Inflação a descer: só euro e Médio Oriente podem impedir corte nos juros
Eurostat confirma que inflação na zona euro caiu para 2,4% em Março, aproximando-se da meta de 2% do BCE. Depreciação do euro e subida dos preços da energia, contudo, ainda preocupam.
Com os dados da inflação a confirmarem uma descida em Março, os principais riscos para a evolução dos preços na zona euro parecem cada vez mais estar concentrados na possibilidade de um prolongamento da queda do euro face ao dólar e, principalmente, num cenário de escalada do conflito no Médio Oriente que faça disparar os preços da energia.
Nesta quarta-feira, o Eurostat confirmou os dados que tinha apresentado há duas semanas na estimativa rápida da inflação, tornando oficial a descida da taxa de inflação homóloga na zona euro de 2,6% para 2,4% em Março.
A inflação subjacente – que retira da análise os bens com uma maior volatilidade de preços – baixou também 0,2 pontos percentuais, para 3,1%, revelando que o abrandamento dos preços é, neste momento, generalizado a todo o tipo de bens, o que dá mais força à expectativa de uma continuação da tendência de descida da inflação que a coloque cada vez mais perto da meta de 2% definida pelo Banco Central Europeu (BCE).
Sendo assim, os números agora confirmados da inflação reforçam a probabilidade de a instituição liderada por Christine Lagarde começar, na reunião agendada para o próximo dia 6 de Junho, a descer taxas, com um corte de 0,25 pontos percentuais na sua taxa de juro de depósito, que se encontra desde Setembro passado num máximo de 4%.
Persistem, no entanto, duas ameaças a este cenário. Numa análise publicada nesta quarta-feira, o departamento de análise económica do banco ING destaca a existência de duas potenciais razões para o BCE acabar por adiar para mais tarde o começo da descida dos juros. “Um euro em paridade [com o dólar] e o preço do barril de petróleo a cem dólares poderiam de repente transformar um cenário relativamente benigno para a inflação num cenário muito mais alarmante, em que a inflação atingiria a meta do BCE apenas no final do horizonte das previsões [do banco central”, afirma o banco na nota de análise publicada.
Os responsáveis do ING dizem ser mais preocupante o risco de subida dos preços da energia, tendo em conta a possibilidade de uma escalada do conflito do Médio Oriente, e minimizam a ameaça que constitui uma continuação da depreciação do euro face ao dólar, tendo em conta que em relação a outras divisas internacionais o euro não está a perder terreno. Mas temem que em conjunto estes dois factores possam forçar o BCE a refazer planos.
“Ainda antecipamos um corte das taxas de juro do BCE na reunião de Junho. No entanto, a combinação de um ainda maior enfraquecimento da taxa de câmbio do euro, tensões geopolíticas e preços da energia a subirem, pode trazer de volta dores de cabeça relacionadas com a inflação e limitar o espaço de manobra do BCE”, afirma ainda a nota.
As declarações mais recentes dos responsáveis pela condução da política monetária dos dois lados do oceano Atlântico apontam, para já, para a possibilidade de o BCE se adiantar mesmo à Reserva Federal no início da descida de taxas de juro.
De um lado, Christine Lagarde, a presidente do BCE, reiterou numa entrevista à CNBC a disponibilidade do banco central para começar a inverter em Junho o rumo da sua política monetária se os dados que vierem a ser conhecidos nas próximas semanas reforçarem a confiança de que a inflação está controlada.
Do outro, Jerome Powell, o presidente da Fed alertou para que os dados da inflação nos EUA relativos a Março mostraram que “pode demorar mais do que o esperado até que exista a confiança” suficiente para começar a baixar as taxas de juro.