Português condenado a cinco anos de prisão por incitação à subversão em Hong Kong

Juiz considerou que Joseph John fez parte de “perigosa conspiração” para “separar Hong Kong da China” e “mudar de forma violenta o regime político” da cidade. John está detido desde Outubro de 2022.

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Juiz condenou Joseph John à pena mínima por incitação à subversão, um crime cuja pena máxima é de 10 anos REUTERS/POOL
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A justiça de Hong Kong condenou esta quinta-feira, 11 de Abril, o português Joseph John a cinco anos de prisão pelo crime de incitação à subversão, no primeiro caso de segurança nacional a envolver um arguido com dupla nacionalidade.

No tribunal do distrito de Wanchai, o juiz Ernest Lin Kam Hung considerou que Joseph John fez parte de “uma perigosa conspiração” para “separar Hong Kong da China” e “mudar de forma violenta o regime político” da cidade.

Ainda assim, o juiz condenou Joseph John à pena mínima por incitação à subversão, um crime cuja pena máxima é de 10 anos, porque o português cooperou com a polícia ao partilhar a palavra-passe do telemóvel.

Joseph John está detido desde o final de Outubro de 2022 e, após a leitura da sentença, a defesa confirmou à Lusa que o período de prisão preventiva irá ser incluído no cumprimento da pena, pelo que o arguido poderá sair em liberdade no final de 2027.

A acusação tinha pedido uma pena mais pesada, recordando que o funcionário do Royal College of Music, no Reino Unido, voltou para visitar a mãe, que estava doente, e não para se entregar, tendo usado o passaporte português, em vez do cartão de residente permanente de Hong Kong, para não ser detectado.

O juiz sublinhou que no passaporte de Joseph John, nascido em Hong Kong, o local de nascimento aparece como sendo no Reino Unido, e levantou a possibilidade de o arguido ter mentido às autoridades portuguesas.

Entre Julho de 2020 e Novembro de 2022, Joseph John fez 42 publicações nos perfis em redes sociais e na página da internet do Partido para a Independência de Hong Kong (HKIP, na sigla em inglês), dos quais era um dos administradores.

A organização foi fundada no Reino Unido em 2015, mas a comissão eleitoral britânica revogou o estatuto de partido político em 2018. Nas publicações, Joseph John lançou “uma campanha de angariação de fundos para despesas militares”, referiu a acusação.

O arguido pediu a Londres para declarar que a China estaria a "ocupar ilegalmente" Hong Kong, assim como apelou ao Reino Unido e aos Estados Unidos para enviarem tropas para a antiga colónia britânica, cujo controlo passou para Pequim em 1997.

Joseph John defendeu também “uma invasão” da cidade vizinha de Shenzhen, para libertar 12 activistas pró-democracia de Hong Kong, acusados de "travessia ilegal" das águas da China continental, grupo que incluía Kok Tsz-Lun, com dupla nacionalidade portuguesa e chinesa.

O juiz disse que as publicações “não foram um mero exercício da liberdade de expressão, mas assim um apelo a acções criminais”, que podiam ter convencido os mil seguidores do HKIP nas redes sociais “que o movimento independentista de Hong Kong tinha apoio do exterior”.

Ernest Lin é um dos juízes nomeados pelo governo de Hong Kong para lidar com casos ligados à lei de segurança nacional promulgada em 2020 por Pequim, para pôr fim à dissidência na região semi-automática chinesa.

Na sessão esteve presente o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Alexandre Leitão, e um representante da Delegação da União Europeia em Hong Kong.

Joseph John, também conhecido como Wong Kin Chung, terá pedido um salvo-conduto para deslocação ao interior da China. A China não reconhece a dupla nacionalidade e só atribui o salvo-conduto a pessoas de etnia chinesa, considerando que este documento serve como reconhecimento da nacionalidade chinesa.