25 de Abril: um flash mob nas Portas de Brandeburgo para cantar Zeca Afonso
Pelo menos cerca de 30 portugueses vão juntar-se em Berlim para cantar Grândola, vila morena. Objectivo é que a gravação do momento seja divulgado no YouTube às 0h20 do dia 25.
Para assinalar os 50 anos do 25 de Abril de 1974, um grupo de portugueses vai juntar-se nas Portas de Brandeburgo, em Berlim, para cantar o clássico tema de Zeca Afonso Grândola, vila morena, num flash mob que será gravado. Dá-se o nome flash mob a um evento performativo em que uma multidão se junta de forma aparentemente espontânea num ambiente público e, numa "actuação" de curta duração, realiza algo inusitado antes de se dispersar.
A ideia, que está a ser levada a cabo pela Associação 2314 — que "visa promover a cultura portuguesa em Berlim" —, surgiu "em conversa com amigos" e foi ganhando força. A presidente, Helena Araújo, explica à Lusa que a organização tem sido algo complicada, mas a adesão "extremamente positiva".
"Experimentámos ensaiar com um grupo de amigos e percebemos que não cantávamos todos ao mesmo tempo nem no mesmo tom", confessa, entre risos.
Para avançar com o projecto de uma forma "mais adequada", foi lançado um convite a todas as pessoas da comunidade. Neste momento, o grupo é formado por cerca de 30 pessoas. "Depois é aberto a quem quiser participar. Há um grupo que ensaia previamente, mas, no próprio dia, quem quiser, inclusivamente alemães, pode aparecer por lá e cantar também", explica Helena Araújo.
O objectivo é que o vídeo seja divulgado no YouTube a 25 de Abril às 0h20, repetindo, 50 anos depois, a hora da emissão desta senha na Rádio Renascença.
A escolha do local, as Portas de Brandeburgo, foi "intuitiva, automática", partilha a presidente da Associação 2314. "Ninguém pensou duas vezes."
"Somos portugueses que estamos na Alemanha e o símbolo da Alemanha, aquilo que todos identificam como alemão, é a Porta de Brandeburgo. (...) E depois a Alemanha também foi muito importante na nossa revolução. O Partido Socialista foi criado com grande apoio da Alemanha. Penso que faz todo o sentido 'inscrever' a Grândola, vila morena nas Portas de Brandeburgo", realça.
Helena Araújo garante que os participantes no flash mob estão preparados para todas as perguntas de por quem lá passe e a responder simpaticamente. "Ou não fossemos nós portugueses", diz.
"Qualquer pessoa que está lá sabe explicar o que é. A maior parte dos alemães das gerações mais velhas também vão perceber imediatamente o que é, porque a Revolução dos Cravos foi muitíssimo importante na Alemanha. Houve imensas pessoas, sobretudo os mais jovens, que quando souberam que estava a haver uma revolução na Europa largaram tudo e foram para lá. (...) Com sorte, acredito que isto vai ser também uma festa para os berlinenses que assistem ao flash mob", afirma.
Além do flash mob, a associação organiza, no dia 28 de Abril, uma "Festa da Liberdade", com uma exposição, a exibição de vários filmes, um debate com testemunhas da época, um concerto de música de intervenção, convívio com gastronomia portuguesa e um programa para crianças que inclui um atelier de trabalhos manuais para fazerem cravos vermelhos.
"É preciso passar a ideia, e vamos tentar fazer isso na nossa festa, de que viver em liberdade é uma festa e conquistar a liberdade foi uma festa, e acho importante passar esse testemunho aos mais jovens", salienta.
Helena Araújo espera um público "muito misturado". "Há as pessoas que querem oferecer alguma coisa para a festa, as pessoas que querem fazer a festa com os outros portugueses, e depois há todos os alemães e berlinenses de todas as nacionalidades que vão ver os cartazes da exposição sobre o 25 de Abril que decorre nesse edifício e participar na festa", aponta.
Além destas duas iniciativas, a Associação 2314 organizou ainda, pela primeira vez, um evento sobre a ditadura portuguesa que "levou Berlim a Lisboa", com o escritor berlinense de origem russa Wladimir Kaminer.
A 2314 associa-se à iniciativa do Willi Münzenber Forum, que organiza uma exposição sobre o 25 de Abril, a partir do espólio do jornalista da RDA Klaus Steiniger, que foi viver para Portugal poucos dias após a revolução. No Outono decorre, como tem sido hábito, o ciclo de cinema Portuguese Cinema Days, com os filmes escolhidos centrados nos temas da ditadura, do colonialismo e da revolução. com PÚBLICO