João Caetano: na globalização, “é importante manter uma matriz tradicional”

Músico sediado em Londres, João Caetano prossegue num novo EP o seu trabalho de revitalização da música portuguesa. Estreia-o ao vivo esta segunda-feira em Lisboa, no Teatro Maria Matos, às 21h.

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João Caetano em concerto JOANNA CORREIA
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Desde há mais de dez anos que o cantor e compositor João Caetano, sediado em Londres e membro da banda britânica Incognito, começou a trabalhar em paralelo num projecto a solo onde tem vindo a explorar sonoridades em torno da música portuguesa, do cancioneiro tradicional ao fado. Fê-lo primeiro num EP homónimo, João Caetano (2015), que estreou no Museu do Oriente, em Lisboa, seguindo-se o álbum Rhythm & Fado (2019). Em Janeiro deste ano, anunciou um novo EP, a que deu o título Cada Vez Mais. Publicou-o em Março e vai apresentá-lo ao vivo esta segunda-feira no Teatro Maria Matos, em Lisboa, às 21h, antes de rumar a Bilbau, no País Basco, para um concerto na Sala BBK, a 2 de Maio, num ciclo que contará também com Carminho e Cristina Branco.

Este novo disco é, em grande parte, uma homenagem a Paulo Abreu de Lima (1952-2021), autor de três letras das canções nele incluídas, como diz ao PÚBLICO João Caetano, nas vésperas do concerto em Lisboa: “Há uma vontade muito grande de lembrar o poeta que acreditou em mim e no meu trabalho desde o início e que infelizmente faleceu de cancro. Este EP é bastante visual e mostra bem em que fase estou e a forma como sinto a música portuguesa, o fado e o jazz misturado com world music, com influências da tabla da música indiana e do gypsy jazz. No fundo, é tentar marcar aqui uma identidade particular que tenho vindo a desenvolver ao longo dos últimos seis anos.”

As letras assinadas por Paulo Abreu de Lima são as de A tua ausência, Saudades de ti e Cada vez mais, o tema-título, todas com música de João Caetano. As restantes são Silk road, composta por João Caetano, Aref Durvesh e André Dias; e o Fado loucura, um fado tradicional de Joaquim Frederico de Brito com letra de Júlio Campo Sousa, aqui numa versão só voz e percussões. O título do disco, Cada vez mais, além do significado intrínseco à letra assinada por Paulo de Abreu Lima, tem ainda outro: “Quer dizer que cada vez mais sei e percebo o caminho que estou a fazer. Cada vez mais gosto daquilo que construí e entendo a importância do que faço. Cada vez mais é importante manter uma matriz tradicional e regional muito forte. Porque vivemos numa fase de globalização muito grande e os projectos com essa matriz são os que têm maior identidade significado.”

No concerto do Maria Matos, João Caetano (voz, bateria e percussão) vai ter consigo Pity no baixo (Pity é director musical de Bárbara Tinoco e toca também com os Black Mamba), Inês Vaz no acordeão, André Dias e Rui Poço na guitarra portuguesa, Gileno Santana no trompete e Bernardo Viana na viola.

O alinhamento, diz, será “uma viagem”: “Desde a estética mais reduzida à guitarra portuguesa e aos bombos até à banda inteira a tocar, com todos os músicos a terem espaço para solos, contribuindo com a sua própria voz e identidade. Os meus concertos têm sempre essa mistura dos vários trabalhos que vou fazendo e que depois são conectados com os músicos que estão comigo no dia do concerto.”

O lado visual do concerto é outra das suas apostas e preocupações: “Dou muita importância, mesmo num espaço pequeno, à parte visual, à intimidade das luzes e à dramatização à volta da música. Tanto a distribuição dos músicos em palco como as cores do concerto e tudo o que o rodeia têm relevo e estou certo de que quem lá for não se vai esquecer.”

Sediado em Londres, mas a viver temporadas em Portugal nos últimos anos, João Caetano nasceu em Macau, filho de pais portugueses. Estudou música em Inglaterra e passou a fazer parte da banda britânica Incognito, que integra há 15 anos, depois de tocar com nomes como Leona Lewis, Jesse J, Dionne Bromfield e, mais tarde, Chaka Khan. Até que um dia, devido às suas raízes e por ter começado a tocar percussão desde pequeno, quando ouvia todo o tipo de música portuguesa (“Desde Amália a Zeca Afonso, passando por António Variações, Dulce Pontes, Sérgio Godinho, Vitorino, Rui Veloso”, conforme disse numa entrevista ao PÚBLICO em 2016), João Caetano resolveu empenhar-se num projecto mais ligado às raízes portuguesas. Cada Vez Mais é o corolário desse seu empenhado trabalho a solo.

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