As alterações climáticas e os estragos que provocarão na agricultura, infra-estruturas, saúde e produtividade da economia custarão cerca de 38 biliões de dólares (35,6 biliões de euros) por ano até 2050 — cerca de seis vezes mais do que custaria reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. As conclusões fazem parte de dois estudos realizados por equipas internacionais e publicados na revista Nature Climate Change, que fizeram as contas aos custos da continuação da emissão de gases com efeito de estufa e aumento das alterações climáticas.
Ainda não é totalmente compreendido qual o impacto económico das alterações climáticas, e os economistas discordam frequentemente quanto à sua extensão. Mas o tema é de grande actualidade.
Um dos estudos publicados nesta quarta-feira na Nature Climate Change destaca-se pela gravidade das suas conclusões. As alterações climáticas reduzirão em cerca de 10% o PIB da economia mundial até meados do século, mas nos países mais pobres e em latitudes mais baixas (mais perto do equador), as perdas serão da ordem dos 17%, concluiu o estudo assinado em primeiro lugar por Paul Waidelich, doutorando no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça.
Mas, quer consigamos reduzir as emissões de gases de estufa ou não, tudo o que já atirámos para a atmosfera deverá levar a uma redução dos rendimentos do planeta de 19% nos próximos 26 anos (até 2050), concluem os autores de outro estudo. "A população mundial é mais pobre do que seria sem as alterações climáticas", afirmou Leonie Wenz, investigadora de dados do clima no Instituto para o Estudo do Impacto das Alterações Climáticas de Potsdam, na Alemanha, e co-autora do estudo. "Custa-nos muito menos proteger o clima do que não o fazer."
Com um valor estimado em seis biliões de dólares, o custo das medidas para limitar até 2050 o aquecimento global a dois graus Celsius acima do que eram as temperaturas pré-industriais parece um pesado investimento. Mas seria inferior a um sexto do custo dos danos estimados se o aquecimento global ultrapassar esse nível, salienta o estudo.
Embora análises anteriores tenham concluído que as alterações climáticas poderiam ter benefícios para as economias de alguns países, em latitudes mais elevadas, esta investigação concluiu que o sofrimento seria praticamente universal. Mas os países pobres e em desenvolvimento seriam sempre os mais afectados.
A estimativa dos prejuízos baseia-se nas tendências projectadas para a evolução da temperatura e da precipitação, mas não tem em conta condições meteorológicas extremas ou outras catástrofes relacionadas com o clima, como os incêndios florestais ou a subida do nível do mar. Também se baseia apenas nas emissões de gases de estufa que já estão na atmosfera — apesar de as emissões globais continuarem a aumentar a níveis recorde.
“Quando nos interrogamos sobre quanto nos custará o aquecimento global, as incertezas são sobretudo socioeconómicas: durante quanto tempo vão persistir os impactos? Conseguiremos adaptar as nossas sociedades de uma forma eficaz?”, explicou Paul Waidelich. “Mas precisamos de compreender melhor a variabilidade climática e os episódios climáticos extremos, para ter uma ideia mais concreta de como vão mudar e de quais serão os seus impactos”, concluiu.
No entanto, é já claro que, além de gastarem pouco para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, os governos também estão a gastar pouco em medidas de adaptação ao impacto das alterações climáticas.
Para o estudo, os investigadores analisaram os dados relativos à temperatura e à precipitação em mais de 1600 regiões nos últimos 40 anos e avaliaram quão dispendiosos se tornaram os danos causados pelas alterações do clima. Em seguida, utilizaram essa avaliação dos danos, juntamente com projecções de modelos climáticos, para estimar os danos futuros.
Se as emissões continuarem ao ritmo actual — e a temperatura média global subir para além dos quatro graus acima dos valores pré-Revolução Industrial —, o custo económico estimado após 2050 ascende a uma perda de rendimento de 60% até 2100, sugerem os resultados.
Limitar o aumento das temperaturas a dois graus Celsius permitiria conter essas perdas numa média de 20%.
Se o aquecimento global ficar apenas por 1,5 graus até 2050, em vez de chegar aos três graus que se teme que atinja, ao ritmo actual das emissões as perdas globais devido às alterações climáticas podem ser reduzidas em dois terços. "Os nossos resultados mostram que o custo da inacção climática é substancial", realça Sonia Seneviratne, co-autora de um dos estudos e vice-secretária do grupo de trabalho I do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), o grupo de cientistas que produz relatórios de consenso sobre o que se sabe relativamente à mudança do clima.