Líder Yanomami pede ajuda ao Papa para salvar o seu povo

O povo Yanomami tem sido invadido por garimpeiros há décadas. Kopenawa mencionou o envenenamento da água dos rios por mercúrio como uma das maiores ameaças à sua comunidade.

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Davi Kopenawa, em 2021, em Brasília Amanda Perobelli/REUTERS
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Davi Kopenawa, um líder do povo Yanomami no Brasil, encontrou-se com o Papa Francisco no Vaticano na quarta-feira, e pediu-lhe ajuda para conseguir expulsar os mineiros ilegais do seu território, na Amazónia, apoiando o Presidente Lula da Silva. "Pedi ao papa que apoiasse o Governo Lula, porque Lula precisa de amigos. Ele não vai conseguir fazer isso sozinho. Tem muita gente em volta dele, políticos que não querem que ele resolva", disse o líder indígena brasileiro aos jornalistas. "O Papa disse que vai falar com ele", acrescentou.

O povo Yanomami, cuja população se estima ser de cerca de 28.000 pessoas, vive na maior reserva indígena do Brasil, nos estados de Roraima e Amazonas (Norte), num território com a dimensão aproximada de Portugal. Apesar de muito inacessível e de não ser ali permitida a mineração, o território tem sido sucessivamente invadido por garimpeiros (mineiros) ilegais, que trazem violência e poluição fatal mortífera.

Uma das primeiras crises que Lula da Silva teve de enfrentar, ao tomar posse, em Janeiro de 2023, foi precisamente a da grave situação humanitária no território Yanomami, onde decretou uma situação de emergência de saúde pública.

Mas um ano depois de o Presidente Lula da Silva ter prometido tolerância zero em relação ao garimpo ilegal nas terras dos Yanomami, as autoridades ambientais alertam que o Brasil está a pôr em risco o progresso duramente conquistado no ano passado, quando cerca de 80% dos cerca de 20.000 garimpeiros foram expulsos da reserva.

Enquanto as Forças Armadas brasileiras diminuíram o apoio à repressão do Governo, os mineiros à procura de ouro voltaram, e estarão a fazer novas incursões na terra dos Yanomami.

Kopenawa, um xamã que co-fundou e preside a Associação Yanomami Hutukara, que luta pelos direitos indígenas e pela preservação da floresta amazónica, mencionou o envenenamento da água dos rios e nascentes por mercúrio — utilizado pelos garimpeiros ilegais para recolher o ouro — como uma das maiores ameaças à sua comunidade. O mercúrio é um metal pesado altamente tóxico, e pode causar alterações directas no sistema nervoso central, gerando problemas de ordem cognitiva e motora, perda de visão, além de implicações renais, cardíacas e no sistema reprodutor, de forma permanente.

O número de incêndios florestais está também a aumentar, pondo em causa a sobrevivência do povo Yanomami. A desflorestação para criação de gado e cultivo de soja representam outras ameaças.

O território Yanomami tem sido invadido por garimpeiros há décadas, mas as incursões destrutivas multiplicaram-se nos últimos anos, quando o anterior Presidente Jair Bolsonaro, de extrema-direita, desmantelou as protecções ambientais.

Lula, político de esquerda e Presidente eleito pela terceira vez, liderou um esforço para expulsar garimpeiros ilegais do território Yanomami. Em Janeiro, o seu Governo anunciou 1,2 mil milhões de reais (223 milhões de euros) de ajuda a esta comunidade indígena.

Francisco, que é natural da vizinha Argentina, fez da defesa do ambiente uma das pedras angulares do seu papado e condenou repetidamente a pilhagem dos recursos naturais na Amazónia e noutros locais.