Dezenas de mortos em bombardeamentos israelitas do Sul ao Norte de Gaza
ONU acusa Israel de continuar a impor restrições “ilegais” à ajuda a Gaza, onde crianças de “quatro meses estão a morrer de doenças evitáveis ou facilmente tratáveis, como pneumonia e gastroenterite”.
O Ministério da Saúde de Gaza (controlado pelo Hamas) contabilizou 46 palestinianos mortos e 110 feridos entre segunda e terça-feira no enclave palestiniano. Os bombardeamentos continuaram ao longo do do dia: em Rafah (no extremo Sul da Faixa, onde 1,5 milhões de pessoas se concentram, depois de fugirem da violência noutras zonas); numa mesquita perto do campo de refugiados de Jabalia (a norte da Cidade de Gaza); no campo de Nuseirat; e em vários locais na região de Deir al-Balah, no Centro do território.
Na Cidade de Gaza, nove pessoas morreram num ataque a uma viatura da polícia, entre agentes das forças de segurança e civis, segundo as autoridades palestinianas. No Norte do enclave, várias localidades assistiram esta terça-feira ao regresso dos tanques israelitas, depois de semanas ausentes.
Em Beit Hanoon e em Jabalia, no Nordeste, muitas famílias que tinham voltado às suas terras após a retirada das forças terrestres israelitas viram-se agora forçadas a fugir, mais uma vez, de acordo com relatos citados pela agência Reuters.
"Os soldados da ocupação ordenaram a retirada de todas as famílias que se encontravam em escolas e casas próximas dos locais por onde os tanques avançaram. Foram detidos muitos homens", contou à Reuters um residente de Beit Hanoon.
As Forças de Defesa de Israel (IDF), por seu turno, dizem continuar concentradas nas operações no Centro da Faixa de Gaza, iniciadas no sábado, onde “mataram terroristas identificados que avançavam na direcção” dos seus tanques, e ter destruído dezenas de infra-estruturas, nomeadamente “túneis e complexos militares” que estavam a ser usados por combatentes do Hamas.
Segundo a televisão pan-árabe Al-Jazeera, foi nestes ataques que Israel “matou e feriu dezenas de civis ao longo dos últimos dias, incluindo duas crianças” no campo de refugiados de Nuseirat, que voltou a ser bombardeado esta terça-feira.
Ainda no Centro, as autoridades de saúde palestinianas e os canais de comunicação do Hamas acusaram Israel de matar, já na tarde desta terça-feira, 11 palestinianos, incluindo crianças, no campo de refugiados de Maghazi. Contactadas pela Reuters, as IDF não responderam a um pedido de esclarecimentos sobre este ataque.
Também a região de Rafah, onde está abrigada mais de metade da população da Faixa de Gaza, encurralada entre as forças israelitas e a fronteira com o Egipto, foi esta terça-feira alvo de ataques da Força Aérea de Israel. De acordo com as autoridades de saúde e testemunhas no local, citadas por agências de notícias internacionais, os bombardeamentos junto à fronteira Sul do território provocaram quatro vítimas mortais e vários feridos. Rafah prepara-se ainda para o início de uma ofensiva israelita por via terrestre.
Mais de 23 mil mulheres e crianças mortas
Desde 7 de Outubro, as operações israelitas já provocaram 33.843 mortos (confirmados). Destes, 72% serão mulheres e crianças (mais de 10.000 e mais de 13.900, respectivamente). O mesmo balanço dá ainda conta de mais de 76 mil feridos. Os números divulgados pelo Governo de Gaza não distinguem civis de combatentes, mas são considerados credíveis pelas Nações Unidas.
Para além da violência, a fome e o colapso do sistema de saúde continuam a ser ameaças crescentes. Sem quaisquer hospitais a funcionar em pleno, “estão a morrer doentes com apenas quatro meses de idade devido a doenças evitáveis ou facilmente tratáveis, como a pneumonia e a gastroenterite”, afirmou Seema Jilani, conselheira técnica de saúde para emergências na organização não-governamental International Rescue Committee.
“Muitos doentes chegam mortos ou demasiado doentes para serem reanimados, devido ao atraso na prestação dos cuidados de saúde”, descreve Jilani, num comunicado. Ao mesmo tempo, como as pessoas com “doenças infecciosas podem não ser vistas durante semanas, porque os doentes com traumatismos são admitidos com muita frequência”, as “doenças outrora facilmente controláveis estão a propagar-se”. As crianças, “especialmente as malnutridas”, são os doentes mais frágeis.
Em relação à falta de alimentos, e apesar de durante alguns dias terem entrado na Faixa de Gaza mais camiões – com farinha e alguns vegetais recebidos em partes do Norte que não viam chegar comida há meses –, a agência da ONU para os refugiados palestinianos alerta que não estão a chegar ao enclave mais do que 181 camiões de ajuda por dia, quando o objectivo anunciado por Israel era de 500.