São os deputados de esquerda que mais defendem o ambiente no Parlamento Europeu, diz relatório

O PSD e CDS-PP estão entre as formações com uma visão mais “pré-histórica”, diz relatório de cinco das maiores organizações ambientalistas europeias. BE e PS com bons resultados, PCP nem por isso.

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Votação no Parlamento Europeu JULIEN WARNAND/EPA
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Só uma minoria dos eurodeputados, aqueles à esquerda no espectro político, agiu para proteger o clima e a natureza e reduzir a poluição na União Europeia durante a actual legislatura (de 2019 a 2024), conclui uma análise feita por cinco das maiores organizações ambientalistas europeias. O PSD e o CDS-PP, que ganharam as eleições legislativas em Portugal, encontram-se no palco europeu entre os “pensadores pré-históricos”.

Estes dinossauros da protecção ambiental são descritos como aqueles que “falham completamente no apoio às iniciativas que visam fortalecer a capacidade da UE para enfrentar o desafio das crises que se colocam e, em vez disso, permanecem perigosamente em negação”, diz o relatório, que será apresentado nesta segunda-feira, mas ao qual o Azul teve acesso antecipado.

O relatório elaborado pela BirdLife Europe, a Climate Action Network Europe, o European Environmental Bureau, a Transport & Environment e o Gabinete de Política Europeia da WWF mostra que os “pensadores pré-históricos” coincidem com a direita no Parlamento Europeu, diz um comunicado de imprensa divulgado pelas associações ambientalistas portuguesas Zero, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, e Geota, que participam no projecto.

Quando se une, a direita consegue derrotar propostas legislativas como a redução do uso dos pesticidas, como em Novembro de 2023, por exemplo. Mas há exemplos de verdadeiras guerras legislativas, que, apesar de muitas concessões, foram ganhas pelas forças mais progressistas, como foi o caso da lei do restauro da natureza, finalmente aprovada em Fevereiro, ainda que tenha ficado novamente em suspenso em Março.

“Nas próximas eleições europeias, os cidadãos de toda a Europa têm uma oportunidade crucial de orientar o nosso continente para um futuro que dê prioridade à saúde, seja livre de substâncias tóxicas e encare o desafio urgente da crise de poluição que enfrentamos. O Barómetro do Parlamento Europeu ajudará a descobrir quais os partidos políticos que defendem o Pacto Ecológico e dão prioridade ao bem-estar das pessoas e do planeta”, afirmou Faustine Bas-Defossez, director para a Natureza, a Saúde e o Ambiente do European Environmental Bureau, citado num comunicado de imprensa da Zero. O que as sondagens dizem é que as forças mais extremas à direita e eurocépticas podem ter a maioria nas próximas eleições, em Junho.

Neste relatório foi analisada a forma como votou cada membro do Parlamento Europeu e também o padrão de votação de cada partido nacional em 30 pacotes legislativos, em áreas determinantes da legislação para o clima, energia e ambiental. Cada deputado ou partido recebeu uma pontuação entre 0 (não alinhado) e 100 (alinhamento total), com base numa comparação dos seus votos e da posição pública da sua formação política, diz o documento.

É desta forma que o Partido Popular Europeu, o maior grupo parlamentar (176 deputados) consegue apenas 25 num total de 100 pontos possíveis. O PSD tem 27 pontos, ligeiramente acima da média para o seu grupo parlamentar, e o CDS-PP tem 20, abaixo da média.

Dos “pré-históricos” fazem parte ainda as forças mais extremistas à direita: o grupo parlamentar Conservadores e Reformistas Europeus (10 pontos em 100), que integra por exemplo o partido de extrema-direita Democratas Suecos ou o espanhol Vox; bem como o grupo Identidade e Democracia (seis em 100), onde está representada a Alternativa para a Alemanha, um partido negacionista das alterações climáticas.

Bloco em primeiro lugar

Francisco Guerreiro, deputado eleito pelo PAN e inserido no grupo parlamentar dos Verdes-Aliança Livre Europeia, é desde há alguns anos deputado independente, pelo que a sua votação foi apenas considerada para o resultado do grupo europeu a que pertence, e não na análise nacional. "Foi uma decisão tomada ao nível da coordenação europeia do estudo", explicou Susana Fonseca, do Zero. De qualquer forma, o seu resultado individual foi de 99 pontos em 100, acrescentou.

O Bloco de Esquerda e o Partido Socialista conseguem estar ambos no lote dos “protectores” – aqueles que têm correspondido à urgência de agir para proteger a natureza e o clima e lutar contra a poluição, políticas apoiadas pela maioria dos cidadãos europeus, na definição usada no relatório.

Sendo membro do Grupo da Esquerda no Parlamento Europeu (e não dos Verdes, como o Azul escreveu), o Bloco obteve 91 pontos em 100, o que fica bem acima da média do seu grupo (84); o PS, membro da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, conseguiu 79 em 100. Para o PS, é também um bom resultado, nove pontos acima da média do seu grupo.

O PCP faz também parte do grupo parlamentar da Esquerda, mas tem um resultado abaixo da média e inclui-se noutra categoria: a dos que vão adiando as decisões, os “procrastinadores”, que votam de forma “irregular e inconsistente”. O PCP obteve 67 pontos em 100, o que ainda assim o coloca bem acima do resultado médio do grupo Renovar a Europa (liberais), que encaixa redondamente nesta categoria (com 56 em 100).

Os partidos portugueses mantiveram sempre a mesma ordem decrescente de apoio a medidas para proteger o clima e a natureza e controlar a poluição: BE, PS, PCP, PSD e CDS-PP.

“Em muitos países europeus, a protecção do ambiente seria muito reduzida sem a UE. Os resultados das eleições mostram que alguns partidos foram menos virados para o futuro, votando para manter artificialmente vivos os transportes e a energia sujos e poluentes. As eleições [para o Parlamento Europeu de 9] de Junho vão determinar quem vai mandar na Europa até 2029. Não podemos dar o progresso por garantido”, sublinhou William Todts, director executivo da Transport & Environment, citado no comunicado de imprensa da Zero.

“As sondagens de opinião mostram sistematicamente que os europeus se preocupam com a natureza e que querem vê-la restaurada, a par da luta contra a crise climática, mas, se isso acontece ou não, depende das pessoas que escolhem para os representar no Parlamento Europeu”, afirmou Ariel Brunner, director da BirdLife Europe, citado no comunicado. Algo em que pensar nas próximas eleições.

Notícia alterada às 12h10: incluída informação sobre o eurodeputado Francisco Guerreiro, atribuída autoria do comunicado a mais organizações ambientalistas portuguesas, e corrigida a inclusão do Bloco de Esquerda no grupo parlamentar dos Verdes. O grupo correcto é o da Esquerda