Os astrónomos desvendam o mistério da nebulosa Ovo de Dragão

A resolução do mistério da nebulosa Ovo de Dragão remete para o fratricídio estelar, diz a equipa de cientistas que estudou esta nebulosa situada na nossa galáxia, a cerca de 3700 anos-luz da Terra.

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Imagem da nebulosa Ovo do Dragão, que foi divulgada com o estudo ESO
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Duas grandes estrelas que se encontram no interior de uma espectacular nuvem de gás e poeira, apelidada de nebulosa Ovo de Dragão, representam um quebra-cabeças para os astrónomos. Uma das estrelas tem um campo magnético, tal como o nosso Sol, mas a sua companheira não tem. E estrelas tão maciças não são normalmente associadas a nebulosas.

Os investigadores parecem agora ter resolvido este mistério, explicando também como é que as relativamente poucas estrelas maciças que são magnéticas acabaram por ficar assim. A culpa é do fratricídio estelar, dizem os cientistas. Neste caso, a estrela maior engoliu aparentemente uma estrela irmã mais pequena, e a mistura do seu material estelar durante esta aquisição hostil criou um campo magnético.

“Esta fusão foi provavelmente muito violenta. Quando duas estrelas se fundem, o material pode ser expelido, e isso provavelmente criou a nebulosa que vemos hoje", disse a astrónoma Abigail Frost, do Observatório Europeu do Sul (no Chile), que faz parte dos autores do estudo publicado nesta quinta-feira na revista Science.

As simulações computacionais previam anteriormente que a mistura de material estelar durante uma fusão deste tipo poderia criar um campo magnético na estrela nascida neste processo, que juntava duas estrelas.

“O nosso estudo é a prova observacional que confirma este cenário”, reforça o astrónomo Hugues Sana, da Universidade Católica de Lovaina (na Bélgica), também um dos autores do estudo, citado em comunicado do ESO.

Estas duas estrelas – gravitacionalmente ligadas uma à outra no que se chama um sistema binário –​ estão localizadas na nossa Via Láctea, a cerca de 3700 anos-luz da Terra, na constelação da Régua. Um ano-luz é a distância que a luz percorre num ano.

Os investigadores utilizaram nove anos de observações do Very Large Telescope, que o ESO (organização europeia de astronomia à qual Portugal pertence) tem no Monte Paranal, no Chile.

A estrela magnética é cerca de 30 vezes mais maciça do que o Sol e a sua companheira restante é cerca de 26,5 vezes mais maciça do que o Sol. Orbitam a uma distância uma da outra que varia entre sete e 60 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

“Uma bela estrutura”

A nebulosa Ovo do Dragão é assim chamada porque está localizado relativamente perto de um complexo maior de nebulosas chamado Dragões Combatentes de Altar. As estrelas dentro do Ovo do Dragão parecem ter surgido há quatro a seis milhões de anos como um sistema triplo – três estrelas nascidas ao mesmo tempo e gravitacionalmente ligadas.

Os dois membros mais interiores do sistema triplo incluíam uma estrela maior – talvez 25 a 30 vezes a massa do Sol – e uma mais pequena – talvez cinco a dez vezes a massa do Sol. A mais maciça evoluiu mais rapidamente do que a outra, com a sua camada exterior a engolir a estrela mais pequena e a desencadear uma explosão, que ejectou para o espaço o gás e a poeira que constituem a nebulosa, disseram os investigadores.

Isto ocorreu muito recentemente numa escala de tempo cósmica – há cerca de 7500 anos, com base na velocidade de expansão do material da nebulosa. É constituída principalmente por hidrogénio e hélio, mas também por uma quantidade invulgarmente grande de azoto, graças à fusão.

Muitas estrelas do tamanho do Sol geram campos magnéticos.

“Para estrelas de baixa massa como o nosso Sol, o aquecimento convectivo – como o movimento da água quente num radiador na sua casa – cria um movimento de material estelar. Isto, por sua vez, cria um efeito dinâmico que induz um campo magnético”, explicou Abigail Frost.

“No entanto, para as estrelas maciças – com uma massa superior a oito vezes a do nosso Sol – estão em jogo efeitos de aquecimento diferentes, pelo que a explicação da presença de campos magnéticos para este tipo de estrelas é mais complicada. Este cenário de fusão preenche todos os requisitos”, acrescentou Abigail Frost.

Sabe-se que cerca de 7% das estrelas maciças têm um campo magnético. A segunda estrela deste sistema binário, não envolvida na violenta fusão, já não tem um campo magnético.

Os campos magnéticos estelares armazenam imensas quantidades de energia. As tempestades magnéticas do Sol podem interagir com a atmosfera da Terra e criar as fantásticas auroras boreais do nosso planeta, mas também podem perturbar os sinais de rádio e os sistemas de navegação.

Uma imagem da nebulosa, que foi divulgada com o estudo, é visualmente impressionante. “A riqueza da física e da química em jogo deu origem a uma bela estrutura, considera Hugues Sana.

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