Maroš Šefcovic: “Estamos a assistir ao renascimento do nuclear na Europa”

O vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta do Pacto Ecológico destaca o papel do nuclear na produção energética europeia como tecnologia de baixo carbono.

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O vice-presidente da Comissão Europeia Maroš Šefcovic
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O vice-presidente da Comissão Europeia Maroš Šefčovič garante que “há um interesse acrescido” na energia nuclear e que “as discussões [sobre o tema] são muito mais intensas do que no passado”.

“Citando um ministro da Energia numa reunião na semana passada, estamos a assistir ao renascimento do nuclear na Europa”, afirmou o comissário eslovaco, que tem a pasta do Pacto Ecológico Europeu e das Relações Interinstitucionais, lembrando que há projectos de construção de novas centrais “que estão a ser concluídos e outros que estão em consideração”.

Maroš Šefčovič, que falava à imprensa na conferência que se seguiu no final da reunião informal de ministros da Energia da União Europeia (UE), afastou-se, no entanto, das declarações do comissário para o Mercado Interno, o francês Thierry Breton, que na semana passada defendeu em eventos públicos que “a Europa precisa de nova legislação sobre as tecnologias nucleares”.

Questionado sobre essas declarações do comissário Breton, Maroš Šefčovič explicou que essa ideia “não é uma iniciativa da Comissão”, porque uma “iniciativa dessa magnitude tem de ser tomada no início de um mandato” e as eleições europeias estão agendadas para Junho.

O vice-presidente da Comissão destacou ainda assim o papel da energia nuclear na estratégia ecológica europeia, “visto que é uma forma de produzir energia de baixo carbono” quando se espera uma cada vez maior electrificação dos edifícios, transportes e actividades económicas.

Šefčovič lembrou que a Comissão apresentou em Fevereiro a sua avaliação para um objectivo climático europeu em 2040, em que recomendou ao futuro executivo a redução das emissões de gases com efeitos de estufa em 90% face a 1990.

Nessa medida, o desenvolvimento de uma nova tecnologia nuclear baseada em pequenos reactores modulares (SMR, na sigla em inglês) poderá contribuir para esse objectivo, destacou o responsável europeu.

Breton defendeu a necessidade de levar a energia nuclear “para outro nível”, primeiro numa reunião da comissão da Indústria e Energia do Parlamento Europeu, no dia 8, e dois dias depois num evento organizado pelo Euractiv, site especializado em notícias e informação sobre a União Europeia.

Segundo o Euractiv, o comissário francês sublinhou que a energia nuclear “tem um papel central a desempenhar na complexa equação [entre] segurança, sustentabilidade e competitividade" da Europa.

De acordo com a Sociedade Nuclear Europeia (European Nuclear Society ou ENS), entidade que reúne cientistas, investigadores e profissionais do sector, em Maio de 2023 existiam no continente europeu 168 centrais nucleares activas.

Entre os Estados-membros, o maior número concentra-se em França, onde existe um total de 56 centrais e a construção de outras oito será decidida até 2026. O país foi um dos mais veementes na defesa da introdução do nuclear como uma das tecnologias de produção de energia classificadas como sustentável na chamada “taxonomia verde”.

A introdução do nuclear, e também do gás natural, enquanto energia de transição, neste sistema de classificação de investimentos ditos sustentáveis foi muito controversa.

Mas a proposta, que a Comissão classificou como “pragmática” num quadro de descarbonização e de redução da dependência energética, acabou por ser votada favoravelmente no Parlamento Europeu, em Julho de 2022.

França é seguida de longe por Espanha (onde existem sete centrais nucleares), República Checa e Suécia (seis), Bélgica, Finlândia e Eslováquia (cinco), Hungria e Suíça (quatro), Bulgária e Roménia (duas) Eslovénia e Países Baixos (uma cada).

A Rússia, com 37, a Ucrânia, com 15, e o Reino Unido, com nove, são os países europeus extra-UE com maior número de centrais nucleares activas. A Bielorrússia tem outras duas.

A Alemanha, que no auge da crise energética, em 2022, decidiu prolongar a vida útil de três centrais nucleares, encerrou-as definitivamente a 15 de Abril de 2023.

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