A albufeira da barragem de Cedillo está de novo coberta pela planta invasora azolla

Esta planta invasora transformou quilómetros de água num extenso tapete verde. O curso do Tejo na fronteira com Portugal recebe uma intensa carga poluente de cidades espanholas.

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Imagem de arquivo da planta aquática invasora azolla no rio Tejo, em 2020 Nelson Garrido/ARQUIVO
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Tornou-se recorrente, pensa-se que desde 1982, o troço do rio Tejo entre as barragens de Alcântara e de Cedillo, em território espanhol, aparecer entre Abril e Maio, em grandes extensões da toalha líquida, coberto de uma quantidade maciça de azolla (Azolla filiculoides), um feto aquático nativo da América do Sul pertencente à família Salviniaceae que é parecido com a lentilha-de-água. São conhecidas as imagens da proliferação desta planta invasora, recolhidas em episódios anteriores, nomeadamente nos anos 2000, 2009, 2010, 2016 e 2020.

De novo, em Abril de 2024, a planta exótica mostrou uma capacidade enorme e célere de transformar um lençol de água em quilómetros de extensão num tapete primeiro verde, que depois será vermelho e, finalmente, cinza. Este fenómeno pode formar coberturas densas até 30 centímetros de espessura.

Quando a temperatura ambiente se adequa ao seu ressurgimento, a azolla cresce a uma taxa de até 15% ao dia, o que significa que pode duplicar a sua massa em seis dias. Para a combater, há um protocolo do projecto Life Invasep, que especifica estratégias de controlo/erradicação contra invasões biológicas num quadro de colaboração transfronteiriça entre Espanha e Portugal.

O documento acordado por Portugal e Espanha identifica as condições propícias à proliferação desta espécie invasora, quando as massas de água se encontram estagnadas e poluídas por fosfatos e nitratos, geralmente provenientes de resíduos agrícolas produzidos nas culturas intensivas e actividade pecuária. Das cidades de Madrid, Toledo, Talavera de la Reina e Cáceres são lançados no curso do Tejo enormes quantidades de águas residuais que reforçam a carga poluente que acaba concentrada nas barragens de Alcântara e Cedillo.

O desenvolvimento ideal da azolla ocorre quando a temperatura ambiente está entre os 18 e 28 graus Celsius. Quando as condições são menos favoráveis, são libertados esporos que germinarão quando o clima estiver mais favorável. Esta espécie “tem taxas de crescimento muito elevadas, podendo multiplicar a área invadida entre sete ea dez dias”, mas definha e morre abaixo de 7°C e acima de 42°C, refere um atlas de plantas invasoras. O feto aquático “pode libertar 130 milhões de unidades reprodutivas por metro quadrado” que irão germinar com grande probabilidade no ano seguinte, descreve o projecto da Life Invasep.

As manchas de vegetação que se formam na superfície das águas provocam uma diminuição da entrada de luz nas massas de água e fazem baixar o nível de oxigénio dissolvido na água, degradando ainda mais a sua qualidade e podem, em circunstâncias extremas, pôr em causa a sobrevivência das comunidades aquáticas e ribeirinhas, nomeadamente a fauna piscícola.

É o cenário que neste momento se receia que possa vir a ocorrer na barragem de Cedillo. No cais de Serradilla, de onde parte El Barco del Tajo, a embarcação que faz viagens turísticas e a ligação com a localidade portuguesa de Montalvão “voltou a deparar-se com dificuldades de navegação ao longo do rio” por força de mais um bloom. “A planta invasora prolifera e chega às represas de Cedillo e Alcântara”, relata o diário El Periódico Extremadura, na sua edição desta quinta-feira.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) refere que a azolla “poderá ter como destino a agricultura, como biofertilizante, em substituição dos fertilizantes químicos”. Este material vegetal pode também ser integrado nas rações para animais devido à sua riqueza em proteínas.

No entanto, as autoridades espanholas reconhecem a inutilidade da sua extracção. Por três razões: é difícil, ineficaz e muito caro.

Em 2015 foi elaborado o “Protocolo de prevenção, detecção precoce e erradicação e controlo da Azolla filiculoides” e, em Maio de 2016, face aos resultados que o documento apresentava sobre a presença e controlo da azolla no Tejo Internacional, foi solicitada à Comissão Europeia (CE) autorização para renunciar ao financiamento que fora aprovado para o desenvolvimento de técnicas de prevenção, controlo e erradicação das populações de fetos aquáticos no Tejo.

O pedido apresentado na CE concluía: “Não há meios eficazes para eliminar esta espécie sem utilizar meios químicos ou mecânicos que alterem e prejudiquem o ambiente natural e as espécies que habitam duas áreas protegidas e a Rede Natura 2000.” Bruxelas aceitou o pedido. E assim, periodicamente, irá assistir-se a episódios em que o troço do Tejo entre as barragens de Alcântara e Cedillo fica coberto por extensos mantos de azolla.

A população mais idosa de Mértola ainda se recorda do susto que apanhou, em Junho de 1993, quando uma planta nunca vista por aquelas bandas cobriu com denso manto de aspecto esverdeado o troço do rio mesmo em frente da vila histórica. Não lhe conheciam o nome, por isso chamavam-lhe apenas “algas”, mas estas tornaram-se um pesadelo, sobretudo para a faina pesqueira, porque incidia sobre as zonas onde o peixe era mais abundante.

A limpeza da azolla, que se dizia ser consequência da poluição vinda de Badajoz resultante de esgotos não tratados, foi feita por militares que permaneceram no local várias semanas. Desde então, a espécie invasora nunca mais apareceu até que, em Maio de 2018, a população deu conta de uma mancha de cor vermelha que cobria o curso de água na ribeira de Oeiras, muito próximo da confluência com o Guadiana. Foi dos últimos blooms registados em Portugal da infestante aquática, mas continua a temer-se a sua propagação no rio Tejo em território português.

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