O filme dos ratinhos de laboratório

A investigação científica com uso de animais sempre foi (e talvez será) “um filme”. A questão é se os espectadores querem continuar nas curtas-metragens a preto e branco ou se preferem filmes a cores.

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O rato Wistar e o ratinho C57BL6/J são os protagonistas de muitos laboratórios de investigação e isso tem não uma, mas várias explicações concretas. Estes animais partilham muitas semelhanças com os humanos, como a sua fisiologia, anatomia e genética.

Isto permite que ocorra avanço no conhecimento de diversas áreas na saúde, possibilitando, por exemplo, o desenvolvimento e a validação de vacinas para doenças como a hepatite, a meningite ou o tétano. Além disso, permite progresso tecnológico como a produção de novos medicamentos, o treino de técnicas de cirurgias ou diagnóstico de tantas outras doenças que nos afetam a nós, humanos.

No entanto, para que este desenvolvimento ocorra, os cientistas têm de recorrer aos animais de laboratório, sendo os mais comuns os ratos/ratinhos. Só após percebermos o porquê da existência destes animais nos laboratórios de investigação é que podemos criar a narração para este filme sobre ratinhos de laboratório.

Esta história tem início antes de Cristo, com o tão reconhecido Aristóteles a correlacionar o aspeto de órgãos animais a órgãos humanos. O enredo evoluiu desta simples comparação ao teste e verificação de hipóteses tão complexas como as referidas acima e, nos dias de hoje, temos medicamentos que nos tiram dores de cabeça e tratamentos para doenças cardiovasculares graças à válida utilização de animais durante a fase de investigação. É este o propósito da utilização dos animais na ciência.

O filme não é dramático como muitas vezes o criam e não deve manter-se a preto e branco com ideias obsoletas. Hoje, temos conhecimento e provas da importância destes animais na ciência e por isso podemos transformar estes filmes em histórias verídicas, a cores.

Para que exista experimentação animal, tem obrigatoriamente de existir primeiro uma aprovação ética. Assim, todos os cientistas descrevem o projeto ao detalhe, explicando cada procedimento que será feito nos animais, o objetivo de cada experiência e os novos resultados que se esperam obter. Este documento é avaliado por uma comissão de ética, que analisa o cumprimento de leis, normas e regulamentos aplicados no projeto (sim, a utilização de animais nos laboratórios não é feita à maluca, mesmo os cientistas tendo essa fama!).

Além disso, leem detalhadamente e questionam caso haja informação não clara. Este procedimento pode demorar meses a anos e só depois da avaliação positiva é que as experiências podem ser realizadas. Durante esta realização, existe monitorização por parte de veterinários e outros elementos da comissão de ética, que visam o cumprimento do descrito anteriormente. No final, todos os resultados e conclusões geradas têm de ser partilhadas com a comunidade científica e não científica para que assim se faça jus aos animais sacrificados pelo progresso.

Este é um filme longo que, apesar de ainda estar em construção, já está também em exibição e talvez por essa razão haja avaliações tão contraditórias. São estas avaliações que estão, ainda atualmente, a fazer deste filme um drama ficcional criando uma ilusão errada da realidade.

Fazendo uma sinopse para os leitores daquilo que é a realidade: a utilização de animais nos laboratórios não é feita porque os cientistas o querem, é feita porque a humanidade o necessita. Esta utilização de animais não é um usar de forma desmedida, é uma válida utilização que segue regras, normas e leis éticas. As experiências não são descontroladas, são tal qual como seriam (e talvez serão no futuro) feitas no Homem. A vida destes animais não é preenchida de dor e sofrimento, é sim completa de cuidado e atenção, muitas vezes ao milésimo de segundo. A morte destes animais não segue a lei da dor, segue tantas outras normas que visam a diminuição ao nulo sofrimento dos animais.

Para que tudo isto se torne ainda mais real, o ideal será “ver pelos próprios olhos” e por isso os institutos de investigação devem abrir as suas portas (de forma controlada porque até a pressão e temperatura são controladas nestes laboratórios) à sociedade. Os laboratórios devem aumentar a sua transparência e os cientistas a sua comunicação, mostrando como está a ser feita atualmente a investigação animal.

Deixo o desafio a todos os cientistas que partilhem as suas histórias! Divulguem os progressos que estão a fazer com estes ratinhos de laboratório para que assim se perca a atual dramatização irreal sobre experimentação animal. Após esta informação e compreensão, convido os espectadores a passarem a cineastas e construírem eles mesmos o filme dos ratinhos de laboratório, espero que agora verídico e a cores, como uma excelente película científica deve ser.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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