Irão e Israel, cronologia de décadas de inimizade
No sábado, pela primeira vez, o Irão lançou um ataque directo a partir do seu território contra Israel.
Durante décadas, desde a revolução islâmica no Irão, em 1979, Israel e o Irão travaram uma guerra na sombra em todo o Médio Oriente, com ataques clandestinos por terra, mar, ar e no ciberespaço. Ao longo dos anos, enquanto o Irão foi utilizando com frequência representantes estrangeiros, como a milícia Hezbollah no Líbano, para atacar os interesses israelitas, a estratégia de Israel passou fundamentalmente por assassinatos selectivos de líderes militares e cientistas nucleares iranianos.
A tensão foi escalando até que, no sábado, pela primeira vez, o Irão lançou um ataque directo a partir do seu território a Israel, um “evento histórico”, segundo Ahron Bregman, cientista político e especialista em questões de segurança do Médio Oriente no King’s College (Londres), citado pelo The New York Times, que recorda alguns episódios do conflito:
Agosto de 2019: Um ataque aéreo israelita mata dois militantes treinados pelo Irão na Síria e outro ataque aéreo em Qaim (Iraque) vitima um comandante de uma milícia iraquiana apoiada pelo Irão. Israel acusa o Irão de tentar estabelecer uma linha terrestre de fornecimento de armas através do Iraque e do Norte da Síria até ao Líbano.
Janeiro de 2020: O assassinato do major-general Qassem Soleimani – comandante do braço estrangeiro do corpo dos Guardas da Revolução, a força de elite do regime iraniano –, num ataque com um drone norte-americano em Bagdad, foi recebido com satisfação em Israel. O Irão reage através de um ataque com mísseis a duas bases no Iraque que albergavam tropas norte-americanas, ferindo cerca de uma centena de militares dos EUA.
Julho de 2021: Um petroleiro administrado por uma empresa de navegação israelita é atacado na costa de Omã, causando a morte de dois tripulantes. Representantes israelitas afirmam que o ataque teria sido efectuado por drones iranianos. O Irão não reivindica nem nega explicitamente a responsabilidade, mas um canal de televisão estatal descreve o ataque como uma resposta a um ataque israelita na Síria.
Novembro de 2021: O Irão culpa Israel pelo assassinato de Mohsen Fakhrizadeh, que os serviços de inteligência ocidentais consideram ser o principal cientista nuclear iraniano.
Maio de 2022: Assassinato de um comandante dos Guardas da Revolução, o coronel Sayad Khodayee.
Dezembro de 2023: As milícias apoiadas pelo Irão intensificam os seus ataques na sequência dos bombardeamentos de Gaza por Israel em resposta aos ataques liderados pelo Hamas a 7 de Outubro de 2023. Em Dezembro, o Irão acusa Israel da morte do general Sayyed Razi Mousavi, conselheiro sénior dos Guardas da Revolução, num ataque com mísseis na Síria.
Janeiro de 2024: Uma explosão num subúrbio de Beirute (Líbano) vitima Saleh al-Arouri, um líder do Hamas, juntamente com dois comandantes do braço armado desse grupo, naquele que é o primeiro assassinato de um alto funcionário do Hamas fora da Cisjordânia e de Gaza em anos recentes. Autoridades do Hamas, do Líbano e dos Estados Unidos atribuem o ataque a Israel, que não confirma o envolvimento.
Março de 2024: Um drone israelita atinge um carro no Sul do Líbano, matando pelo menos uma pessoa, que o Exército de Israel diz tratar-se do vice-comandante da unidade de rockets e mísseis do Hezbollah. No mesmo dia, ataques aéreos perto de Alepo, no Norte da Síria, vitimam 36 soldados sírios, sete combatentes do Hezbollah e um sírio de uma milícia pró-Irão, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
Abril de 2024: A 1 de Abril, um ataque atribuído a Israel (mas não reivindicado oficialmente) destrói o complexo do consulado iraniano em Damasco, matando 13 iranianos, incluindo dois generais dos Guardas da Revolução. O facto de se tratar de uma representação diplomática leva o Irão a considerar que tinha sofrido um ataque contra o seu território. Como retaliação, a 13 de Abril, o Irão lança um ataque com mísseis e drones a partir do seu território contra Israel.