MP investiga fraude de 35,5 milhões em empresas que trabalham com a Uber

Sede da Uber e outros 64 locais foram alvo de buscas. Empresa diz que não é a entidade visada. Ministério Público investiga fraude em empresas intermediárias que têm frotas de estafetas.

Foto
Buscas estão relacionadas com um inquérito instaurado em Julho de 2022 Rui Gaudêncio
Ouça este artigo
00:00
03:18

O Ministério Público, a Autoridade Tributária e o Instituto da Segurança Social (ISS) realizaram, nesta terça-feira, buscas na sede da Uber e em outros 64 locais por suspeitas de fraude de 35,5 milhões de euros. A “Operação Express Delivery” decorreu na zona de Lisboa, Setúbal, Coimbra, Aveiro e Braga e visa várias empresas intermediárias que fazem entrega de comida através da plataforma da Uber Eats.

A Uber confirmou as diligências, mas garante que não é a entidade visada. “Confirmamos as diligências nas nossas instalações, sendo que a Uber não é a entidade visada das mesmas. Estamos a colaborar com as autoridades e a disponibilizar toda a informação solicitada”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da empresa.

Numa nota publicada nesta terça-feira, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) adianta que as buscas estão relacionadas com um inquérito instaurado em Julho de 2022 por suspeitas de fraude fiscal e de fraude contra a Segurança Social num valor estimado de 35,5 milhões de euros.

Em causa, diz o DCIAP, está a actuação e a relação comercial entre uma empresa, que se dedica às actividades de gestão de plataformas digitais relacionadas com a restauração e à venda de serviços de entrega a clientes finais, e os seus principais parceiros de frota.

Existem indícios de que os parceiros de frota (empresas intermediárias que têm uma frota de estafetas de entregas de comida e que trabalham através da plataforma da Uber Eats) “contabilizaram e beneficiaram da emissão de facturas que não correspondem a serviços efectivamente prestados, constituindo por isso operações simuladas”.

A nota divulgada também nesta terça-feira pelo ISS dá mais pormenores sobre o que estará em causa, sublinhando que os factos sob investigação dizem respeito aos anos de 2020 a 2024 e compreendem várias empresas relacionadas com a prestação de serviços, através de uma plataforma digital de entrega de refeições ao domicílio, e respectivos gabinetes de contabilidade.

Estas empresas terão criado “um esquema fraudulento, suportado num circuito de facturação falsa, que visa a apropriação indevida de elevados montantes de IVA e o não-pagamento de contribuições por via da ocultação, perante a Segurança Social, dos trabalhadores que realizam os serviços de entrega”.

O prejuízo causado aos cofres do Estado cifra-se em cerca de 28 milhões de euros, a título de fraude fiscal em sede de IVA, e, segundo o DCIAP, suspeita-se que as empresas envolvidas devem à Segurança Social 7,5 milhões de euros de quotizações de trabalhadores, embora o ISS afirme que não está ainda apurado o montante correspondente às contribuições.

As investigações, acrescenta o ISS, seguirão o seu curso, com a análise “do grande volume” de elementos probatórios apreendidos, “tendo em vista o apuramento da responsabilidade criminal e vantagens patrimoniais efectivamente obtidas pelos diversos suspeitos”.

A operação foi dirigida pelo DCIAP, que teve quatro magistrados do Ministério Público no terreno, e envolveu o ISS, através do seu Departamento de Fiscalização; a Inspecção Tributária e Aduaneira, através da Direcção de Serviços de Investigação da Fraude e de Acções Especiais; e a Unidade de Acção Fiscal da GNR.

A notícia começou por ser avançada pela CNN que dava conta do envolvimento da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), algo que o DCIAP agora negou, assim como a própria ACT que disse ao PÚBLICO não estar envolvida nesta acção.

Notícia actualizada com a informação divulgada pelo DCIAP e pelo ISS

Sugerir correcção
Ler 4 comentários