Julgamento histórico de Trump arranca após recurso de última hora

Juiz responsável pelo processo dá início ao primeiro julgamento criminal de um antigo Presidente dos Estados Unidos. Primeira semana vai ser dominada pela selecção dos 12 jurados.

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À chegada ao tribunal, Trump voltou a dizer que está a ser vítima de perseguição política ANGELA WEISS
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O julgamento de Donald Trump em Nova Iorque num caso relacionado com o pagamento pelo silêncio de uma actriz de filmes pornográficos — o primeiro na história dos Estados Unidos em que o arguido é um antigo Presidente norte-americano — começou ao início da tarde desta segunda-feira, em Manhattan, pouco depois de o juiz responsável pelo caso ter rejeitado uma derradeira tentativa da defesa para anular a acusação.

Poucos minutos depois das 15h (hora em Lisboa, 10h em Nova Iorque), o juiz Juan Merchan anunciou a rejeição de um segundo pedido da defesa com vista ao seu afastamento do processo.

Segundo os advogados de Trump, o facto de a filha de Merchan trabalhar numa empresa que presta serviços a candidatos do Partido Democrata constitui um conflito de interesses para o juiz. Este argumento, que a defesa já tinha usado uma vez durante a preparação para o julgamento, não convence a generalidade dos especialistas citados nos media norte-americanos, e voltou a não convencer Merchan nesta segunda-feira.

Norm Eisen, um advogado e antigo conselheiro da Casa Branca para questões éticas na Administração Obama, disse na CNN, num artigo publicado na semana passada, que "a ocupação profissional dos filhos de um juiz não é motivo para um incidente de recusa, desde que os filhos não estejam envolvidos directamente num processo".

Segundo Eisen, queixas e recursos como o que foi rejeitado nesta segunda-feira inserem-se numa estratégia da defesa de Trump para reforçar a ideia, junto de potenciais jurados que simpatizem com o ex-Presidente dos EUA, de que o processo está a ser manipulado pela Administração Biden.

"Ataque sem precedentes"

À chegada ao tribunal, Trump dirigiu-se aos jornalistas para afirmar que o julgamento "é um caso de perseguição política como nunca se viu".

Através da rede social Truth Social, Trump voltou a afirmar que o julgamento em Nova Iorque "podia ter começado há muitos anos, e não no meio de uma campanha presidencial" — uma afirmação que é contrariada, segundo os críticos do ex-presidente dos EUA, pelo facto de os advogados de defesa terem feito todos os possíveis para adiarem o início do julgamento. "É um ataque flagrante contra o opositor político de Joe Biden, feito em coordenação com a Casa Branca e que não pode continuar", disse Trump.

O primeiro dia do julgamento vai ser preenchido pelo início do processo de selecção dos jurados que vão decidir, nas próximas seis a oito semanas, se Trump é ou não culpado dos crimes de que foi acusado pelo gabinete do procurador de Manhattan, Alvin Bragg.

Neste processo, Trump é acusado de ter cometido 34 crimes de falsificação dos registos da sua empresa, a Trump Organization, com o objectivo de esconder um outro crime — o de interferência na eleição presidencial de 2016 através do pagamento pelo silêncio de uma antiga actriz de filmes pornográficos, Stormy Daniels. O ex-Presidente dos EUA nega ter cometido qualquer crime e declarou-se inocente de todas as acusações.

Se for considerado culpado, Trump poderá ser condenado a um máximo de quatro anos de prisão por cada um dos 34 crimes — uma sentença que, a acontecer, deverá ser reduzida a um máximo de quatro anos no total, devido ao facto de o ex-Presidente dos EUA não ter antecedentes criminais.

Selecção de jurados

Nos próximos dias, e pelo menos até ao fim desta semana, os três principais intervenientes no julgamento — o juiz, os advogados de Trump e os procuradores — vão questionar centenas de habitantes de Manhattan que foram convocados para participar no processo de selecção de jurados.

Depois de uma fase inicial que servirá para eliminar a grande maioria dos potenciais jurados (com base numa comprovável indisponibilidade para estarem presentes em Nova Iorque durante o julgamento, ou numa declarada incapacidade para decidirem de forma isenta), o juiz irá submeter ao grupo restante um questionário com 42 perguntas, construídas para reduzir ainda mais as escolhas.

O julgamento propriamente dito irá começar após a escolha de 12 jurados efectivos e de um número mais reduzido de suplentes, num processo que deverá demorar vários dias, ou mesmo duas semanas, devido às dificuldades inerentes a um julgamento em que o arguido é uma das personalidades mais conhecidas — e uma das que desperta mais paixões, a favor e contra — em Manhattan e no país.

Na fase final do julgamento, Trump só poderá ser considerado culpado se todos os jurados estiverem de acordo e validarem os argumentos e as provas que vão ser apresentados pela acusação.

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