria o último da sua carreira

O cineasta mudou de ideias e pôs o guião na gaveta, querendo agora começar do zero, dizem várias publicações sem nomear as suas fontes. Projecto tinha ligação com Era Uma Vez… Em Hollywood.

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Tarantino em Cannes em 2019 REGIS DUVIGNAU/REUTERS
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Há pouco mais de um ano, escrevia-se com a segurança das certezas vindas da boca do próprio: “Terminei o guião daquele que será o meu último filme”, dizia Quentin Tarantino ao director do Festival de Cannes, Thierry Fremaux, confirmando o que vinha anunciando sobre o modo como pretendia selar a sua obra enquanto autor (acumulando a escrita e a realização): o décimo filme do cineasta norte-americano seria o último da sua filmografia. Porém, esta quarta-feira, a revista especializada The Hollywood Reporter cita fontes bem informadas que alegam que o cineasta abandonou o projecto.

Nas últimas semanas, escreve a publicação sem nomear as suas fontes, Tarantino mudou de ideias. Não obstante o início da rodagem estar agendado para Agosto em Los Angeles — e tendo Brad Pitt reservado o calendário para voltar ao papel do duplo Cliff Booth de Era Uma Vez… Em Hollywood —, o realizador cortou com o filme “inteiramente”. Os direitos sobre a obra não estavam na posse de nenhum estúdio, o que lhe deu ainda mais liberdade para tomar a decisão criativa de se afastar do seu derradeiro capítulo como cineasta.

Outra publicação especializada, o site Deadline, cita uma fonte segundo a qual Tarantino simplesmente mudou de ideias. Detalha ainda que o cineasta já teria reescrito o guião e que isso até atrasou o início da produção, mas terá entretanto decidido que este não seria o seu último filme. Agora, o que corre na imprensa de Hollywood é que o autor de Pulp Fiction vai procurar uma nova ideia e começar do zero.

The Movie Critic chegou a ser apresentado (pela imprensa, não pelo próprio realizador) como um filme sobre a famosa crítica de cinema do New York Times, Pauline Kael. A tese viria a ser depois desmentida, indicando-se que o argumento não se baseava num qualquer crítico em particular. Mais recentemente, escreve a Hollywood Reporter, de novo citando as tais fontes próximas do projecto, constou que o filme teria Brad Pitt num regresso ao papel que lhe deu o Óscar de Melhor Actor Secundário, mas não se sabia se o novo projecto seria uma prequela ou uma sequela de Era Uma Vez… Em Hollywood. O papel principal, ao que tudo indica, não caberia àquele actor, pois Tarantino chegou a dizer que procurava alguém com cerca de 35 anos e que nunca tivesse protagonizado nenhum dos seus filmes.

É que o filme em que Tarantino reimaginou os crimes da seita de Charles Manson deu origem também a um livro, e nele a personagem de Cliff Booth era apresentada como um grande cinéfilo. Seria o tipo “que viveu à grande mas nunca foi famoso e que costumava escrever críticas de filmes para uma revisteca pornográfica”, disse o realizador ao Deadline em Maio de 2023. Tudo remontava a um dos empregos que ele próprio teve em adolescente: pôr revistas pornográficas em máquinas de venda automática.

Uma delas, contou Tarantino, continha uma página sobre cinema que era muito interessante. O seu autor “era muito mal-educado, praguejava, usava termos racistas", mas escrevia "merdas muito engraçadas”. Era “um bom crítico”, “cínico como o diabo”.

Tendo assinado guiões para Tony Scott e Oliver Stone – Amor à Queima-Roupa e Assassinos Natos, respectivamente —, a filmografia de Quentin Tarantino como realizador começou com Cães Danados (1992). Receberia depois a Palma de Ouro do Festival de Cannes (mas não o Óscar) com Pulp Fiction (1995), o seu segundo filme. A obra prosseguiu com Jackie Brown (1997), homenagem ao cinema dos anos 1970 com Pam Grier e Bridget Fonda, e depois com o díptico Kill Bill, desta feita um olhar sobre o cinema de acção asiático protagonizado pela musa ocasional do realizador, Uma Thurman, no papel de anjo vingador. Dado que Tarantino contabiliza as duas metades de Kill Bill como um só filme, o conjunto de nove filmes perfaz-se com À Prova de Morte (2007), a vendetta sobre a Segunda Guerra Mundial que é Sacanas Sem Lei (2009), o filme sobre a escravatura Django Libertado (2012), o western Os Oito Odiados (2015) e Era Uma Vez… em Hollywood (2019).

Pelo caminho, ainda houve uma saudável dieta de participações como actor (por exemplo em Aberto Até de Madrugada, de 1996) e a realização de episódios de séries de televisão como C.S.I. ou Serviço de Urgência.

O que fará a seguir? O seu décimo filme, o último, como afiança há anos. Depois entrará noutros caminhos: “livros, séries de televisão, peças de teatro…”, proclamava em 2023.

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