Frescos inspirados na Guerra de Tróia encontrados em Pompeia

Estão entre os mais bem conservados alguma vez encontrados no parque arqueológico da famosa cidade romana destruída pela erupção do Vesúvio.

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Apólo e Cassandra num dos frescos agora descobertos no Parque Arqueológico de Pompeia Reuters
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Outro dos frescos agora descobertos no Parque Arqueológico de Pompeia Reuters
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A vista da sala onde estão os frescos no Parque Arqueológico de Pompeia Reuters
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Outro dos frescos agora descobertos no Parque Arqueológico de Pompeia Reuters
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Pormenor de um dos frescos descobertos no Parque Arqueológico de Pompeia Reuters
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Uma sala de jantar com paredes negras onde se destacam frescos com personagens mitológicas e temas inspirados na Guerra de Tróia é uma das descobertas que resultaram das escavações que têm vindo a ser feitas no Parque Arqueológico de Pompeia, a famosa cidade romana simultaneamente destruída e conservada pela erupção do Vesúvio no ano de 79. Um documentário está a ser preparado pela BBC e Lion TV.

A sacerdotisa Cassandra, a filha do rei de Tróia Príamo, e o deus Apolo apoiado numa lira estão representados num dos frescos agora descobertos e divulgados no site do Parque Arqueológico de Pompeia. Numa parede oposta, estão pintados Helena de Tróia e o príncipe Páris, indicados "numa inscrição grega colocada entre as duas figuras com o seu outro nome 'Alexandros'".

Com cerca de quinze metros de comprimento e seis de largura, esta sala que tem mosaico branco abre-se para um pátio, sem tecto, que parece dar acesso - através de uma longa escadaria - ao primeiro andar da residência.

Por baixo dos arcos da escadaria foram encontrados materiais de construção amontoados. Dois pares de gladiadores estão desenhados a carvão e o que parece ser um enorme falo estilizado aparece no reboco. Há também uma parede com uma pintura que representa Aquiles em Skyros.

Esta escavação, iniciada em 2023 na ínsula 10 da área IX deste parque arqueológico em Itália, necessária para o melhoramento do traçado hidrogeológico do planalto, pôs a descoberto, até agora, duas habitações interligadas, uma casa com uma padaria e uma fullonica (lavandaria) viradas para a Via di Nola, segundo o comunicado, que remete para um artigo publicado no E-Journal degli Scavi di Pompei.

As fachadas dos edifícios já tinham sido postas a descoberto no final do século XIX, e o que se conhece agora são as traseiras destas casas. Também se sabe agora que na altura da erupção vulcânica estavam a ser renovadas e restauradas, há material de construção demolido empilhado em todas as divisões investigadas pelos arqueólogos.

Esta presença frequente de figuras mitológicas nas pinturas das salas de estar e de jantar das casas romanas tinha uma função social e servia para entreter os convidados à mesa. "As paredes eram pintadas de preto para evitar que o fumo das lucernas se visse nas paredes. As pessoas encontravam-se para jantar depois do pôr do sol; a luz trémula fazia com que as imagens parecessem mover-se, sobretudo depois de alguns copos de bom vinho da Campânia", explica no comunicado o director do Parque Arqueológico de Pompeia, Gabriel Zuchtriegel.

A representação destes casais mitológicos só aparentemente tem um carácter romântico. “Na realidade, [os frescos] referem-se à relação entre o indivíduo e o destino: Cassandra é aquela que vê o futuro, mas ninguém acredita nela; Apolo é aquele que está do lado dos troianos contra os invasores gregos, mas sendo um deus, não pode garantir a vitória”, acrescenta no comunicado o director do parque arqueológico.

O tema dominante parece ser "o do heroísmo, patente nas representações de pares de heróis e divindades envolvidos na Guerra de Tróia", refere o mesmo comunicado, mas também o do destino e a possibilidade que o ser humano tem de o mudar. Por isso a representação num dos frescos de Helena e Páris. "Apesar de o seu caso de amor ser politicamente incorrecto, Helena e Páris são a causa da guerra ou talvez apenas um pretexto. Quem sabe? Hoje em dia, Helena e Páris representam-nos a todos", lembra Gabriel Zuchtriegel. "Todos os dias podemos escolher se nos queremos concentrar apenas na nossa vida privada ou se exploramos a forma como ela está ligada à história em geral, pensando, por exemplo, não só na guerra e na política, mas também no ambiente que estamos a criar na nossa sociedade, ao comunicar uns com os outros através das redes sociais."

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